Capítulo 103

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Era finalmente a noite do Baile de Inverno. Era como se tivessem chegado no momento da decisão final - qual decisão era essa, parecia ser critério de cada um - e a mente de Kenny se afastava mais a cada minuto que passavam no aposento da alfaiata.

Criadas vestiam as três aprendizes sob o olhar crítico da mulher, ajustando dobras aqui e ali e fazendo perguntas sobre a aparência e conforto, que as três respondiam vagamente. Talvez Kenny não era a única perdida em pensamentos.

-Meu vestido tem bolsos! - ouviu Jenny soltar surpresa quando estavam totalmente vestidas e preparadas, olhando a irmã para vê-la enfiar as mão nas dobras sedosas de seu longo vestido azul bebê até seus cotovelos desaparecerem no tecido. - E são fundos...

-Use-os com sabedoria. -a alfaiata respondeu com um sorriso divertido, enquanto dava uma última inspeção aprovadora em suas obras antes de deixar o aposento com uma das criadas, arrancando Kenny de seus devaneios.

Voltou à realidade, se lembrando de que também estava vestida como uma nobre da Europa Medieval, e se virou para o espelho, imitando automaticamente o gesto da irmã de checar as dobras elegantes de seu vestido. Também tinha bolsos, e também eram anormalmente fundos.

-Deve ser pra furtar os doces. - disse, apesar de não achar graça do próprio comentário, pensando mais no comentário da alfaiata do que no seu.

-O meu também tem, mas acho que era de se esperar. - Anastácio disse agora, fazendo as gêmeas olharem-na.

Para sua surpresa não usava um vestido elaborado e pomposo como o seu e de Jenny, mas um terno branco e elegante, com detalhes prateados no peito e nas mangas, e uma faixa larga de tecido mais sedoso como o de seus vestidos em volta da cintura.

-Se eu soubesse que podia usar calça eu também teria pedido um terno! - Kenny exclamou, chocada com a beleza de Anastácio, fazendo a amiga sorrir e abrir a boca, mas antes que pudesse dizer o que quer que estava prestes a dizer, um criado apareceu na porta e com uma reverência pediu que as aprendizes o seguissem se estivessem prontas.

Foram escoltadas para o enorme salão de entrada, para uma longa fileira de carruagens que aguardavam no pátio do castelo, onde todos os nobres possíveis embarcavam, e assim que entraram, a fileira começou a se mover.

-O baile não é no castelo? - Jenny sussurrou quando a porta da carruagem foi fechada atrás das três, e Kenny deu de ombros. -E os dragões?

Nesse momento Anastácio olhou para fora da janela, instintivamente na direção dos celeiros dos dragões. Sem sinal de Zimäh nem qualquer outro dos dragões desde a noite do dia anterior, e lentamente começava a ficar preocupada.

No momento em que deixaram os portões do castelo, as carruagens foram escoltadas por soldados da cavalaria, quatro para cada carruagem e tanto homem quanto cavalo fortemente armados, fazendo as aprendizes trocarem olhares nervosos.

-Deve ser pra todos esses nobres.. - Jenny comentou, o que não acalmou nenhuma das três apesar de fazer sentido.

Enfim chegaram ao seu destino, depois de uma viagem longa e desconfortável em que não tiveram coragem de trocar uma palavra pessoal com medo de serem ouvidas, e estavam diante de uma enorme construção arredondada, que parecia ser feita inteiramente de enormes janelas de vidro, no topo de uma colina rodeada de uma floresta de pinheiros.

Longos estandartes azuis com o brasão da Terra da Geada estavam pendurados de cada lado do enorme arco de entrada, e perceberam serem a última carruagem a chegar quando desceram do veículo e a longa fileira já descia o caminho que viera, desaparecendo na escuridão dos pinheiros.

Só então Kenny percebeu com um susto que John estava parado ao seu lado com um sorriso e a mão estendida, a Shilamir e Edward ao lado de Anastácio e Jenny. Pegou a mão do Cavaleiro com um sorriso inocente, e foram escoltadas para a entrada.

Cavaleiros de Dragões II - A Joia PerdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora