Quando Akira voltou, disse que sua mãe tinha ido se deitar um pouco, depois de fazê-lo jurar que não deixaria Kenny sair dali sozinha, e o garoto suspirou, parando em frente à mesinha em que Kenny estava.
Olhando-o assim, magro e pálido, com as mãos nos bolsos e o olhar perdido, a garota teve a impressão de que algo mais estava errado, porém, não sabia dizer se com ele ou com sua mãe.
-Akira.. O que o preocupa? -perguntou agora, atraindo seus olhos escuros. Primeiro ele hesitou, se mexendo desconfortável e olhando para os seus pés, e Kenny o fez olhá-la novamente quando se levantou e esticou a mão aberta.
O irmão pegou sua mão hesitante, e Kenny sentiu-a tremendo, percebendo que seus olhos já se enxiam de lágrimas outras vez, encarando-o surpresa e sussurrou:
-Akira... Está tudo bem! Venha, O que foi...?
O rapaz soluçou quando ela o puxou para um abraço e apoiou sua cabeça em seu ombro, envolvendo-a com as mãos desajeitado e Kenny deu tapinhas em suas costas, levando-o para a varanda quando se acalmou relativamente. Depois de alguns segundos de silêncio e Kenny ter secado suas lágrimas com as abas do kimono, ele finalmente começou:
-Desde que vocês sumiram.. A mamãe só tem piorado. Eu tentei fazê-la superar e dizer a ela que era melhor superar.. Mas parecia que ela estava se corroendo por dentro, como se fosse culpa dela, sendo que mesmo ela sabia que não era!
Kenny franziu as sobrancelhas ao ouvir aquilo, sua mãe estava doente, sofrendo por "nada".. Poderia parecer exagero, mas conhecia aquela mulher e sabia que era dramática, mesmo quando se tratava do desaparecimento de suas filhas. Ela não queria superar, não queria mostrar ao mundo que poderia continuar vivendo depois daquilo.
-Não podemos ajudá-la. -disse Kenny, fazendo Akira olhá-la assustado.
-Você sabe que só estaremos gastando nosso tempo com ela, porque quanto mais cuidar dela, mais ela vai se fazer de vítima, e eu sei o quanto isso soa horrível. Confie em mim Akira..
Seu irmão abaixou a cabeça, deixando uma lágrima cair na madeira clara da varanda, e Kenny apertou sua mão, sabendo o quanto Akira odiava aceitar aquilo. Ficaram assim por minutos ou horas, observando o vento ondular a plantação à sua frente, enquanto pensavam no que fazer e esperavam algo acontecer relacionado ao mundo de Kenny. Em certo momento, Akira se mexeu e se virou para Kenny, surpreendendo-a ao olhá-la nos olhos, coisa que antes nunca fizera.
-Mande um abraço pra Jenny quando voltar... E diga à ela que eu sinto muito.
Kenny balançou a cabeça positivamente e sorriu, sentindo o rosto esquentar com as lágrimas que agora enxiam seus olhos, vendo o sentimento daquela frase pesar em sua mente, e Akira abraçou-a mais uma vez, enterrando o rosto em seu cabelo.🐉🐉🐉
Jack acordou outra vez, pela quarta naquela noite, sentindo a mente adormecida de Syla abaixo de si, embaixo da árvore em que passavam a noite, numa casa élfica abandonada.
Há muito tempo os elfos não se dividiam dos humanos, e viviam em florestas perto de cidades humanas sem problemas, construindo suas casas nas árvores sem agredir a natureza. Mas depois que a família Aranlin "saiu do poder", os elfos abandonaram os lugares perto dos humanos, e ver casas de árvore abandonadas no meio da floresta era relativamente normal, assim como a que ocupavam agora, depois de horas de vôo sem encontrar uma vila ou cidade para ficar.
Mas Jack se rolava em seu saco de dormir, a cada meia hora dormindo e acordando pouco tempo depois, suando e tremendo, não conseguindo tirar a imagem da cabeça de Jenny e Kenny desaparecendo diante de seus olhos, como poeira.
Aska enlouqueceu quando as gêmeas desapareceram sem aviso ou motivo visível, e Sam nem Jack ou seus dragões foram capazes de segurar o dragão negro antes que saísse em disparada para longe deles, sumindo num piscar de olhos entre as nuvens grossas.
