Capítulo 94

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O pátio, os corredores e jardins do castelo estavam cheios, o barulho de sapatos, cascos de cavalos, vozes, enfeites tilintando e todos os outros milhares de barulhos que acompanhavam a onda de nobres vindos para o Baile de Inverno na Terra da Geada ecoavam em todas as paredes do enorme salão de baile e se infiltravam no corredor até Luana.

A pequena princesa observava com olhos grandes por trás de sua cortina a chegada de tantas pessoas, as mulheres em seus vestidos chiques, estalando com seus leques extravagantes ao serem cortejadas pelos cavalheiros, vestidos um mais empolado que o outro como se fossem galos competindo para ver qual tem as penas mais brilhantes, cavalos brancos e carruagens luxuosas parando na entrada.

Era a primeira vez que via o Baile de Inverno de verdade, mesmo com o pedido de sua mãe para que ficasse onde haviam combinado.

-Eu a deixarei ver as danças, - dissera, abaixada na frente da garota. - mas apenas se me prometer que não sairá daqui para onde os outros podem vê-la. Tudo bem?

"As danças", como Luana sempre chamava os bailes  que apenas escutara Kassandra lhe contar ou ler de seus livros, conhecendo aquela atmosfera apenas pelas ilustrações ricas e detalhadas dos livros ou quadros pendurados nos inúmeros corredores do castelo, mas nunca tendo permissão para acompanhar sua mãe.

-As danças são oportunidades para a mamãe se encontrar com seus tios e tias rainhas e princesas dos outros castelos e continuar amiga deles, e a gente poder continuar vivendo em paz com todo mundo.

-Se vocês não se encontrarem vocês vão brigar? - Luana perguntou incrédula, arrancando uma risada de Kassandra, e a mulher afagou sua cabeça ao responder:

-Não, minha criança. Quando não nos encontramos, temos amigos que viajam entre os nossos castelos para podermos mandar cartas um ao outro, que entregam as nossas cartas para nós. Mas imagine se você nunca encontrasse seus amigos, e tivesse notícias deles apenas por cartas! E as cartas chegam apenas uma vez em alguns ciclos! Isso não seria estranho?

-Por que? -a garotinha perguntou ainda confusa, e Kassandra suspirou, mas não deixou de sorrir ao responder:

-Imagine, às vezes um de nós pode não estar se sentindo bem, mas não quer que o outro se preocupe, então escreve na carta que está tudo bem, porque escrevendo é muito mais fácil dizer que está bem do que se conversamos frente a frente, entende? Mas se nos encontramos e passamos algum tempo juntos, podemos ver se algo não está legal com o outro e ajudar!

O motivo pelo qual sua mãe não lhe permitira ir para o salão com ela e apenas ficar em seu esconderijo e olhar o baile de longe ainda lhe era desconhecido, mas Luana estava mais do que feliz em finalmente poder assistir ao baile na vida real, e já lhe dava o sentimento de estar participando.

Ver o enorme salão finalmente decorado com milhares de luzes e tecidos bonitos, todos os seu cantos enchidos de música e vozes animadas e os amigos  de sua mãe cumprimentando-a educados na frente de seu trono, alguns beijando sua mão e lhe dando presentes, despertava em Luana uma enorme excitação ao imaginar que um dia estaria no seu lugar e seria capaz de realizar coisas como aquela, em que as pessoas tinham a chance de se encontrar depois de tanto tempo apenas de cartas, e se divertir e dançar, e lhe seriam gratas e a admirariam. 

Um som no corredor fez Luana se obrigar a tirar os olhos da beleza do baile e espiar para o corredor escuro do outro lado, a procura da origem do som. Escutou-o mais uma vez antes de ver uma silhueta escura sair da escuridão ajeitando algo em sua roupa, o som de alguém tossindo e o gorgolejar de água cair no chão em algum lugar.

Luana se escondeu atrás de sua cortina quando a silhueta veio em sua direção do corredor, e começou a escutar sua respiração pesada quando se aproximou, se perguntando o que havia de errado, até que o homem parou quando estava prestes a passar por ela, e se virou.

-Ora.. -ele disse com a voz suave, e a princesa deu mais um passo silencioso para dentro da cortina, esperando que não fosse percebida por ele e a pessoa a quem se dirigira, mas quando prosseguiu, Luana prendeu a respiração, assustada: - É a pequena princesa que se esconde atrás da cortina?

A menina o encarou de olhos arregalados quando o homem afastou a cortina, sorrindo ao confirmar sua suspeita, mas ele parecia estranho e sua voz diferente quando perguntou:

-Não me viu chegando, viu?.. E quem estava comigo..?

Luana balançou a cabeça negativamente,  calada, se agarrando à cortina como se fosse um escudo que a separava do homem, pensando em todas as vezes que sua mãe lhe dissera para ficar longe daquelas pessoas. Aquele nobre não lhe pareceu mal, mas também não tinha coragem de abrir a boca ou fazer qualquer coisa pela qual sua mãe a repreenderia. 

O homem esticou o braço em sua direção, prestes a colocar a mão em sua cabeça quando uma sombra tampou sua visão de Luana, e a princesa sorriu animada ao escutar uma voz familiar se dirigir a ele:

-Lorde Ruthloc. É uma honra finalmente vê-lo em nosso reino. Permita-me acompanhá-lo até o salão. 

Luana estava a ponto de esticar os braços para a perna do recém chegado, quando se lembrou de repente de mais uma das coisas que sua mãe a advertira, e sua voz impediu que Luana o tocasse no mesmo instante:

-Quando Edward estiver conversando com nossos amigos, não o interrompa. Ele resolverá o que tiver que resolver e então virá te cumprimentar. O melhor é deixá-los a sós e esperar que ele mesmo te procure quando estiver tudo terminado, tudo bem?

Quando se virou para correr para dentro do corredor e deixar os dois homens sozinhos, os mesmos começaram a andar na direção oposta, fazendo Luana ficar onde estava, feliz por não ter que deixar seu ponto de observação do salão de baile, para onde os dois se dirigiram e logo desapareceram.

Não demorou muito para que Edward voltasse, e quando alcançou-a, se ajoelhou à sua frente, sorrindo ao pegar sua mão e perguntar:

-O que está fazendo aqui? Não deveria estar em sua cama?

-A mamãe me deixou ver as danças hoje! -a menina respondeu animada, ainda mais feliz ao vê-lo também sorrir.

-Isso é ótimo. - ele respondeu, se levantando. Sua armadura brilhava na luz da lua que atravessava as janelas, e apoiou o braço na enorme espada em sua cintura, suas sobrancelhas grossas deixando seus olhos na sombra, e Luana o olhou admirada, balançando a cabeça entusiasmada, sem protestar quando ele disse:

-Se já tiver visto o suficiente, convido a princesa para um vôo, e depois me prometerá que irá para a cama. Amanhã é um grande dia, e não quero vê-la fraquejando por ter assistido às danças a noite toda.

O rosto de Luana se iluminou, e a menina bateu palmas, exclamando feliz:

-Você vai me ensinar a espada! Não é? Não é?!

O Cavaleiro sorriu, piscando ao esticar a mão em sua direção, a qual a princesa pegou dando pulinhos, rindo alegre ao ser conduzida pelo castelo, na direção em que sabia estar o Jardim dos Dragões, a meta de assistir ao baile a noite inteira já há tempo desaparecida de sua mente.


Sinto muito em falar que por hoje é só, e mais ainda pela demora de novo. Eu já tinha ficado um mês parada antes de publicar o 93, e não queria ficar de novo pra esse, mas acabou acontecendo de novo, e o motivo é - eu estou sem inspiração alguma. Não é fácil falar isso quando o livro todo já tá planejado, eu já sei o final e o terceiro livro inteiro, mas eu simplesmente não passo daqui. Eu segui o conselho da minha irmã pra esse capítulo e escrevi ele à parte da história só pra finalmente publicar alguma coisa, porque não tava chegando em lugar nenhum tentando continuar do 93.

Desculpa por fazer vocês esperarem tanto, mas eu vou dar um tempo e ver se distraindo um pouco a inspiração volta.

Não prometo nada, mas logo eu tô de volta com tudo, e não desistam (kkkk). Até o próximo capítulo <3

Cavaleiros de Dragões II - A Joia PerdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora