Capítulo 24

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Emily

Segunda-feira

O domingo foi um dia tão bom que acordo leve nessa segunda, esqueço dos problemas por pelo menos um momento, mas assim que piso dentro do Colégio Santa Clara, sei que tem algo de errado acontecendo.

Minha avó sempre diz que toda mulher é dona de um sexto sentido e acredito eu, que o meu seja saber quando alguém está na merda ou não. Não sei explicar como funciona, mas por exemplo, se eu estiver parada no ponto de ônibus cheio e se alguém estiver triste ali, eu vou saber. Quando se trata dos meus amigos, a sensação fica ainda mais forte, acho que isso se deve a intimidade.

— Alguém tá triste hoje. – aviso a Hugo, tirando o pirulito da boca, que me olha como se eu fosse de outro mundo

— Como você faz isso, em? É algum tipo de magia? – pergunta, metade brincando e metade falando sério

Dou de ombros, porque nem eu sei como funciona.

— Eu só sinto. – digo a verdade

Quando nos aproximamos mais dos nossos amigos, que estão sentados na cantina, olho para cada um, para saber se alguém realmente estava mal ou se é um alarme falso. Paro o olhar em Nina, sabendo que acertei, dá para saber que ela não está bem só pela postura dos ombros. Cumprimento todo mundo com um "bom dia" e me sento ao lado dela. E como quem não quer nada, passo os braços pelos seus ombros, a puxando para um abraço nada inocente.

— Desembucha, Nina. – falo sem rodeios e sinto ela enterrar o rosto no meu pescoço, tentando inutilmente prender o choro

— Detesto quando você faz isso, sabia? – resmunga com a voz abafada e eu nem me dou o trabalho de responder, só a aperto mais forte no abraço, deixando que chore

O som do choro abafado de Nina faz com que nossos amigos passem a prestar atenção na gente e eles começam a perguntar, sem som, o que aconteceu. Movo os lábios dando um "não sei" como resposta. Lara e Camila saem dos seus lugares na mesa, se aproximando da gente, Camila expulsa quase aos chutes o restante do grupo para fora da mesa, mandando eles irem para outro lugar. Alice fica parada no lugar dela, já que está sentada no lado direito de Nina.

— A gente vai ter que te ameaçar ou você vai começar a falar sozinha? – Lara pergunta, fazendo com que a chorona entre nós saía enfim da curva do meu pescoço

Vejo que molhou todo o ombro da minha blusa com as lágrimas e dou de ombros para mim mesma. Pelo menos está calor.

— Só tô cansada, gente, a pressão lá em casa tá altíssima. – reclama

— Por causa da facul e do Neném? — Alice pergunta e Nina assente — Lá em casa está sendo um inferno também, ainda mais que eu ainda não escolhi o que quero fazer.

Confiro a hora discretamente, ficando satisfeita ao perceber que ainda temos uns vinte minutos antes do sinal tocar.

— Minha mãe não para de dizer que eu não vou ter futuro se estudar dança. — Mila confidencia, com cara de triste — E eu ainda me fodo porque de universidade federal que tem o curso, só a UFRJ, ou seja, a mais difícil de todas.

— Artes cênicas só tem lá também. – Nina reclama, chateada

Entendo o medo delas, mas também sei que as chances de não passarem são mínimas, se elas não passarem na federal, os pais podem bancar uma faculdade particular. Fora que elas fazem cursinho desde o começo do Ensino Médio, eu só pude pagar por um ano de aulas.

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