Capítulo 61

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Emily

Salto do carro quando meu irmão estaciona em frente ao prédio onde minha mãe mora com Ágata, em Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro.

— Tem certeza que o convite da sua mãe se estendia a mim? – Hugo pergunta pela milésima vez, enquanto alisa a camisa azul marinho que está vestindo.

— O sol tá bom pra ir à praia – ignoro o que ele disse, mudando de assunto.

Ele olha para o céu, pensativo.

— Realmente, tá calor pra caralho. Não aguento mais suar.

Enquanto Hugo divaga sobre o sol, eu falo com o porteiro pelo interfone, pedindo que libere minha entrada, como é um funcionário novo, ele segue todo o protocolo de ligar para minha mãe, para que ela autorize minha subida.

Seguro no pulso do meu irmão quando o porteiro deixa que entremos e seguimos direto para o elevador.

— Tem certeza que...

— Sim, mano, eu tenho certeza que o convite se estende a você — digo, apertando o botão do 10° andar. — Eu juro que se você disser algo sobre isso mais alguma vez, eu te bato.

— Desculpa, eu só estou nervoso.

— Eu sei, mas vai dar tudo certo. Não é como se minha mãe fosse uma vilã de novela ou algo assim, eu acho.

Brinco, arrancando um sorriso de Hugo ao mesmo tempo em que as portas do elevador se abrem. Bato na porta que eu me lembro ser a do apartamento da minha mãe e espero.

Estou tentando ser confiante, mas sinto que posso vomitar a qualquer momento. Faz tanto, mas tanto tempo, que eu não entro nessa casa, que a sensação é de como se fosse a primeira vez.

Sinto Hugo me dar a mão, unindo nossos dedos. Ele faz carinho na minha mão, com o polegar, me acalmando. Aperto sua mão de volta, tentando sorrir.

— Se você chorar, eu juro que te bato – escuto meu irmão cochicha, brincalhão.

Não tenho tempo de responder antes da porta ser aberta, mostrando a figura esperta de Ágata. Puxo minha irmã para um abraço sufocante, mostrando o quanto eu senti a falta dela.

— Será que eu posso ganhar um abraço também? – Hugo pergunta, quando solto Ágata.

A mais nova corre para abraçá-lo e Hugo a tira do chão, rodopiando com ela no colo.

Minha mãe aparece na porta e parece retraída, apertando as mãos uma na outra.

Tomo iniciativa e passo meus braços pelos ombros dela, que amolece, me abraçando de volta. Engulo a emoção que é estar aqui, focando apenas em aproveitar o momento.

— Senti sua falta – Cecília confessa, com a voz abafada.

— Também senti sua falta, mãe.

Entramos no apartamento quando a sessão de abraços chega ao fim. O interior do apartamento continua a mesma coisa, com a exceção das almofadas, que antes eram verdes musgo para combinar com o sofá amarelo, e agora são vermelhas. O chão continua sendo de taco, as paredes da sala continuam pintadas de branco, com quadros e plantas enfeitando o ambiente.

Minha mãe nos guia para a sala de jantar, onde eu, Hugo e Ágata nos ocupamos em conversar, pondo a conversa em dia. Em determinado momento, deixo meus irmãos na mesa de madeira e vou para a cozinha.

— Cadê o meu pai? – a pergunta sai antes que eu consiga segurá-la e minha mãe se assusta com a minha súbita chegada.

— Desde quando se tornou tão silenciosa? Não tinha te visto aí! – ela diz, sem deixar de mexer a colher de pau dentro da panela.

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