Patrick acordou de súbito sentindo os braços de alguém segurando suas pernas, sua cabeça apoiada no ombro do indivíduo e seus braços jogados por cima deles, e parecia não ter muito mais idade e tamanho que Patrick, apesar de estar levando-o nas costas. Quando o garoto se mexeu depois de acordar, o outro sussurrou:
-Fique quieto, ou vão te fazer andar, e você não está em condições.
Patrick ficou imóvel, preferindo seguir seu conselho até que chegassem, onde quer que fosse. Sentia o gosto de sangue na boca, sua barriga doía horrores e a posição em que estava pendurado nas costas do outro garoto era desconfortável, mas supôs que não tinha escolha senão continuar se fingindo desmaiado até algo diferente acontecesse.
Você tá bem? Patrick se encolheu com o toque da mente de Kenny , e o garoto que o carregava lhe deu um cutucão com o cotovelo como um aviso para não se mexer. Patrick abriu os olhos com cuidado, percebendo o inchaço que o impedia de abrir o esquerdo totalmente, olhando para a única direção possível na posição em que estava, que por sorte era onde a garota estava, com pulsos e pés acorrentados, largos apenas o suficiente para que pudesse andar. Seu cabelo negro com a mecha branca estava desgrenhado como se tivesse se metido em outra briga, mas de resto ela parecia bem.
Estou ótimo. Patrick ironizou, mas viu um sorriso discreto surgir no rosto da amiga, e percebeu que ele mesmo sorriu apesar da dor lacinante em seu corpo e rosto, não exatamente amenizada pelo movimento do garoto andando com o peso de seu corpo.
Percebeu que há pouco tempo atrás não seria nem capaz de manter contato mental com Kenny, muito menos brincar com ela numa situação como aquela. Apesar de que a sensação da mente da garota dentro da sua ainda lhe causava um certo nervoso, de repente sentia-se seguro com ela e sua presença o fazia se sentir bem, sem que entedesse como aquilo aconteceu.
Naquele momento adentravam os portões enormes de uma cidade ou vilarejo cercado com uma enorme muralha de troncos de madeira, e viu Kenny subir numa carruagem negra ao comando de um dos bandidos que os escoltavam, fechando os olhos ao se lembrar que deveria estar inconsciente, e logo sentiu mãos grosseiras agarrarem-no e o impacto de seu corpo com o interior da carruagem. Escutou o barulho de chicotes do lado de fora e instantes depois estavam em movimento.
-Pode abrir os olhos.. - ouviu Kenny sussurrar perto de si, vendo-a logo depois sentada no banco à sua frente, de costas para a parede onde estaria o cocheiro do lado de fora. Seus olhos escuros e puxados o observavam preocupados, e Patrick se ergueu com dificuldade, arfando de dor quando se encostou no assento e por alguns segundos sua vista ficou turva. Sentiu mais forte o gosto de sangue na boca, e a voz de Kenny alcançou brevemente seus ouvidos:
-Respira fundo!.. A ferida é interna..
Percebendo que o garoto não teria forças nem pra falar Kenny se sentou ao seu lado e amparou seu corpo no momento em que caiu outra vez, a dor entorpecendo todos seus sentidos.
Não se levanta, você tá muito ferido. Falou em sua mente, na esperança de que a escutasse melhor assim, e suspirou aliviada ao perceber que ele ainda estava consciente quando respondeu:
Eu.. Vou morrer...?
Patrick ouviu Kenny rir nervosa com aquela pergunta, ao mesmo tempo que sentiu sangue misturado a saliva escorrer do canto de sua boca, fraco demais para limpá-lo.
Não se eu puder te curar. A garota disse, levantando as correntes de seu pulso. Trocaram minhas algemas quando o garoto que tava te carregando apareceu, mas...
Patrick sentiu o desespero em sua voz ao vê-lo sangrar, e um sono incômodo começava a dominá-lo, tendo que se esforçar para absorver as palavras dela.
Mas...? Perguntou com enorme esforço, e Kenny respondeu hesitante:
Eu tenho que tocar sua barriga pro encanto fazer efeito... Não quero invadir seu espaço, você sabe..
Vá em frente... Patrick respondeu fraco, já sentindo sua mente se afastando lentamente de tudo à sua volta, e mal percebeu quando Kenny o deitou de volta ao banco e se afastou.Um choque percorreu seu corpo e Patrick acordou de repente com o toque gelado dos dedos de Kenny em sua pele quando levantou sua blusa na altura das costelas, como um gatilho trazendo de volta a imagem de seu trauma com todos os detalhes.
Kenny se encolheu quando Patrick agarrou sua mão tentando afastá-la de seu corpo, e seus olhos se encheram de lágrimas quando viu o que passava em sua mente, resistindo as tentativas do garoto de afastá-la; tinha que fazer aquilo ou ele morreria.
Sentiu uma dor aguda atravessar sua cabeça quando a mente de Patrick tentou afastá-la e se defender da magia do encanto que os conectava, quase fazendo-a desistir ao sentir o sofrimento do amigo como se fosse o seu.
Quando o encanto terminou, Kenny se encolheu no outro canto da carruagem, sentindo lágrimas quentes escorrerem por seu rosto e uma enorme culpa se formando em sua consciência pelo que havia feito, mesmo que fosse para salvá-lo. Tinha trazido de volta a lembrança do estupro à mente de Patrick, e mesmo tendo o colocado em um sono profundo logo depois, talvez ele voltasse a ser como era antes..
Kenny chorou em silêncio, se aproximando novamente do garoto inconsciente, colocou a mão sobre sua testa ao proferir entre soluços um encanto de esquecimento, e sussurrou em seguida, escondendo o rosto em seu ombro:
-Me desculpa...Esse capítulo vai ser meio curto em comparação aos outros, mas é só pra não ficar muito tempo sem postar de novo okay? Espero que estejam gostando :3
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Cavaleiros de Dragões II - A Joia Perdida
AventuraLIVRO 2 Após a batalha bem-sucedida contra o inimigo de anos da Terra da Geada - Saguhr - Luana assume o trono do reino gelado como rainha herdeira de Kassandra. Porém a felicidade da vitória na guerra não dura muito, visto que novos perigos ameaçam...