OliverEu não sabia que falar sobre isso em voz alta para Emily traria tanto alívio e certeza para mim. Sou demisexual. Nada mais e nada menos. É tão bom finalmente saber o que eu sou e não ficar me sentindo um zero à esquerda ou defeituoso.
— Demisexual? — Emily repete, testando a palavra na língua.
Me calo, dando a ela tempo para absorver a informação. Eu mesmo precisei de algum tempo para entender e me aceitar dessa forma. É assustador pra caralho descobrir algo tão importante sobre si mesmo depois de tanto tempo de vida. Dezoito anos pode ser pouco comparado a outras pessoas, mas é a minha vida inteira e mudar algo em que eu passei a acreditar esse tempo todo em menos de um mês não foi fácil. Não teria conseguido sem a ajuda do meu psicólogo, que introduziu a ideia aos poucos na minha cabeça.
Sem conseguir suportar o silêncio de Emily e a ideia de que ela possa não me aceitar assim, da maneira que eu sou, me ponho a falar.
— É por isso que sempre me senti desconfortável com a ideia de me relacionar com alguém desconhecido. Todas as vezes em beijei ou tentei fazer sexo com uma garota desconhecida, não me sentia à vontade e me via enjoado, me achando nojento, como se tivesse sido usado. Depois de um tempo, pensei que eu tivesse algum tipo de problema e me contentei com a ideia de que meu corpo veio com defeito e que eu nunca ia gostar de nenhuma dessas coisas. A última vez em que tentei algo com alguém diferente, me senti tão horrível e tão inútil, que desisti de vez.
— O dia da festa a fantasia…? — ela insinua.
Assinto, também lembrando do dia em que Emily me encontrou passando mal após ter me encontrado com a prima da aniversariante. Naquele dia, Emily conseguiu me distrair, quando nos levou para comer meu primeiro "podrão".
— Deixa eu ver se eu entendi direito — ela diz e a encaro, esperando. — Demisexual é alguém que não se atrai fisicamente e sexualmente por pessoas desconhecidas e que só sentem vontade de beijar ou transar com alguém por quem tem sentimentos ou sentem alguma conexão?
— Sim, em alguns casos, a pessoa pode não querer transar também, depende muito, varia de pessoa para pessoa — explico.
— E qual o seu caso? — ela pergunta, parecendo genuína.
Escolho os ombros por reflexo, antes de responder.
— Não sei — sou sincero. — Você é a primeira pessoa com quem eu realmente me senti confortável para querer alguma coisa, beijo ou… sexo. Depois de algum tempo em que estávamos juntos, eu sentia vontade, mas eu estava tão acostumado a acreditar que sexo não era para mim, que toda vez em que estivemos próximos a isso, eu simplesmente entrei em pânico. Não queria me sentir um merda com você — falo, sendo franco.
— Entendo.
O rosto de Emily é uma folha em branco, sem me dar uma única pista sobre o que ela está sentindo ou pensando.
— Eu sei que parece estúpido e vou entender se você não quiser mais nada comigo, são muitas informações e não é fácil compreender todos os aspectos da demisexualidade, eu também não sei tudo ainda. É um processo — repito o que Rafael, meu psicólogo, me disse na nossa última consulta. — Mas não vou pedir desculpas por ser assim.
Não mais, penso. Não vou mais me culpar ou me sentir menos homem por não sair pegando todo mundo, como a maioria dos garotos da minha idade.
Olho nos olhos de Emily, decidido.— Você não vai dizer nada? — eu pergunto, agoniado com o silêncio dela.
— Estou digerindo as informações, só isso. Não estou pronta para desistir de você ainda.
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Do Nosso Jeito - CONCLUÍDA
Dla nastolatków"Se eu pudesse tirar essa dor de você eu tirava, mas não posso, infelizmente. Tudo o que posso fazer é te ajudar a criar novas boas lembranças, deixe-me fazer isso, Emily" 🍁 Sinopse inserida no livro ⚠ Este livro contém gatilhos relacionados a estu...