Descendo a estrada de chão que levava para a cidade de Mashendale acompanhados dos soldados, Anastácio passou a pensar na missão de "espionagem". Nenhuma cidade era livre de corrupção e bandidos, fosse em qualquer mundo, sempre haveria aquela pessoa dos negócios errados, aquele fornecedor ilegal de armas raras que apareciam em filmes, ou seja lá no que mais a mente criativa e perversa dos humanos pensasse. Sendo assim, segundo a informação de Jack, logo descobririam quem é que administrava as negociações erradas e saberia lhes ajudar - voluntariamente ou à força - sobre o que vieram procurar.
A quantia de dinheiro que haviam recebido da rainha dava, no mínimo, para algumas noites num hotel de luxo e uma quantidade agradável de compras, o que fez Anastácio lembrar do que Dina lhes contara da conversa de Edward e Lady Aena, em que a princesa lhes aconselhara usar seu "dinheiro abundante" para a proteção dos Quatro Reinos.
Whatever. Pensou. Já tinha problemas suficientes em que pensar e a missão que tinha pela frente era um deles, pois haviam acabado de alcançar a cidade.
Logo no início foram cumprimentados gentilmente pelas pessoas nas ruas, lhes desejando um bom dia. Algumas delas aparentemente logo perceberam que não eram dali, sorrindo simpáticas e perguntando se estavam à caminho da feira. Sem ter ideia de outra resposta, Anastácio respondeu que sim, claro, e seguiu grata o caminho que um homem lhes indicou, pela avenida principal.
Logo puderam reconhecer a feira da qual o homem tinha falado, e Jack parou Anastácio dizendo:
—Nos dividimos aqui então. Se acontecer alguma coisa interessante, me mande uma mensagem. Vamos nos encontrar aqui mesmo no final do dia?
—Pode ser, mas.. O que você quis dizer com "algo interessante"? —Anastácio perguntou confusa, imaginando o quê de interessante poderia acontecer.
—Ora, se você encontrar algum pedaço daquele metal, ou se aparecerem inimigos, ou você descobrir um comerciante do mercado negro ou qualquer outra coisa empolgante do tipo.
Anastácio o encarou por um momento, se perguntando como aquilo podia ser interessante ou até empolgante, mas decidiu economizar saliva e respondeu apenas:
—Ah, entendi.
—Bem.. Boa sorte então. Espero que encontremos respostas logo. —Jack sorriu e estendeu os braços, puxando Anastácio para um abraço desajeitado por conta do braço de metal, e a garota retribuiu, dizendo após se separarem:
—Boa sorte pra vocês também. Se acontecer alguma coisa, faça contato.
Jack fez que sim com a cabeça e, depois de um último sorriso, deixou Anastácio e seu acompanhante, desaparecendo junto com Phervin entre as pessoas que se aglomeravam na avenida da feira.Jenny e Kenny observavam uma barraca de artefatos antigos, admirando os cordões detalhados, adagas, bijuterias nobres, flechas élficas, braceletes e outras coisas ricamente entalhadas em metal, madeira e marfim quando sentiram a presença do metal. Jenny imediatamente levantou a cabeça, olhando para Kenny, mas ouviu a voz da irmã dizer em sua mente, enquanto olhava de perto uma flecha e não dava sinais de ter sentido algo diferente:
Disfarce, Jenny. Quem quer que tenha esse metal, não vai ser uma pessoa boazinha que vai nos entregar de bom grado.
Ela abaixou a cabeça novamente, confusa, olhando discretamente em volta, à procura de quem poderia estar com o que procuravam. A corrente de energia que sentia vinha da direita, mas estava fraca e confusa pela presença de outros metais mais pertos.
—Vamos. Obrigada. —Kenny puxou o braço da irmã e agradeceu ao dono da barraca, que respondeu com um aceno indiferente.
Primeiro temos que descobrir quem é que está com o metal que acabamos de sentir. Depois achamos um jeito de chegar nele e o resto a gente improvisa.
Jenny olhou preocupada para a irmã ouvindo seu "plano", incerta se ele funcionaria tão bem quanto parecia, mas Kenny parecia despreocupada em relação àquilo, então apenas seguiu-a.
Elas caminhavam pelas barracas, hora ou outra Kenny parava e dizia algo insignificante sobre roupas ou sapatos e olhava as vitrines de lojas e barracas, mas sempre seguindo a corrente do metal.
Ele parece se afastar.. Comentou uma hora, lançando um olhar de lado para David, que andava um pouco mais atrás das gêmeas, em alerta. O soldado balançou positivamente a cabeça e respondeu:
Vão em frente. Estou investigando com alguns encantos se é apenas uma pessoa ou um grupo.
E? Kenny perguntou, se voltando interessada para uma vitrine de uma loja de artefatos mágicos, observando poções e objetos estranhos, mas bonitos e atraentes expostos na vitrine.
Até agora identifiquei apenas um. David continuou. Mas ele parece estar fazendo contato com alguém. Continuem enquanto ninguém nos perceber.
Kenny acenou com a cabeça, continuando a andar confiante, mas percebeu o nervosismo de Jenny, segurando sua mão numa tentativa de acalmá-la. Porém, todas as esperanças se foram no momento seguinte, em que viraram a esquina de um beco e em segundos se viram cercados por homens de armaduras negras, roupas esfarrapadas e armas afiadas apontadas em sua direção.
Jenny tampou a boca, soltando um som baixo de desespero e as gêmeas ouviram David desembainhar a espada e se colocar entre as gêmeas e os inimigos, que haviam encurralado os três no beco, fechando a entrada.
—Ora, mas que surpresa.
Kenny olhou nervosa para o dono da voz quando este apareceu detrás de seus homens, encarando os três com um sorriso maldoso e satisfeito. Seus homens riram quando ele disse:
—É brincadeira. Eu já esperava por vocês.
—Quem é você? —interromepeu Kenny com raiva, empurrando Jenny para trás de suas costas e o homem sorriu ainda mais, os olhos brilhando de ódio.
—Oh, mas que nervosinha.
No momento seguinte David estava no chão, um dos homens tinha arrancado a espada de sua mão e nocateou-o com o punho da própria arma, e o líder deles se aproximou ameaçador, ficando a centímetros do rosto de Kenny, que respirava nervosa, e rosnou:
—Ponha-se em seu lugar mocinha.. Nós não queremos você, —o homem levantou o braço, apontando um dedo sujo para trás da garota, para Jenny, encolhida atrás das costas da irmã olhando desesperada para o corpo de David no chão. —Queremos ela.
—Só por cima do meu cadáver! —Kenny se girou velozmente sobre os pés, acertando o maxilar do inimigo com a parte de trás do pé e logo em seguida acertando-lhe um soco na barriga, fazendo-o cambalear, tonto e os homens imediatamente partiram para cima da garota. Jenny gritou quando sua irmã foi jogada com força contra a parede do beco com um soco de um dos inimigos, vendo seu lábio sangrando e seu corpo deslizar sem forças para o chão, com um olhar de desculpas para Jenny, antes de sentir um golpe doloroso na cabeça e tudo ficar escuro.—Kenny... Kenny!
A garota arregalou os olhos, se erguendo como um raio, mas se deixou cair segundos depois ao sentir a dor latejante no lado da cabeça, e olhou para a pessoa à sua frente, tentando focá-lá.
—Patrick...? Onde está Jenny?
Patrick olhava nervoso para a garota e para a entrada do beco, parado a menos de um metro de Kenny, mexendo freneticamente as mãos.
—E-eles levaram ela.. Você precisa levantar!
Kenny apertou os olhos tentando ignorar a dor atrás deles e na cabeça, se apoiando na parede para ficar de pé, enquanto Patrick observava nervoso a tentativa da garota de se erguer, e Kenny tropeçou, as pernas fraquejando.
Sua vista ficou preta e ela deslizou para o lado, as costas na parede, sentindo a tontura dominá-la antes de um braço segurá-la segundos antes de bater a cabeça no chão, puxando seu corpo para cima para que ficasse de pé. Kenny se estabilizou razoavelmente ao ser apoiada pelos ombros de alguém, até perceber que se tratava de Patrick, que puxara seu braço por cima dos ombros e a fez se levantar.
—O quê...
—Shhhh! —o garoto sussurrou nervoso, ouvindo as vozes dos inimigos do lado de fora do beco discutindo com guardas da cidade. Patrick empurrou o corpo de Kenny contra a parede, tampando sua boca no momento em que ia dizer algo e viram as silhuetas negras dos homens que levaram Jenny passarem pelo beco, acompanhando uma carruagem fechada.
Quando passaram, Patrick se afastou, até aquele momento grudado em Kenny para que não os vissem, o coração batendo à mil km por hora e disse urgente:
—T-temos que ir atrás deles! Você já consegue andar?
—Eu sou obrigada a conseguir.. —Kenny respondeu, já seguindo Patrick para fora do beco só então reparando que ele estava armado com uma espada desconhecida.
Por um momento precisou absorver o que estava acontecendo, fraca e surpresa com a reviravolta: David e Jenny tinham desaparecido, provavelmente levados pelos soldados de Saguhr que acabaram de atacar a ela e sua irmã gêmea. Patrick havia surgido de sabe-se lá onde, salvado Kenny e ficado a menos de dois metros de distância dela, ainda por cima grudado nela, para que os inimigos não os vissem, e agora estavam se desviando totalmente da missão ao ir resgatar Jenny.
Afinal de contas, Patrick havia conseguido superar sua doença psicológica?... E por que diabos o inimigo estava atrás de Jenny?
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Cavaleiros de Dragões II - A Joia Perdida
AventuraLIVRO 2 Após a batalha bem-sucedida contra o inimigo de anos da Terra da Geada - Saguhr - Luana assume o trono do reino gelado como rainha herdeira de Kassandra. Porém a felicidade da vitória na guerra não dura muito, visto que novos perigos ameaçam...