Capítulo 41

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Patrick se deixou cair no chão, sentindo todo seu corpo tenso, enterrando as mãos no cabelo desesperado. De todos os dias da sua vida, de todas as desgraças, tinha que ser justo aquele, o que tornou sua vida um inferno.
A música alta continuava na sala, mas tudo o que Patrick escutava eram as batidas aceleradas do próprio coração, e a partir dali começou a contar os minutos antes da hora em que ela apareceria. Cada tic do relógio lhe parecia muito mais alto do que deveria, e começou a pensar em formas de sair dali. Mas não havia saída. Simplesmente não podia fugir de seu passado.
A janela era suicídio, apesar de que o desespero o fazia começar a considerá-lo, a porta nem era opção, e ainda menos entrar no campo de visão das gárgulas de novo. Não havia saída.
O prato de miojo já esfriara a muito tempo largado em cima da cama, e toda a fome e apetite o abandonaram, substituídos por desespero.
O relógio marcou 03:00h e foi quando começou a acontecer. Tudo começou a se repetir, exatamente como naquela época. O volume do som diminuiu, Patrick escutou os sons de sua mãe mexendo na cozinha e limpando os cacos de vidro de seu copo de suco, a televisão ligar, risadas das mulheres bêbadas.  Barulhos de latinha caindo no chão, passos no corredor, duas batidas na porta.
Patrick sentiu a falta de ar dominá-lo e não teve forças pra se levantar quando a porta abriu, junto com a voz desagradável que invadiu seu quarto, dizendo com um bafo horroroso de cerveja Toc toc!.. e a silhueta da mulher surgir na porta.
Patrick a encarou quando ela se apoiou na maçaneta e sorriu, dizendo com sua voz arrastada de fumante:
-Por que está tão sozinho jogado aqui, garoto? -Não houve resposta da parte do garoto, e a mulher suspirou. -Vamos, se junte a nós lá na sala. Vai ser divertido.
Patrick não respondeu. Não havia o que responder. Ele encarou o chão quando o demônio olhou para o corredor uma vez e então entrou no quarto, os sapatos pontudos de salto agulha fazendo barulho no piso, e fechou a porta atrás de si, andando lentamente pelo quarto.
O garoto se levantou imediatamente quando ela começou a se aproximar, se encostando à parede fria quando ela disse com um sorriso de lado:
-Então não.. Você deve ser desses que gosta de uma coisa mais... -ela fingiu pensar, enquanto continuava se aproximando devagar. -...Privada, né?
Tudo gritava e berrava na mente de Patrick, lhe dizendo para simplesmente correr, sair dali ou fazer qualquer coisa para impedir aquela mulher, mas tudo o que conseguia fazer era ficar parado, encarando-a estático, escutando cada batida acelerada e absurdamente alta de seu coração, enquanto seu sangue parecia ter congelado nas veias.
-A propósito, meu nome é Jéssica. -ela sussurrou, agora perto demais para um ser humano comum do sexo masculino não ficar nervoso. Mas Patrick não estava nervoso. Estava desesperado. Seu cérebro não obedecia, seu corpo travou e sua respiração falhou por completo ao sentir as mãos da mulher tocarem seus ombros, deslizarem para os braços e para o peito, as unhas absurdamente grandes e vermelhas parecendo lançar cargas elétricas a cada toque.
Patrick não conseguia se mexer, seus braços estavam tensos contra a parede fria, sua garganta estava seca, fechada num nó de pânico, não conseguiu fazer nada nem mesmo quando a mulher deslizou uma das mãos para debaixo de sua camisa, o decote em V de seu vestido curto perto demais do corpo de Patrick.
O garoto começou a ofegar em busca de ar, mas seus pulmões pareciam simplesmente ter parado de trabalhar, assim como o resto de seu corpo,  tremendo tenso contra a parede como se pudesse atravessá-la, o toque da mulher abusando de seu corpo deixando-o cego de pânico, já não via mais nada de Jéssica, sua visão estava preta e apenas sentia a mulher invadir cada poro de seu corpo.
Nunca se sentira tão horrível. Humilhado. Destroçado. Os gritos de sua mente iam contra os gritos de seu corpo, cada movimento da mulher que saciava o próprio prazer destruía uma parte da mente de Patrick, fazia cada pequeno resquício do que chamava de vida se esvair em poucos segundos, encurralado contra a parede de seu próprio quarto, tendo o corpo indefeso usado como objeto sexual.
De repente Patrick arregalou os olhos com a voz familiar que invadiu sua mente, quando a mulher foi arrancada de perto dele violentamente, marcas escuras de queimaduras surgindo por seus braços e rosto, e uma figura flamejante surgiu à sua frente, invadindo a janela como um furacão e rugindo com o que pareciam ser centenas de vozes enfurecidas:
-CACHORRA FILHA DA P*#%!!!
Kenny invadiu seu quarto com toda sua fúria, seus olhos ardiam em fogo vivo e cada centímetro de seu corpo parecia irradiar uma aura de poder e ódio. Jéssica foi lançada contra a porta com um grito de terror e dor, a porta se estraçalhou e ouviram os gritos assustados das mulheres na sala, ao mesmo tempo que toda aquela realidade se desfazia novamente, em chamas e cinzas e tudo o que Patrick enxergava era Kenny.
A garota japonesa se voltou para ele, os olhos cheios de lágrimas e ela sussurrou, se aproximando:
-O que fizeram com você...?
Patrick começou a soluçar, o ar voltando aos seus pulmões, as lágrimas escorrendo imediatamente pelo seu rosto, e o alívio e felicidade invadindo-o ao olhar para Kenny, a única que poderia imaginar salvando-o daquele terror, e que o fizera com todas as suas expectativas.
Kenny envolveu-o com os braços, e Patrick chorou, puxando a garota contra si e apertando-a pra nunca mais soltar, enterrou o rosto em seu ombro e sussurrou entre soluços e lágrimas um sufocado Obrigado.. desejando apenas nunca mais sair dali e esquecer todo seu passado naquele abraço.

Esse capítulo vai ficar bem curto de novo, só pra não atrasar demais de novo, mas espero que tenha dado pra entender bem o que aconteceu aqui ^^ e claro, espero q tenham gostado como sempre <3

Cavaleiros de Dragões II - A Joia PerdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora