Capítulo 64

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Jenny sentiu o ar escapar de seus pulmões com o impacto de suas costas no o chão, quando Leo a derrubou depois de alguns segundos de luta. A garota arquejou, tentando em vão fazer o ar voltar para os seus pulmões, despertando expressões preocupadas em Naro, que assistia de longe, e Leo, que se aproximou após perceber que Jenny não estava bem.
Ajudou a humana a se sentar, apoiando suas costas enquanto ela tentava recuperar o ar, e levou alguns minutos até poder se levantar e respirar normalmente, e Naro disse com um sorriso:
-Acho melhor pararmos por hoje. Mas você precisa aprender a cair sem se machucar.
-Também percebi isso. -Jenny respondeu insegura, e Leo bateu a poeira de suas roupas e lhe devolveu sua espada, dando um sorriso confiante:
-Você está indo bem. Daqui a alguns dias já vai estar muito melhor! Mielnë vai ficar orgulhosa.
-E falando nela.. -Naro se virou para a entrada da arena quando Leo falou nela, onde avistaram a silhueta definida da elfa, que acenou para eles, e Jenny acenou de volta, se levantando. Haviam se passado três dias desde que fora apresentada para os dois jovens, que descobriu serem uma fada e um metamorfo, e também logo descobriu serem invencíveis numa luta. A fada nunca tocava na própria espada, mas a controlava com a sua energia, fazendo-a se mover como e na velocidade que quisesse. Uma única vez Jenny havia conseguido jogar a espada pesada da garota amarela no chão, mas no segundo seguinte foi derrotada pela magia poderosa de Leo.
Naquele momento Mielnë levou Jenny para fora da arena para uma volta, e a elfa lhe ofereceu um saquinho de alguma fruta seca que a garota aceitou curiosa, e sua mestra perguntou enquanto ela mastigava:
-Como está se saindo com aqueles dois?
-Estou aprendendo bastante! -Jenny respondeu excitada, olhando para a elfa que apenas acenou com a cabeça, parecendo pensativa, e virou uma esquina para uma praça arredondada, que parecia ter sido construída num estilo diferente do que Jenny conhecera até então daquele mundo medieval.
-Sua memória voltou? Já consegue se lembrar de tudo?
-Eu-- -naquele momento Jenny parou, percebendo de repente que se lembrava de tudo que acontecera antes de aparecer na Fronteira, exceto pela espada ensanguentada, e franziu as sobrancelhas. Por que não percebeu quando as memórias voltaram?
-Sim, lembrei, m-as.. -a gêmea encarou Mielnë confusa, e recebeu um olhar sério de volta, até preocupado.
-Tem a impressão de que se eu não tivesse tocado no assunto, também não teria percebido? E apesar de se lembrar, parece distante?-a mulher completou seus pensamentos.
-Sim.. Sim! P-por quê? Como sabe disso...?
-É um encanto Jenny. -Mielnë voltou as costas para a garota, suspirando. -Um encanto silencioso, como um vírus. Ele é totalmente proibido, mas algumas leis não valem para os Cavaleiros de Dragões. Vocês resgatados do mundo mortal estão sob o efeito desse encanto, que faz com que lentamente se esqueçam da sua vida no outro mundo, engana sua mente para que ache que tudo o que conhece é esse mundo e não se prendam aos familiares do outro lado ou seja lá o que amaram.
Jenny recuou assustada, se recusando a acreditar que fariam aquilo com ela, Kenny, Anastácio e Patrick. Aquilo era bizarro demais, talvez tivessem feito, mas com certeza era pelo seu bem! Entendia a preocupação dos Cavaleiros em não querer vê-los tristes de saudade ou até querendo voltar para vistar a família, e contar tudo..
-Esse encanto aumenta sua intensidade ao longo da vida de quem o carrega, é literalmente como uma doença. -Mielnë continuou naquele momento, olhando-a nos olhos. -Até que esqueça até mesmo a existência dos portais que levam para o outro lado.
As palavras não saíam da garganta de Jenny, cada vez que conhecia alguém novo naquele mundo, vinha algo assim. Uma informação secreta e perigosa, uma verdade escondida só dela que mudaria sua visão sobre tudo.. Quem estava certo?? Qualquer um dos dois lados poderia estar mentindo, ou ao menos adicionando algo ou contando meias verdades. Mas estava no meio de um cidade secreta, com seres que nunca vira em Fauhk nem em nenhum outro lugar que sobrevoara com Aska, e aquilo era prova suficiente de que Mielnë não estava apenas mentindo para levá-la para o lado negro da força.
O silêncio de Jenny deve ter preocupado a elfa, pois ela colocou a mão em seu ombro naquele momento, e disse:
-Jenny, não se preocupe com muitas coisas de uma vez só, eu só percebi e... Queria que você soubesse para que eu possa tentar tirar esse encanto de você.
Jenny acenou com a cabeça, desanimada, e Mielnë bateu em seu ombro, dizendo "vamos" e voltando a andar pela rua pavimentada, fazendo com que a seguisse. Passaram por uma rua só de casas pequenas e decoradas num estilo que lhe lembrava a parte antiga da cidade em que morara no Japão, totalmente diferente do estilo europa medieval da rua da casa de Lavin. Mielnë a levou para um pequeno estabelecimento aberto para a rua, de onde saía um cheiro forte e agradável de trás de um balcão alto com cadeiras pequenas e proporcionalmente altas. Várias vasilhas de diferentes tamanhos e cores com conteúdos fumaçantes e igualmente variados decoravam a parte mais alta do balcão e cardápios grandes esperavam por elas na parte mais baixa, onde sentaram.
Mielnë exclamou algo em uma língua desconhecida para alguém que estava fora de sua visão, no meio da nuvem de vapor que saía de trás do balcão, provavelmente de grandes panelas ou frigideiras, e recebeu uma resposta igualmente curta. Quando viu o olhar surpreso da garota humana, Mielnë sorriu.
-Estamos no bairro do clã das bruxas. A maioria dos clãs não fala a mesma língua, mas todos aprendem uma língua que é entendida em todos os Quatro Reinos, que era originalmente a dos humanos. No clã dos elfos aprendemos desde sempre todas as línguas, é uma questão importante sabermos nos comunicar com qualquer um que cruzar nosso caminho.
-Que legal! -Jenny soltou antes que se desse conta, fazendo a elfa rir. -Então na verdade a língua que vocês falam comigo nem é sua língua natal?
-Não mesmo.
Jenny abriu a boca surpresa, fazendo Mielnë sorrir divertida, e naquele momento uma pessoa empurrou duas vasilhas pretas para o balcão, atraindo o olhar da garota. Por alguns segundos seu olhar se encontrou com o do homem que as atendera, e um calafrio percorreu sua espinha ao ver seus olhos brancos fitarem-na, mesmo que por apenas um instante. Sentiu um formigamento esquisito antes de Mielnë chamar sua atenção outra vez, empurrando-lhe uma das vasilhas.
-Gostaria de conversar com você mais uma vez, sobre o por quê estar aqui.
Jenny a olhou surpresa, se perguntando se a elfa na verdade sabia o tempo todo por quê estava ali, mas Mielnë falou:
-Na noite em que te trouxe para a cidade, eu entrei na sua mente para ter certeza de quem você é e quais suas intenções, e descobri algo que vai muito além do que qualquer um de nós esperava. Seus pais.
A elfa lhe lançou um olhar que não conseguiu interpretar, fazendo uma pequena pausa talvez esperando uma reação de Jenny, que só prendeu o ar ao ouvir outra pessoa mencionar seus pais verdadeiros.
-Eu conheci seus pais por apenas mais que alguns minutos, mas já foi suficiente para me convencer a lutar ao seu lado. Eles fundaram a Fronteira.
O queixo da garota caiu ao ouvir aquilo, encarando Mielnë abismada, já vendo mil perguntas se formarem na cabeça da garota, prestes a saírem como um furacão de sua boca, mas levantou a mão antes que começasse.
-Antes de fazer mil perguntas, seus pais não estão mais aqui. Eu e mais representantes de cada clã cuidamos para que a cidade continue segura tanto quanto organizada, e tomamos a frente da batalha se for necessário. Naro e Leo estão treinando para se juntar a nós em breve, e você também poderá, se assim desejar.
Jenny fechou a boca ao ouvir aquilo, de repente se perguntando se Mielnë a deixaria voltar para os Cavaleiros de Dragões e continuar a missão. Mas ao mesmo tempo.. E se ficasse ali? Poderia aprender e descobrir muito mais do que com os Cavaleiros, e chamar Kenny e lhe contar tudo o que descobrira. Poderiam viver juntas na Fronteira, com Aska, e lutar contra o reino.
Lutar contra o reino?? Jenny se interrompeu, só então percebendo o que acabara de pensar.

Vejo tretas surgindo, e vocês?
Não esqueçam da estrelinha e comentem o que estão achando, se tiverem dúvidas eu respondo! <3 Até logo!

Cavaleiros de Dragões II - A Joia PerdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora