Capítulo 58

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Brian

Paro por um minuto, sem saber para onde ir.

Sai com tanta rapidez que não pensei em nada. Minha cabeça dói e sei que preciso ir para algum lugar que me distraia. Perto da casa de Guilherme tem uma balada que o pessoal da faculdade gosta de ir e é para lá que me encaminho.

Eu não esperava aquele tipo de pensamento vindo de Guilherme, não mesmo. Ele sempre pareceu me ouvir e me entender, não imaginava que ele me visse de uma forma tão ruim quanto meus irmãos, como se eu fosse um menino perdido.

"Acho engraçado que todo mundo tá errado, menos você, né?" É assim que eu percebo que ninguém me conhece tão bem quanto eu mesmo. Sou melhor sozinho.

Olho rapidamente em meu relógio, vendo que já são oito da noite. Passei mais tempo vagando por aí, do que em algum lugar em si, mas está tudo bem, agora só preciso atravessar a rua para entrar na boate e tentar esquecer esses dias de merda. Preciso relaxar. Sendo conhecido do dono, devo conseguir entrar sem pagar e por lá eu me infiltro entre o pessoal.

Mesmo sendo terça-feira, a rua está movimentada como em um sábado, como é de se esperar de um bairro universitário. Todo dia parece fim de semana.

Por mais que eu tente, minha conversa com Guilherme e suas palavras não saem da minha cabeça. "Você mudou desde que sua irmã decidiu ir morar com vocês". Não poder afirmar com certeza que isso não é verdade me balança. Ponho o pé na rua para atravessar, algo mudou desde que Emily decidiu vir morar comigo e com meus irmãos? Não sei. Na verdade, sei, mas a verdade é irritante demais para que eu consiga admiti-la. Não quero pensar nos porquês disso.

Escuto o som da buzina e tudo parece acontecer tão rápido que eu demoro para assimilar o que está havendo. Vejo o carro vindo com toda sua potência e velocidade para cima de mim, os faróis me cegando. Não consigo me mexer, me deixo levar. Tenho vergonha dos meus pensamentos, mas talvez não doa tanto assim e talvez seja disso que eu preciso para que finalmente eu...

Alguém puxa meu braço, me tirando da frente do carro na hora em que ele atravessa com rapidez o lugar em que eu estava. Tusso pela poeira que os pneus deixam para trás e me viro, irritado, a procura da pessoa que puxou meu braço.

Congelo, mais uma vez, sem conseguir me mexer. Meus olhos se esforçam para enxergar e meu cérebro tenta me convencer de que estou vendo errado, enquanto meu coração martela com força em meus ouvidos, me dizendo que nunca enxerguei tão bem.

O homem me olha e tenho a sensação sufocante de que não compartilhamos os mesmos conflitos sentimentais no momento. Seus olhos avermelhados me encaram com um pouco de preocupação, a postura relaxada e os cabelos mal cortados, com a garrafa de bebida em uma das mãos. Olho para suas roupas, que mais se assemelham as de um morador de rua, a bermuda azul gasta e encardida, a blusa de manga curta preta, que está larga demais e o chinelo azul que, assim como suas unhas, está tão sujo que parece preto.

Essa é a primeira vez que o vejo pessoalmente e imagino como devo parecer um menininho assustado agora.

É como encarar uma versão mais velha e fracassada de mim.

Rodrigo Fox está na minha frente. Meu pai.

Agora consigo entender o pavor nos olhos de Emily ao me ver ou a tristeza misturada com dor nos olhos de minha falecida mãe toda vez que mirava meus olhos.

Temos os mesmos olhos verdes, os meus um pouco mais claros do que os dele, a mesma pele branca como leite e o mesmo tom de cabelo escuro demais para ser castanho e loiro demais para não ser.

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