Cavaleiros de Dragões II - A Joia Perdida

Capítulo 85

Anastácio desmontou das costas de seu dragão quando pousaram na clareira que Persiana havia descrito, onde um estreito córrego nascia das pedras cobertas de musgo na pequena mas íngreme encosta do lado direito de Anastácio e Zimäh, e desaparecia entre pinheiros escuros e árvores próximas umas das outras. 

Não parecia ter nada de especial para ser importante para os elfos por algum motivo, e até então não vira um único, ao contrário do que esperava ao pousar em seu território.

Não espere encontrá-los passeando entre as árvores, menina boba. Zimäh lhe disse, e Anastácio o olhou ofendida. 

Eu não esperava encontrar elfos passeando ao meu redor, mas pelo menos alguma coisa já que eu tô entrando na floresta deles sem aviso nem convite e montada num dragão.

Essa não é a floresta real.  O dragão respondeu, mas quando Anastácio o olhou interrogativa esperando uma explicação, se ergueu e abriu as asas, dando a entender que não diria mais uma palavra, e que ela deveria descobrir sozinha. Acenou com a cabeça para que Anastácio fosse logo, e disse apenas:

Estarei aqui quando você voltar.

Sabendo que não conseguiria mais nada vindo dele, Anastácio agradeceu e começou a descer a encosta seguindo o córrego, olhando mais uma vez para trás ao chegar lá embaixo, vendo o brilho prateado das escamas de Zimäh desaparecer entre as árvores.

Começou a se sentir nervosa quando enfim entrou no córrego como Persiana lhe instruíra, a água gelada atravessando suas botas até os tornozelos quando desistiu de tentar andar sobre as pedras que saíam da água, vendo que era impossível se não quisesse escorregar e se molhar por completo.

Depois de alguns minutos, assim como a Cavaleira dissera, um tronco caído atravessava o córrego a talvez um metro de altura da superfície água, e alguns arbustos e trepadeiras haviam aproveitado seu caminho até a outra margem, formando um curto e frágil túnel. 

Anastácio não teve opção senão atravessar o pequeno portal de galhos e folhas abaixada, após não enxergar outro caminho por fora do córrego entre arbustos espinhosos e mato alto ao seu redor. Porém, ao contrário do esperado do outro lado, o córrego não acabava numa pequena cascata para dentro de uma meia caverna em outra descida íngreme, como Persiana disse, mas continuava serpenteando seu caminho entre árvores e arbustos, até se perder de vista.

Àquele ponto, Anastácio apenas pensava em voltar, e o medo de perder Jack começava a se transformar em uma estranha culpa. E se apenas estivesse atrapalhando ao procurá-lo? Agora que havia tomado um caminho que nunca quisera, para tentar começar uma vida nova, talvez até melhor do que a que tinha com os Cavaleiros, e provavelmente estar muito mais próximo de sua mãe e suas raízes, de repente Anastácio surgiria, voltada dos mortos, dizendo para não esquecê-la.

É uma ótima forma de confundi-lo outra vez, Anastácio pensou, com raiva de si mesma. E bagunçar tudo que ele se esforçou pra reerguer depois de ter de lidar com sua morte. Mas, ainda assim, havia um desespero horrível e egoísta em deixar o garoto partir e esquecê-la, e Anastácio se sentiu perdida.

Continuou andando sobre o córrego por mais alguns metros, mas conforme avançava ele ficava mais estreito e difícil de acompanhar, com plantas e galhos atravessando seu caminho, e enfim Anastácio desistiu, vendo que não chegaria a lugar nenhum daquela forma. Se virou ali mesmo, deprimida, decidida a voltar, mas no momento em que se voltou para a direção da qual veio, o ar parou a meio caminho de seus pulmões, e a garota congelou no lugar, a horrível sensação de susto e medo seguidos fechando sua garganta.

Um par de olhos escuros e puxados a fitavam de forma ameaçadora, e a ponta afiada de uma flecha apontava em sua direção, na corda tensionada do longo arco de caça que a criatura segurava.