Syla imediatamente fizera menção de ir atrás, mas Sam impediu-a, dizendo que a missão era sua maior prioridade. Fez-os voar por horas e horas, esperando a próxima cidade aparecer, mas tudo o que viam eram florestas e planícies, até que, pouco antes do anoitecer, Jack disse que dali ele não passava, pois precisavam descansar. Sem esperar uma resposta do mestre, Syla pousou no meio da floresta e logo encontraram a casa élfica, na qual se hospedaram.
Jack! O garoto estremeceu, caindo da armação de madeira da velha cama com o susto, olhando em volta com o coração acelerado.
Ficou parado por alguns longos segundos, esperando a origem da voz aparecer, mas tudo o que escutava era o barulho do vento e o ranger da madeira contra a árvore, trancando a mente contra qualquer ataque ou invasão de sua consciência. Olhou por uma fresta no chão, para onde Syla dormia ao lado de Pikan em volta da árvore, mas pelo visto apenas Jack havia escutado.
Lentamente liberou sua mente, procurando outros seres vivos à sua volta, passando por animais à procura de uma mente humana que pudesse ser aquela voz. Se encolheu outra vez e imediatamente se recolheu ao encontrar a consciência do ser que tocou sua mente instantes antes, tão pouco humano quanto animal.
Imediatamente ergueu sua guarda ao perceber que o ser se aproximava, e saltou da cama agarrando o punho de sua espada, e se aproximou com cuidado de uma das janelas do quarto, olhando para fora.
Ficou longos minutos esperando, ainda sentindo a presença perto dali, parecia ir e voltar tentando encontrar sua localização. Jack soltou a espada e preparou seu arco quando escutou folhas se mexerem e galhos quebrarem a alguns metros de sua árvore, mas logo soltou também a arma, ao ver a luz espectral que se movia entre as árvores em sua direção.
Não é alguém vivo..! Percebeu surpreso, usando agora encantos para se preparar para qualquer ataque, fosse o que fosse. De repente a luz sumiu, e Jack recuou em alerta, esperando que algo acontecesse, mas vários segundos se passaram e mais mada se moveu, fazendo-o pensar que talvez fora apenas um espírito perdido, ou uma alma tentando encontrar o caminho da Ilha da Vitória.
Era "comum" a aparição de seres assim, do plano celestial, procurando um caminho para a vida pós-morte, ou presos aos seus pecados no mundo, ou qualquer outro motivo que os segurava naquela dimensão até que encontrassem sua paz interior.
Jack relaxou e se afastou da janela ao perceber que nada aconteceu, se voltando novamente para seu saco de dormir na armação velha, mas reprimiu um grito ao dar de cara com uma forma espiritual, logo à sua frente.
Oar fugiu de seus pulmões de desespero quando o ser espectral surgiu à sua frente, Jack arregalou os olhos arquejando e recuou, baixando toda a barreira de proteção que tinha criado em volta de sua mente, e no mesmo instante sentiu a mente inimiga perfurando a sua.
Tentou em pânico reerguer seus encatos enquanto tentava em vão respirar, quando percebeu de repente e com surpresa que o ser não pretendia lhe causar mal algum, quando permaneceu parado e não invadiu totalmente sua mente; parecia analisá-lo ou procurar por algo.
Só então, quando sua respiração começou a voltar normalmente, olhou diretamente para o ser, confuso pela intervenção repentina. Era o espírito de uma mulher, alta e fina, de curvas definidas e duas longas tranças descendo os ombros. O rosto fino e elegante, contornado por franjas longas e onduladas de cada lado, olhos grandes e sobrancelhas grossas e bonitas. Tinha orelhas pontudas e uma boca larga, e Jack a encarou sem palavras, sentindo seu estômago embrulhando, suas sobrancelhas estremeceram e sentiu o rosto esquentar, assim como os olhos que se enxeram de lágrimas.
Sua garganta deu um nó doloroso quando Jack sussurrou trêmulo:
-Mãe...?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Cavaleiros de Dragões II - A Joia Perdida
AventuraLIVRO 2 Após a batalha bem-sucedida contra o inimigo de anos da Terra da Geada - Saguhr - Luana assume o trono do reino gelado como rainha herdeira de Kassandra. Porém a felicidade da vitória na guerra não dura muito, visto que novos perigos ameaçam...