Capítulo 12

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Emily

Uma das vantagens de morar no centro de Niterói é que pegar ônibus é uma das coisas mais fáceis, já que o Terminal fica há menos de vinte minutos da casa dos meninos. Eles moram dentro da Vila Pereira Carneiro, que é basicamente uma vila de velhinhas ricas, mulheres grávidas e casas antigas. Sério, nunca vi tanta senhora num lugar só, os mais jovens pareciam se esconder durante a semana e só sair do esconderijo aos sábados.

— Por que a gente não pode parar na praia antes? É tão melhor que piscina! – Hugo reclama pela décima quinta vez.

O motorista do Uber ri, nem ele aguenta mais a agitação do meu irmão e olha que faz menos de cinco minutos que estamos no carro.

— Quando chegarmos lá, você fala com Enzo e a gente vem mais tarde – Oliver sugere.

— Chegamos. Deu cinco e cinquenta. – O motorista diz e Hugo paga a dele enquanto eu e Oliver descemos.

Olho para o muro a minha frente e tento não pensar em quanto deve ser o aluguel de uma casa dessas. São dezesseis anos — ou seja, minha vida toda — convivendo com gente rica dos mais diversos tipos mas nunca sendo a rica — infelizmente.

Por ser filha de professora, sempre estudei nas melhores escolas, mas só porque tinha direito a bolsa 100% e não precisava pagar mensalidade. Para comprar os livros era um sufoco, minha mãe dividia em quantas parcelas desse, ou comprávamos usado. Tênis e mochilas novas todo ano? Só nos meus sonhos, usava o mesmo tênis all-star até não dar mais e para dar uma variada, eu mudava a cor do cadarço e fingia que era um tênis novo, as mochilas sempre foram aquelas baratinhas de camelô, mas que — graças a Deus — aguentavam o tranco.

Só do ano passado para cá que as coisas começaram a melhorar, que foi quando minha mãe conseguiu a vaga de diretora, ela conseguiu começar a pagar as contas atrasadas e começamos a viver nos preocupando um pouco menos com o saldo da conta.

— Caralho, mermão, a família do Enzo nada em dinheiro, não é possível – Hugo expressa assim que o porteiro libera nossa entrada.

O cheiro de churrasco faz minha barriga roncar de expectativa e o funk tocando me faz mexer a bunda. Ótima junção, não é mesmo?

— Não é atoa que tem uma casa aqui – Oliver diz nada afetado.

Tenho que concordar novamente, Camboinhas é um bairro nobre de classe média alta localizado na Região Oceânica de Niterói. Ter casa aqui é luxo.

— Aí estão vocês! Achei que não fossem chegar nunca! – Enzo aparece na nossa frente com os cabelos molhados e uma long neck em mãos.

Ai, Senhor... Me segura porque se depender de mim eu agarro esse boy aqui e agora!

— A gente veio de ônibus, por isso a demora. – Oliver explica.

— De ônibus? — Alice aparece. — Por que o irmão de vocês não trouxe vocês? – pergunta, se referindo ao Scott e eu dou de ombros.

— Acho que só andei de ônibus uma vez. – Enzo diz, parecendo concentrado em lembrar quando foi.

— É horrível. A única vez que eu andei, eu chorei de desespero. Aquele monte de gente junta, suada e sem educação. Horrível. – Alice estremece com sua lembrança e eu me seguro para não revirar os olhos.

Se não fosse os ônibus, eu não iria para metade dos lugares.

— Vamos esquecer essa história de ônibus e ir lá para trás! O restante do pessoal já tá piscina! – Enzo nos mostra.

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