Capítulo 22

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Emily

Cumprimento a funcionária no balcão e entro no elevador, apertando o botão do décimo andar. Entro no consultório sendo recebida pelo habitual silêncio. Sou sempre a última paciente de Mônica na quinta-feira, por isso, nunca tem ninguém na sala de espera quando chego.

— Cheguei! – me anuncio, entrando na sua sala de supetão, fazendo a psicóloga quase derrubar o tablet

— Por que você nunca bate na porta antes de entrar, em? – reclama enquanto se ajeita na sua poltrona

— Já sou de casa – digo, dando de ombros

Entrego a pasta rosa para ela.

— Então tá, vamos lá, por que não começa me contando como foi sua semana? – pergunta e eu assinto, me jogando em seu tapete felpudo e fingindo não ver seu olhar de desaprovação

Eu tinha quatorze anos quando comecei a me tratar com Mônica. Ela tinha acabado de sair da faculdade. Não tinha tanta experiência quanto outras psicólogas, mas foi a primeira a conseguir fazer com que eu me abrisse e desde então, a única.

Olho para as estrelas pintadas no teto, antes de começar a falar, conto sobre a ideia perfeita e brilhante que eu tive e de como o dia de hoje foi bom, conto da situação de merda com o Garret, conto da prova surpresa horrível de química, que eu tirei seis(ela diz que foi razoável, mesmo eu me queixando que seis é uma porcaria).

Termino de falar e espero para saber qual frase de psicóloga sairá da sua boca.

— Você acha que me engana? — indaga e eu abro meu melhor sorriso inocente — Conte sobre o dia de ontem também, mocinha. – manda e eu solto um suspiro derrotado, antes de contar os mínimos detalhes sobre o dia de ontem

— E você respondeu tudo o que o Oliver te perguntou? Porque na sua lista de metas de ontem está "Responder tudo o que me perguntarem". – Mônica me avalia, esperando pela minha resposta

— Bem... Dá para dizer que sim. — digo, sem muita convicção e ela arqueia uma sobrancelha para mim — Ele faz muitas perguntas, Mônica! Não dá para responder a tudo. – me defendo

— E por que não?

— Porque eu não quero que ele saiba. Não quero que ninguém saiba, já basta Alice e Camila saberem. Quero que me vejam pelo que sou agora. – argumento, agora me sentando no sofá e pegando a caixinha rosa de lenço que me estende

— E o que você é agora, Emily?

Tá aí uma pergunta que eu não sei responder.

O que eu sou agora?

— Não sei. Acho que ainda sou a mesma coisa. – digo por fim

A psicóloga anota algo em seu caderninho e volta a me olhar.

— Posso te dar um conselho? – pergunta e eu dou de ombros

— Você vai dá-los mesmo se eu disser que não.

— Você precisa entender que sempre será isso, Emily. — diz e eu sinto como se tivesse tomado um murro na cara, de tanto que dói ouvir. — Sempre será a filha de um viciado, ex-cantor da igreja e ex-líder de uma ONG, também sempre será a vítima de um quase estupro que engravidou e perdeu o bebê. Mas nunca será isso, essas coisas fazem parte de você, sempre vão fazer. Todo mundo carrega traumas, Emily. A vida é assim, mas é você, e só você, que escolhe se vai permanecer parada no tempo e sofrendo pelas coisas que seu pai ou Garret fizeram, em vez de viver a sua própria vida. Você pode ser tudo isso e também ser muito mais, você já é muito mais que isso, só não percebe. – termina, me fazendo chorar mais e me balançar como uma criança birrenta

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