Capítulo 26

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Emily

Me olho no espelho e tudo que eu vejo é: cansaço. Não dormi nada na noite passada, quando deu onze da noite, Brian ligou para mim, bêbado, pedindo para que eu fosse buscá-lo no bar da vez. Quando o relógio bateu meia-noite — feliz aniversário pra mim, uhul —, eu estava me certificando se meu irmão tinha deitado de uma forma confortável. Depois disso não consegui mais dormir, então parti para a cozinha e fiz biscoitos.

Sim, fiz biscoitos à meia-noite. Peguei uma cadeira de praia e me sentei no quintal para comê-los, sem olhar, ou pensar, em nada em específico.

Só voltei para dentro de casa quando vi o sol dar as caras. Ainda deu tempo de ouvir Scott chegando do trabalho, já que ele tinha virado a noite no consultório.

Primeiro de abril, meu aniversário e dia da mentira. De fato, às vezes até parece mentira.

Dezessete anos recém feitos com a sensação de já ter vivido muito mais do que realmente vivi. Me sinto tão velha e tão nova. Como uma criança em busca dos braços da mãe, esperando que ela a abrace e a console, dizendo que foi tudo um sonho e que está tudo bem. Que tudo não passou de um pesadelo e está tudo bem agora.

Tão inocente e tão "sabida". Do que isso vai me servir? Por enquanto só serviu para me tornar uma pessoa desconfiada, grossa, inquieta e ansiosa.

Suspiro para o meu reflexo, onde estão os nossos dias de glória, hum?, pergunto-me.

Desço as escadas ainda sem a blusa do colégio, sabendo que pelo menos dois dos meus irmãos já estão acordados, devido ao falatório.

— Você ainda não está pronta!

É a primeira coisa que escuto de Hugo assim que chego à cozinha. Quer achar meus irmãos? Procure na cozinha. No fundo, suspeito que seja o lugar predileto deles na casa inteira.

— É meu aniversário. – me defendo, como se ser meu aniversário fosse resposta suficiente, e de fato é mesmo.

— De fato. — Hugo concorda. Viu? — Pode entrar, Scott! – grita, se virando para a porta que dá para a varanda

Scott passa por ela, carregando nada menos do que um mini panetone, coberto com calda de chocolate e as velas "17", douradas com a borda lilás, acesas. Sorrio boba.

— Parabéns pra você... — Hugo começa batendo palmas.

Nem tento esconder a felicidade que vem, substituindo com sucesso a tristeza que estava se arrastando comigo.

"Parabéns pra você

Nessa data querida

Muitas felicidades

Muitos anos de vida"

— Faça um pedido! – Scott ordena pousando o doce na bancada.

Encaro as velinhas sem saber exatamente o que pedir. Quero dizer, eu quero muitas coisas, todo mundo quer muitas coisas, às vezes até coisas demais, e nem sempre o que nós queremos é o que nós precisamos.

Observo dois dos meus irmãos me olhando em expectativa e quando vejo Brian descendo as escadas, desorientado, escolho o que pedir.

Eu desejo que sejamos todos felizes. Não só eu, mas todos nós. Todos que eu conheço. Todos que eu amo.

Assopro as velas tentando não começar a chorar, coisa que Scott não conseguiu, já que mesmo sem olhá-lo, escuto ele fungando.

— Feliz aniversário, mana – o mais velho deseja.

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