Capítulo 33

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Pouco antes da missão à procura da Joia se iniciar, Zimäh ainda dormia em seu coma de acumular energia, e Anastácio havia saído da arena de combate depois de machucar o ombro numa luta contra Patrick. O garoto era um excelente espadachim, e a luta nos treinos diários parecia distraí-lo de sua doença. Não se via mais vestígios da insegurança perto das garotas quando ele lutava, de todos seus instintos lhe gritando para se afastar, apenas o olhos ferozes fixados em seu oponente e sua espada.
Era agradável para a garota ruiva ver Patrick se sentindo à vontade em algo que incluísse as garotas, e não pôde deixar de pensar em Kenny e Jenny. As gêmeas pareciam ter uma ligação especial com o garoto, mesmo que praticamente nunca interagissem, Patrick já havia provado o suficiente que se importava - e não pouco - com as gêmeas.
—No que está pensando?
Anastácio saiu de seus pensamentos ao ouvir a voz meio grave se aproximando, e se virou quando Jack parou ao seu lado. A enfermeira que atendera Anastácio na enfermaria havia saído, e o jovem cavaleiro entrou despercebido.
—Você tava sorrindo. —ele voltou a falar ao se apoiar no braço da cadeira alta em que Anastácio estava sentada.
—Estava pensando em Patrick. —ela respondeu, erguendo o queixo para encará-lo de frente. —acho que vou te trocar pelo espadachim-fofinho-e-tímido.
—Você não ousaria. —Jack riu e aproximou o rosto. —pense no futuro de Kenny. Ela ficaria decepcionada se você roubasse Patrick dela.
—Tem razão...—Anastácio colocou a mão no queixo fingindo estar pensativa. —Sorte sua.
O garoto deu uma risada e puxou uma cadeira para se sentar a frente de Anastácio e tomou suas mãos, entrelaçando os dedos e seu rosto adquiriu uma expressão preocupada.
—Olha.. —começou, balançando as mãos de Anastácio sem jeito. —.. Eu sei que quando estamos apaixonados tudo é mais exagerado, ainda mais no primeiros meses de namoro e tal...
—Mas..? —Anastácio o encarou, e deu um sorriso confiante que Jack retribuiu timidamente e continuou:
—Se... Você não quiser participar na missão, diga que não quer. Você não é obrigada a participar sendo uma aprendiz e ninguém pode impedi-la se não quiser ir..
Jack olhou de relance para o rosto de Anastácio, coberto de sardas claras e contornado pelo belo emaranhado de cabelos ruivos. A garota o olhava num misto de determinação e confusão e quando Jack voltou a falar ela sorriu:
—Diga que não quer ir, Anastácio.. Você não precisa ir, é muito perigoso..
Mas a garota balançou a cabeça, acariciando as mãos de Jack com os dedos. O medo de perdê-la era óbvio no rosto, na voz, e em toda a linguagem corporal de Jack, e Anastácio o entendia, mas não deixaria de ir na missão àquela altura. Ela saíra do mundo mortal numa explosão de confusão e informações repentinas, foi "diagnosticada" com uma maldição impossível de se combater e ao mesmo tempo com os poderes divinos de deuses, e mais tarde descobriu ser a herdeira de uma família real odiada e assassinada. Não queria mais nada estilo filme ou livro de fantasia, muito menos ser a protagonista de uma dessas histórias, mas se quisesse continuar vivendo naquele mundo, teria que aprender a viver nele e os perigos e absurdos fantasiosos que ele oferecia. Se não tinha medo? Claro que tinha. Era impossível não ter. Mas enquanto não enfrentasse esses medos e descobrisse se são reais ou não, nunca iria para a frente, nunca amadureceria, se superaria e aprenderia a lidar com os desafios de sua vida. E uma das razões daquilo era Jack. Ele queria que ela ficasse em segurança, que não se arriscasse ao seu lado, e Anastácio não o levava a mal, mas ela ao contrário, queria provar que podia enfrentar o risco, que sabia se defender e defender as pessoas que amava e que sua ajuda cairia bem para o reino num momento como aquele, por menor que ela fosse.
E além de tudo aquilo ainda, queria provar para Zimäh que ela era tão boa quanto Ivan fora.

Agora, nas costas do temido dragão prateado, com Kady e Shilamir voando em Blaze e Bizza à sua frente, começava a imaginar o que a missão reservava para cada um deles.
O mapa sobre a provável localização dos fragmentos estava claro como uma foto em sua mente depois que guardara a memória com um encanto de nível médio e queimara o mapa original, e a garota ruiva começou a se perguntar se seria mais fácil do que imaginara. Quem quer que fosse o inimigo, não saberia tão cedo que tinham o mapa, e provavelmente chegariam de surpresa no lugar onde estavam os fragmentos. Lutariam, ou talvez nem isso, recuperariam o fragmento e voariam imediatamente para longe.
Não. Anastácio riu consigo mesma. Não vai ser tão fácil nem aqui nem em lugar nenhum. Não pode ser tão fácil.
E enquanto a vila em que passariam a noite surgia em seu campo de visão e os dragões começaram a descer, Anastácio percebeu que aquilo seria tudo menos fácil. Já deveria saber só de olhar para sua pequena equipe: Kady e Shilamir. O casal eram os melhores guerreiros entre os Cavaleiros, e as partes mais complicadas das missões ficavam sempre por sua responsabilidade. Lembrando da missão no mundo mortal, de encontrar e levar os jovens de volta para a Terra da Geada, Kady e Shilamir haviam pegado as gêmeas, e enfrentado mais inimigos que qualquer um dos Cavaleiros e dragões.
É... Anastácio suspirou internamente. Isso vai ser tudo menos fácil.
Não se preocupe tanto Anastácio. Ouviu a voz de Zimäh quando alcançaram a vila e pousaram no caminho calçado que levava para o seu interior.
O enorme portão de madeira da vila estava aberto para que os dragões entrassem, e guardas no topo dos muros feitos de troncos de árvores os cumprimentaram, fechando os portões logo em seguida quando os três dragões entraram.
Uma mulher baixa e idosa estava à sua frente, com quem Kady trocou algumas palavras simpáticas ao desmontar de Bizza, e a senhora lhes indicou um caminho para dentro da vila. A Cavaleira agradeceu com um acenou de cabeça e fez um sinal para Anastácio para que também descesse da sela.
—É mais respeitoso que você ande a pé ao lado do seu dragão quando entra numa vila ou cidade que não é a sua. —Kady explicou quando a garota desmontou e parou ao seu lado, assim como Shilamir. —É um sinal de humildade, de que você está no mesmo nível que qualquer pessoa, e não mais superior. Alguns nobres e generais gostam de permanecer na sela de seus cavalos quando andam pelo povo, pra mostrar que são superiores e que você tem que olhar para o alto para vê-los. E da mesma forma, se você é um cidadão comum, ou seja, está abaixo dele, você deve desmontar seu cavalo quando estiver na presença de pessoas como ele.
—Nossa.. —Anastácio comentou, levantando uma das sobrancelhas. Mas antes que pudesse falar mais qualquer coisa, haviam chegado mo endereço que a senhora de antes indicou, e uma mulher mais jovem os esperava na escada de uma velha e bonita pousada de madeira.
Ela se dirigiu a Kady, fazendo uma reverência e beijou sua mão, falando num sotaque marcante que Anastácio nunca ouvira antes:
—Senhora Cavaleira, fico tão feliz que tenham chegado.. — ela olhou em volta, para a rua, como se temesse algo, e abriu caminho para os três Cavaleiros e seus dragões. —Por favor, entrem. Infelizmente não temos lugar reservado para os vossos dragões, mas humildemente lhes ofereço o celeiro.. Ele não é tão grande, mas é o maior da vila, Senhora.
—Está tudo bem. —Kady lhe mostrou um sorriso confiante e a moça sorriu insegura de volta, fazendo uma reverência para os dragões ao lhes mostrar o caminho para os celeiros. Enquanto a moça desaparecia com os dragões na parte de trás da pousada, os três cavaleiros entraram na recepção do lugar, que era grande e espaçosa, com vários sofás e pequenas mesas, e um luxuoso lustre de vidro pendurado no teto. Enquanto se sentavam para esperar a mulher voltar, Shilamir comentou preocupado:
—Tenho a impressão de que ela estava muito aliviada coma nossa chegada... Vocês acham que há algo de errado?
Kady acenou devagar com a cabeça enquanto Anastácio olhava de um para o outro, e Shilamir prosseguiu:
—Pode ser que algo tenha acontecido relacionado à Joia.. Ou ao ladrão dela...
Mal ditas as palavras, ouviram um rugido assustado e em seguida um grito agudo da moça que os recepcionou à poucos instantes, fazendo os três se levantarem num salto, as mãos repousadas sobre o punho de suas armas.
—E falando no demônio...

Informação desnecessária: meu celular rachou a tela toda e meu teclado ta todo bugado agora, to muito triste.
Espero que estejam gostando como sempre, qualquer dúvida que tiverem, comentem, ou me mandem mensagem se preferirem. E até o próximo capítulo <3

Cavaleiros de Dragões II - A Joia PerdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora