A semana passou voando e hoje é sexta-feira.
O episódio da bebedeira de Brian se repetiu mais duas vezes, essa semana. Ele chegava por volta das três da manhã e eu suspeitava que não era só com bebidas que ele estava lidando, mas como nem ele e nem Scott queriam falar sobre, eu guardei as dúvidas para mim.
— Eu espero que na terça que vem, os simulados já estejam todos respondidos. Podem saindo, um beijo e um queijo – Pablo, meu professor do curso, diz nos dispensando. Nem ele aguenta mais a gente.
Toda terça e sexta-feira eu e o Hugo temos aula no pré-vestibular. Infelizmente, eu não nasci com uma inteligência excepcional, e nem ele, então fazemos o pré para dar um gás a mais nos estudos. A cada aula eu me sento cada vez menos preparada para enfrentar o Enem, ou neném, como gostamos de chamar.
Tenho medo de não passar logo esse ano. Claro que tem o ano que vem, sempre vamos ter o ano que vem, mas a pressão de passar assim que sair do Ensino Médio é imensa, tão grande que me esmaga a cada vez que eu escuto alguém perguntar coisas como "quando vão divulgar os locais da prova?" ou "você já leu o edital?", "já escolheu seu curso?". A única coisa que ainda me faz respirar fundo e continuar é...é, não tem nada, eu só sigo mesmo.
— Vamos? Brian veio buscar a gente. – Hugo me chama, indo para a frente do curso.
— Por que ele veio buscar a gente? – pergunto, já ficando desconfiada, mas Hugo dá de ombros, demonstrando não saber de nada.
O problema em questão é que desde que eu comecei a ser a babá da madrugada de Brian, eu me afastei. Eu não preciso ser nenhuma expert em drogas, para saber que o que Brian anda usando não é maconha. Só pela forma como ele fala, como os olhos dele ficam vidrados, eu sei que tem mais aí. A semelhança entre como Brian fica e o nosso pai ficava — e ainda fica — quando voltava da rua é quase idêntica.
Eu sempre soube que todos nós, sendo filhos de quem somos, teríamos tendência ao vício. Eu só não achei que fosse ter que lidar com um possível novo usuário tão cedo. Justo quando eu achei que estava deixando essa parcela da minha vida para trás.
— E aí, como foi hoje? – Brian pergunta assim que terminamos de nos ajeitar no carro.
— Foi uma merda, como sempre. Matemática é um cu, tudo que sai da boca do Grego eu não entendo. – Hugo desabafa e eu rio. Grego é como nosso professor de matemática é chamado, mas seu nome é Leonardo.
— Você está esquecendo a física, né? Porque, meu Deus, eu não entendo quase nada que sai da boca de Pablo. – Reclamo junto com ele, que concorda.
— Bem, é uma pena que vocês estejam tão cansados, porque eu tinha pensado em darmos uma passadinha no Dógão antes de irmos para casa. – Brian diz fingindo tristeza. Dógão é o nome do dono da hamburgueria que tem perto de casa. Abriu tem pouco menos de dois meses, mas sempre que dá nós pedimos algo de lá.
— A gente pode ligar, eu só quero ir para casa. – Falo, doida para ir para casa e deitar.
— Tá bom então – Brian diz e Hugo bufa.
— E a minha opinião? Não conta, né? Ninguém me ama mais. – Hugo dramatiza e eu reviro os olhos.
— Mano, não faz diferença passar lá ou pedir em casa, você vai comer de qualquer jeito – explico, o abraçando mesmo que ele não queira.
— Mas e o açaí? – Hugo pergunta ainda sem ceder.
— Puta que pariu, Hugo. Eu deixo você lá para você comprar esse bendito açaí e vou para casa com a Emily, melhorou? – Brian negocia deixando Hugo feliz
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Do Nosso Jeito - CONCLUÍDA
Teen Fiction"Se eu pudesse tirar essa dor de você eu tirava, mas não posso, infelizmente. Tudo o que posso fazer é te ajudar a criar novas boas lembranças, deixe-me fazer isso, Emily" 🍁 Sinopse inserida no livro ⚠ Este livro contém gatilhos relacionados a estu...