Capítulo 87

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Kenny sentiu como se caísse para trás de repente, o peso de sua cabeça levando o corpo junto, pra dentro de uma poça de escuridão.
A surpresa de ver a pessoa que a vigiaria quando voltasse para os Cavaleiros foi substituída por náuseas tão rápido quanto chegara, enquanto sentia como se sua mente fosse separada de seu cérebro. Ela tinha dito que poderia doer, mas aquilo era uma sensação muito pior do que apenas doer.
A guia do museu em Fauhk. Depois de descobrir que aquela garota era membro dos rebeldes, Kenny não duvidava de mais ninguém nem nada, daqui a pouco descobriria que todos os outros aprendizes já estavam sendo rebeldes desde o início e ela que era a atrasada.
Sho entrou em sua mente com a sensação de que estava mais substituindo-a pela sua do que apenas se alojando em um cantinho para observá-la, e Kenny não se surpreendeu quando o encanto foi finalizado e a primeira coisa que fez foi se dobrar para a frente e despejar todo o conteúdo asqueroso de seu estômago aos pés do rebelde que fora encarregado de segurá-la se caísse.
Tentou murmurar um pedido de desculpas ao rapaz, apesar de que não teve certeza se saiu algo compreensível, mas a julgar pelo sorriso compreensivo dele e da mão oferecida para ajudá-la a se levantar, ele já lidara com aquilo antes.
-Não consigo tirar da cabeça que você é uma guia de museu.. -Kenny grasnou para Sho, se perguntando logo em seguida por quê dissera aquilo. -Desculpe..
Sho apenas riu, e Kenny não teve tempo de dizer mais nada, pois sentiu sua cabeça tombar para trás outras vez, dessa vez de verdade, quando o rebelde levantou-a e jogou-a sobre o ombro, fazendo a garota murmurar confusa:
-E-eu consigo andar... -mas logo após dizer aquilo percebeu que não conseguiria, e agradeceu o rebelde internamente por ignorá-la. 

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Anastácio acompanhou a elfa ainda com o coração martelando em seu peito, sentindo como se andasse contra a correnteza enquanto se afastava cada vez mais da direção em que estava Jack. Yaliuka a levara para um caminho largo com menos moradias do que o primeiro que viera com Tsu, onde as árvores formavam um túnel ao encontrarem seus galhos sobre suas cabeças, e depois de algum tempo o chão começava a mudar, passando de terra coberta por folhas secas para grandes pentágonos de pedra esbranquiçada.
Anastácio teve a impressão de que entravam em uma área mais nobre, apesar de que a própria cidade élfica já lhe parecia mais nobre que qualquer cidade humana, e enfim tomou coragem para perguntar:
-E-eu não posso falar com Jack?..
-Não agora, -Yaliuka respondeu, sem olhá-la, os olhos voltados para a frente. - estaríamos interrompendo-os, e eu não sei pra vocês humanos, mas pra nós interromper uma conversa não é muito respeitoso.
-C-claro.. -Anastácio disse, se sentindo culpada. -Me desculpe.
Quando olhou para a frente outra vez, as árvores haviam se aberto um pouco, e no final do caminho uma construção que parecia ser feita da mesma pedra do caminho começava a entrar no campo de visão, que parecia também antecedida ou rodeada por um lago. Uma ponte parecida à do começo levava até a construção, e conforme se aproximavam e era possível enxergar detalhes, o queixo de Anastácio começava a cair.
Não havia palavras além de esplêndido para descrever a construção que se assemelhava a um castelo, mas ainda era diferente de apenas um castelo, e menor - não que fosse pequeno - e parecia se encaixar perfeitamente no centro da clareira, como se estivesse lá desde sempre. E só então Anastácio percebeu que a construção estava dentro do lago, e suas janelas mais baixas estavam pela metade abaixo da superfície.
-A conversa de Jack e Shuen termina aqui, -Yaliuka se manifestou quando atravessavam a ponte. - Ele deveria meditar aqui, como conclusão do ritual de retorno, mas eu avisei Shuen da sua chegada e ele disse que devem se encontrar e que aqui é o lugar adequado pra tal, tanto por ser o destino final de Jack quanto por ser uma atmosfera divina, e um lugar onde podemos nos livrar das nossas barreiras.
Anastácio permaneceu em silêncio, e alcançaram o fim da ponte, onde logo começava a entrada da enorme construção - que, a julgar pelo que a elfa dissera, supôs agora ser um templo - um arco pontudo levava para o interior, onde uma escada larga e de degraus baixos levava meio andar para cima. Grossas colunas sustentavam o teto, decoradas com desenhos encaracolados esculpidos na pedra, as paredes arredondadas eram cobertas por longos tapetes bordados com desenhos detalhados de diferentes figuras que Anastácio julgou serem deuses, e uma luz azulada vinha da parte de dentro do enorme salão que não era visível da base da escada, refletindo no teto, que a garota reparou só então, parecia ser feito de madrepérola.
Mas antes que subissem as escadas, Yuliuka parou, fazendo Anastácio imitá-la, e disse:
-Suba sozinha. Jack saberá que tem alguém esperando-o quando chegar, e Shuen também não vai entrar. - Anastácio fez que sim com a cabeça quando a elfa fez uma pausa, e ela prosseguiu: - Mas peço que enquanto estiver aqui, saiba por quê está aqui, e as consequências disso na pessoa que veio procurar. O destino está escrito pra todos nós, Anastácia, e apesar de termos o poder de forçar um caminho diferente, o fim sempre continuará o mesmo. Lembre-se disso.
E com aquelas palavras a elfa saiu, deixando Anastácio sozinha na entrada do enorme templo, começando a duvidar de sua vontade de subir aquelas escadas. De repente o chão liso parecia muito mais frio sob seus pés, e Anastácio se sentiu pesada ao dar um passo na direção da escada.
Uma presença distante tocou sua mente quando pisou no primeiro degrau, mas parecia tão pacífica quanto o silêncio daquele lugar,  e Anastácio não lutou contra ela, que parecia acompanhá-la enquanto subia as escadas, como se desse cada passo que a garota também dava.
O teto do lugar se abria num buraco circular, contornado por arcos entalhados com escrituras da língua antiga, pelo qual entrava a luz azul que vira antes, entrando em raios suaves num pequeno lago construído no chão logo abaixo.
Mais distante, no fundo do salão, se erguia uma altar largo, no qual repousavam diferentes tipos de instrumentos musicais, alguns que Anastácio nunca vira, e mais acima, no topo do altar, estava uma longa espada, de punho levemente curvado, assim como a lâmina lustrosa, e um fio verde esmeralda atravessava  a cruzeta curta e o meio da lâmina, afinando até desaparecer pouco antes da ponta.
Anastácio se aproximou do lago sob a abertura no teto, se sentindo atraída pela energia suave que aquela luz parecia emanar, desejando ver de onde ela vinha, mas um barulho na entrada do templo a fez se encolher, voltando à realidade.
Seu coração voltou a disparar em seu peito quando se virou para a direção das escadas, e o pensamento de Jack subindo-as a fez congelar no lugar, incapaz de pensar ou se preparar para o que quer que fosse ser sua reação ao vê-la. Mas sentiu que mal passara meio segundo desde que ela mesma entrara no templo até o momento em que Jack estava parado à sua frente de repente, encarando-a de expressão vazia.
Seu cabelo bagunçado havia sido cortado pela metade, batendo agora no maxilar, e ele segurava a grossa mecha que faltava na mão direita, amarrada numa fita azul. A mecha caiu, em silêncio, e a visão de uma pena castanha em seu lugar atravessou a visão de Anastácio, antes que alcançasse o chão, sem som algum, na forma de uma mecha outra vez.
O sussurro rouco de Jack atravessou o salão, lhe parecendo nada mais que um eco em sua mente:
-Anastácio...?
A garota fez que sim com a cabeça, lágrimas silenciosas escorrendo pelo rosto contorcido pela tentativa de não chorar.
O intervalo em que nenhum dos dois se moveu lhe pareceu uma eternidade, e viu a dor e desesperança que lhe causara estampada no rosto de Jack ao reviver as memórias que o fizeram estar ali, fazendo Anastácio se odiar por ter voltado, por estar ali, na sua frente.
Deu um passo hesitante na direção de Jack, e ele pareceu ser arrancado de um transe de repente, e sua expressão se transformou em confusão, tentando em vão segurar as lágrimas, e também se aproximou, hesitante, até enfim estarem pertos o suficiente para se tocarem.
Jack ergueu a mão, tocando uma mecha rebelde que caía no rosto de Anastácio e afastando-a, tão leve que mal sentiu-o, parecendo totalmente desacreditado, sua mão tremia, e suas sobrancelhas se arquearam num choro silencioso ao sussurrar:
-V-você tá.. Aqui..?
Anastácio fez que sim outra vez, soluçando, agarrando a mão do garoto e apalpando o próprio rosto com ela, obrigando-o a tocá-la e perceber que era real.
Só então Jack pareceu ter percebido que ela não era uma ilusão ou um fantasma, e soluçou, abraçando-a de repente, apertando-a com força e enterrando o rosto em sua juba cor de fogo.
Se abraçaram como se nunca mais fossem se soltar, e choraram como se estivessem prestes a morrer e se perder outra vez.
O tempo pareceu parar ao seu redor, e Anastácio apertou o rosto contra o pescoço de Jack, desejando afundar naquele momento e esquecer tudo que acontecia do lado de fora, abraçando a cintura do garoto e sentindo seus braços ao redor de seus ombros e sua cabeça, espremendo-a contra si.
-Me desculpa... -Jack sussurrou agora, trêmulo. - ..desculpa por te deixar sozinha...
Anastácio apenas chorou, incapaz de falar qualquer coisa, balançou a cabeça positiva- depois negativamente, tentando olhá-lo e dizer que não era sua culpa, mas tudo que saiu foi um soluço choroso.
Jack segurou seu rosto, secando suas lágrimas, beijando sua testa antes de abraçá-la outra vez e dizer:
-Eu prometo que nunca mais vou deixar você passar por isso... Enquanto eu estiver vivo você nunca mais vai estar sozinha.

Eu sei que demorou, e eu enrolei, mas eu vou me esforçar pra postar os últimos capítulos logo e começar a publicar o terceiro livro logo também. O segundo demorou o dobro de tempo que o primeiro, e eu vou tentar não demorar tanto no terceiro. Mas em compensação o segundo já tá melhor que o primeiro, na minha opinião, porque tem muuuita coisa pra melhorar no primeiro. Eu sinto vergonha lendo ele e vendo como eu escrevia mal T-T
Mas me perdoem pela always demora, e não desistam da leitura hahaushu
Até logo <3

Cavaleiros de Dragões II - A Joia PerdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora