Capítulo 104

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-Para onde estamos indo..? -Anastácio perguntou, sem receber resposta do homem que andava apressado à sua frente.

Viu o salão de baile mais algumas vezes por frestas entre pilastras decoradas e janelas sem vidro ao longo da escada que subiam depois de deixar o salão por uma pequena saída que parecia ser de emergência, seu coração batendo acelerado e abafando seus ouvidos enquanto tentava com todas teorias possíveis se convencer de que não estava sendo levada para o destino que Aena lhe dissera que sofreria se desagradasse os Cavaleiros.

Olhou mais uma vez para o salão antes de entrarem num corredor, tentando encontrar o olhar de Jack, mas o garoto apenas olhou na direção pela qual desaparecera. Ao invés disso encontrou no último segundo os olhos de quem menos esperava: Scara. A reconheceu imediatamente apesar do disfarce, e ter encontrado-a pareceu guiar seu olhar diretamente para todos os próximos - Lady Aena, Persiana, Lan Shuen, cada um em um canto do salão, seguindo-a até desaparecer no corredor a sua frente.

Algo muito errado girava ao seu redor e não era a única que sabia.

Se assustou quando o mordomo desapareceu em outra esquina alguns metros à frente e uma figura escura apareceu tão rápido e perto de si que deveria ter saído da parede, passando por ela para a direção da qual veio e raspando levemente seu braço.

Anastácio estava tão tensa que congelou no lugar no momento em que a silhueta desconhecida apareceu, e o mordomo voltou procurando por ela, apressando-a quando viu que tinha parado de andar, voltando para agarrar seu braço e empurrá-la em frente.

Seguiram caminho, quando olhou para trás não havia o menor sinal de que mais alguém além dela e do mordomo estivera lá há um segundo atrás, apenas um repentino peso, frio e familiar no bolso fundo de seu terno. 

O coração de Jenny martelava tão loucamente contra seu peito que tinha certeza que o homem que a escoltava para onde quer que estivessem indo a escutava. Não que algo mais importasse àquela altura, pois tinha certeza de que estava sendo levada para a morte depois que Edward a viu supostamente traficando drogas em pleno baile. Exceto que não eram drogas, mas armas brancas, e cabiam perfeitamente nos bolsos de seu vestido, como se tivessem sido feito para esse propósito.

Como se tivessem sido feitos para esse propósito. Jenny engoliu em seco. A alfaiata era um rebelde. "Use-os com sabedoria." Os rebeldes, quem quer que fossem, estavam no baile, como conseguiram se infiltrar não fazia ideia, mas agora sabia que o jovem e engraçado nobre que a tirara pra dançar e, tão sutilmente que mal sentiu, deslizou uma lâmina para dentro de seu vestido, era com certeza um deles.

Ainda não sabia se estava grata pela segurança que a arma em seu vestido lhe dava na atual situação ou se deveria se preocupar com o fato de que estava claramente sendo usada para um plano dos rebeldes. O homem que a tirara do baile era um deles? Deveria segui-lo despreocupada ou lutar contra ele? O pequeno broche em seu terno preto exibia o brasão do reino, e não sabia o que pensar sobre isso.

Jenny enfiou a mão no bolso o mais silenciosamente que pôde, tentando conseguir alguma calma ao tocar o punho da lâmina escondida entre as dobras do vestido, mas se encolheu quando o mordomo parou abruptamente e olhou para trás, os olhos disparando para a mão que acabara de enfiar no bolso.

-O que está fazendo? - o homem perguntou alerta, claramente perturbado com o fato de que seu vestido possuía bolsos, e Jenny teve certeza. Não era um deles, então.

Sem pensar mais, puxou a lâmina do bolso ao mesmo tempo dando uma rasteira desengonçada no mordomo, mas efetiva por pegá-lo de surpresa, e quando viu que se espatifou no chão, apontou-a para o pescoço exposto do homem.

-Pra onde está me levando? - perguntou, tentando manter a voz firme e não olhar para o rosto horrorizado que provavelmente não tinha nada a ver com a situação e apenas seguia ordens.

-O-o-o que? -ele grasnou, pálido, mas claramente fingindo não saber o que responder e Jenny repetiu, apertando a lâmina:

-Pra onde está me levando? Eu sei que vão fazer alguma coisa, então o que é??

O mordomo deu uma risada nervosa, tentando gaguejar uma desculpa, mas quando a lâmina da garota encostou fria em sua garganta, fechou os olhos e grasnou:

-Sarthres. 

-Eu sabia.. -Jenny sussurrou, sentindo o frio em seu estômago se intensificar, e se ergueu, trêmula, devolvendo a adaga ao bolso e já se pondo em movimento, de volta pela direção da qual vieram, ignorando os sons de choque do homem às suas costas com o fato de que ela sabia o que a palavra significava, se erguendo desesperado, mas sem fazer menção de segui-la.

Precisava encontrar Anastácio e Kenny, e não precisou procurar muito, como se já estivessem em sua mente todo esse tempo. Estavam a alguns corredores de distância apenas e juntas para sua surpresa, mas a de Kenny estava claramente mais fraca, e a de Anastácio agitada em dobro, fazendo Jenny acelerar o passo.

-Anastácio..?

Estava escuro demais pra enxergar, e Jenny se aproximou com cuidado quando alcançou o corredor onde sentira a presença das outras duas, escutando alguém respirando pesado e logo em seguida a voz de Anastácio, tremendo:

-Jenny..?E-eles atacaram Kenny quando-- quando viram que não iam conseguir levar ela mais longe e-- e--

Jenny imediatamente murmurou um dos poucos encantos que sabia controlar bem, e se abaixou ao lado de uma Kenny sangrando quando uma pequena esfera de luz se materializou ao seu lado.

Anastácio havia tirado a faixa de tecido de sua cintura e pressionado contra a perna de Kenny inconsciente, manchando o branco de vermelho escuro, e só então Jenny percebeu a presença da elfa atrás de Kenny, segurando sua cabeça em seu colo e murmurando palavras melódicas com as mãos em seu rosto. Decidiu não questionar.

-O que aconteceu? - Jenny sussurrou assustada, balançando a cabeça e mudando a pergunta: - O-o que a gente faz agora? A gente tem que sair daqui..

-Sim. -Anastácio respondeu devagar, fazendo Jenny olhá-la. Seu rosto estava enfurecido, controlado, mas enfurecido, e afastou o tecido agora completamente vermelho da perna de Kenny a um aceno da elfa.

A perna de Kenny agora exposta exibia três marcas feias de cortes que pareciam ter sido fundos e aleatórios, mas haviam se transformado em algo menos mal, mas ainda não cicatrizes, e ouviu a elfa dizer:

-É o melhor que posso fazer por agora. Não irá mais sangrar, mas ela não conseguirá usar a perna antes de ser tratada decentemente.

-Obrigada. -Jenny e Anastácio responderam ao mesmo tempo, e Anastácio se ergueu, fazendo Jenny imitá-la, encarando-a, esperando nervosa por algo.

A garota ruiva a olhou, e podia quase ver fogo em seus olhos, o punho apertado em volta do tecido ensanguentado.

-O que vai fazer? - Jenny perguntou preocupada, vendo uma intenção que não conseguia decifrar no rosto de Anastácio, e a garota apertou os maxilares.

-Eu não sei. -sussurrou, lágrimas enchendo seus olhos. -Mas não vou ficar parada.

Olhou para a elfa, ainda segurando Kenny, e disse, determinada:

-Acorda ela. -e olhando pra Jenny, continuou: -Se os rebeldes tão aqui, eles têm um plano, e vou entender as armas que deram pra gente como um sinal de que estão do nosso lado.

Acenou para o bolso de Jenny e a garota soube que Anastácio também recebera uma arma em algum momento, e naquele instante soube que não sairiam dali sem lutar.

Quando ouviu um som vindo de Kenny indicando que acordou e se perguntou o que fariam com ela, outro som lhe chamou atenção e, enfim, sentiu a mente de Aska na sua, depois de tanto tempo sem o menor sinal de nenhum dos dragões, agitada e furiosa. Olhou para Anastácio e no mesmo instante soube o que fazer.

Logo Kenny estava de pé, apoiada em seu braço, Anastácio e a elfa desapareciam no corredor às suas costas e Jenny levava sua irmã na direção oposta, sentindo a presença de Aska cada vez mais clara, esperando-a impaciente.

Adivinha quem esqueceu de postar na quinta de novo :/
Mas aqui tá o capítulo hehe divirtam-se






Cavaleiros de Dragões II - A Joia PerdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora