Todo o vulcão começava a entrar em ação à sua volta, e Persiana já não sentia mais nada além de desespero, encurralada pelos demônios da noite entre o corredor que desmoronava às suas costas e a lava fervendo à sua frente.
Mas de repente uma voz que emanava puro poder surgira em sua mente, e não precisou fazer o menor esforço para quebrar todas as barreiras de proteção que Persiana criara com boa parte de sua força; Use-me - dissera, e segundos depois a Cavaleira sentiu todo seu corpo e alma formigar e estremecer com a enorme magia da joia que a invadiu. Seus olhos se arregalaram quando tudo ficou branco, sua pele queimava com o poder de fogo do fragmento que se infiltrava em cada canto de sua alma, se apropriando e usando seu corpo como veículo.
A jovem Cavaleira olhou para as próprias mãos, sua visão embaçada e de forma avermelhada exibia uma aura alaranjada emanando de seu corpo, e por um momento o vulcão parou, assim como os demônios da noite e os corredores ruindo em volta da plataforma de metal. As criaturas negras pareciam surpresas demais para se mover ou continuar seu ataque, seus olhos brilhantes apenas fitavam Persiana abismados, até a garota perceber que também estava parada, talvez esperando a morte pelo efeito corrosivo da joia no corpo de um mortal. Mas nada aconteceu, e pelo contrário do que ela achara que aconteceria, sentia algo a mais do que apenas sua energia mágica fluindo em seu corpo, como se outro ser usasse encantos de transferência de chakra ou energia com ela sem que precisasse ter permitido.
Vai ficar parada assim?
Persiana se encolheu ao mesmo tempo que os demônios da noite pareceram também levar um choque de realidade e voltaram a correr em sua direção, chiando, fazendo-a se mover também, sem se perguntar por muito tempo quem era a voz da joia.
A lava borbulhante se ergueu do interior do vulcão com uma velocidade aterrorizante ao seu comando, fazendo até mesmo Persiana arfar de surpresa, e dois enormes braços de fogo líquido se lançaram sobre os demônios, deixando apenas seus gritos furiosos para trás, e Persiana correu pela plataforma, na direção do corredor no lado oposto ao do qual saíra com a joia.
A lava lançada sobre os inimigos rugiu estrondosamente ao cair de volta na cratera, fazendo a garota olhar para trás assustada e ver ambos os demônios ainda de pé, dessa vez ainda mais raivosos e Persiana soltou um palavrão, erguendo a joia na direção das criaturas e gritou:
-Tzara' shen!!
Seus joelhos fraquejaram no mesmo instante, fazendo-a cair na plataforma, tonta, seus ouvidos apitaram e todo o ar fugiu de seus pulmões, o calor do poder total do fragmento invadindo-a ao ver o enorme sintetizador mágico rachar e se desfazer em cinzas em suas mãos.
Tudo ardia e queimava insuportavelmente, enquanto seu corpo tentava em vão suportar e hospedar o poder do fragmento, lutando para libertar seu poder. Persiana viu vagamente seus braços se erguerem sem que fizesse aquilo, suas pernas encontrarem força de lugar nenhum e seu corpo se erguer contra os demônios, o próprio vulcão se transformar em puro fogo à sua volta.
Lâminas de lava e fogo se materializaram ao seu redor, disparando contra as criaturas das trevas sem parar, se transformando num furacão assustador de poder de fogo, com a garota em seu centro.
Quando finalmente achou que não sobraria mais lava no vulcão e energia em seu corpo para suportar a Joia, tudo caiu de volta para a cratera com estrondo, levando a maior parte da plataforma consigo.
Persiana bambeou ao sentir o poder da joia se recolher de seu corpo, e junto com ele a impressão de que toda sua energia estava sendo levada junto, deixando uma dor que parecia explodir sua cabeça e a visão completamente turva dos restos mortais dos demônios, antes de cair inconsciente no metal fumaçante da plataforma.O frio invadiu Persiana ao acordar com seu corpo sendo balançado pelo sacudir do que supôs ser uma carroça, e imediatamente sentiu todas as dores gritarem ao mesmo tempo em seu corpo e cabeça, fazendo-a grunhir e respirar fundo, com falta de ar.
-Fique deitada. -ouviu uma voz feminina dizer em algum lugar, junto ao barulho de patas que deviam ser muito grandes andando ao seu lado ou à frente da carroça; estava escuro e a única coisa que conseguia enxergar era uma lua num céu coberto de nuvens escuras.
As dores absurdas de seu corpo lhe davam fortes náuseas e falta de ar, e Persiana caiu instantaneamente no sono, aliviada, quando a pessoa dona da voz lhe encostou uma tigela fria nos lábios e a fez engolir um líquido amargo, fazendo seu corpo formigar e logo depois perder os sentidos, afastando a dor.
Quando acordou novamente, as nuvens haviam se dispersado, dando lugar ao céu extremamente estrelado. Isso significava que estavam longe de qualquer cidade, percebeu, e deixou a cabeça cair para o lado sem forças, a fim de ver a pessoa que a havia encontrado e a tratava, apesar de não conseguir reconhecer nada além de um silhueta escura no assento oposto da carroça.
Julgou ser uma mulher pela voz e pelo volume de cabelos, que parecia estar preso num tipo de tranças de cada lado da cabeça, até perceber que as "tranças" eram apenas parte do capuz peludo de seu manto grosso, no momento em que a figura acendeu um lampião ao seu lado.
A mulher estava de costas para a Cavaleira, sentada no banco do cocheiro e guiando os cavalos que puxavam a carroça, e deu uma rápida olhada para trás, em silêncio ao perceber que Persiana havia acordado, apesar de a garota não saber como exatamente ela havia percebido.
A mulher não virou o suficiente para que Persiana pudesse ver seu rosto, e a garota virou a cabeça de volta, os pensamentos confusos e dementes por conta do efeito anestésico do líquido que sua companhia a fez ingerir.
Teve que fazer um enorme esforço para tentar soltar algo de forma clara, e perguntou com a voz rouca:
-Quem.. É você...?
A mulher não olhou para Persiana e demorou alguns segundos para responder, dizendo apenas:
-Naomy. Você deveria voltar a dormir. Precisa se recuperar.
Vendo que realmente não conseguiria mais do que aquilo, Persiana apenas aceitou que a melhor opção no momento era mesmo dormir, e voltou a fechar os olhos. Mas abriu-os de repente ao reparar no que acabara de ouvir, franzindo as sobrancelhas e olhou para a mulher, perguntando com dificuldade:
-Naomy...? Isso é impossível.
-O quê é impossível? - a mulher perguntou em tom confuso, e Persiana balançou a cabeça, percebendo que era apenas uma coincidência e riu de si mesma por pensar que encontraria um dos sete deuses ainda em vida.
-Nada. -respondeu. -Achei que jamais encontraria alguém cuja mãe é louca o suficiente pra chamar a filha de Naomy.
-Eu não tenho mãe. -a mulher respondeu indiferente, fazendo Persiana se arrepender do tom que usara, e disse imediatamente:
-Oh.. Me desculpe, eu sinto muito.
-Ora, pelo quê?
Persiana franziu as sobrancelhas ao ouvir aquilo, tentando raciocinar com o cérebro retardado, e entender o que aquela mulher dizia; parecia óbvio, mas a garota tinha uma dificuldade irritante de pensar normalmente com o efeito da poção.
-Pela sua perda, ora. -respondeu começando a se sentir irritada.
-Ah. Tudo bem, eu não perdi nada, eu nunca tive o que chamam de mãe.
Persiana estava começando a achar que estava ficando louca, ou talvez estivesse sonhando, ou sua mente drogada estivesse inventando coisas, e tentou colocar seus pensamentos no lugar, com esforço.
Naomy... Mas..-- Tipo, Naomy a deusa...?
-Você chegou a essa conclusão sozinha? -a mulher perguntou, fazendo Persiana se encolher assustada e voltar o olhar para a frente, onde a silhueta da mulher estava, segurando as rédeas, mas dessa vez olhando para trás.
Persiana sentiu seu sangue gelar nas veias e todo seu corpo se retesar sob a visão da mulher à sua frente: os olhos totalmente brancos e vazios voltados para Persiana, que sabia que enxergavam seu ser mais profundo sem o menor esforço, lábios grossos pintados de preto, cabelos escuros, cortados de um lado curto e do outro longo. E naquele momento Persiana sabia que, qualquer coisa que aquela mulher mandasse, sua mente obedeceria sem lutar, nem mesmo hesitar por um segundo.
A deusa sorriu e se virou novamente, fazendo Persiana só então reparar na marca escura e nebulosa em sua nuca- o desenho de um gato negro, que quanto mais olhasse, mais teria certeza de que ele se mexia lentamente, deixando um rastro de névoa sem sair do lugar na pele pálida.
Quando o olhar vazio de Naomy saiu de cima da Cavaleira, sentiu seu corpo relaxar de repente, como se estivesse preso à vontade da mulher enquanto estivesse vendo-a, e desviado o olhar da garota, estava livre novamente, o que Persiana percebeu ser realmente assustador. Com aquela mulher não deveria brincar.Desculpe o atraso T-T, minhas aulas começaram e eu tô estudando à tarde, então quase não tive tempo de voltar a escrever.
Mas o livro tá chegando no fim aos poucos e eu vou tentar publicar o resto logo pra já começar a escrever o terceiro :3
Espero que tenham gostado como sempre, não esqueçam daquela estrelinha e comentem!! Comentem o que acharam ou se têm alguma dúvida ou qualquer coisa, eu sempre respondo!
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Cavaleiros de Dragões II - A Joia Perdida
AventuraLIVRO 2 Após a batalha bem-sucedida contra o inimigo de anos da Terra da Geada - Saguhr - Luana assume o trono do reino gelado como rainha herdeira de Kassandra. Porém a felicidade da vitória na guerra não dura muito, visto que novos perigos ameaçam...