Jack encarou o papel amarelado da carta na mesa à sua frente, ainda selada com a gota de cera amassada pelo brasão em seu centro, observando seus dedos de metal passarem pelo papel com insignificância. Os detalhes arredondados das divisões dos dedos e articulacões eram até bonitas, e se viu pela primeira vez admirando o braço que até então evitava até mesmo olhar. Quem quer que o tivesse feito havia feito um trabalho incrível e certamente envolvido todo o amor pela sua profissão naquela obra, pois delicadas fissuras haviam sida entalhadas em todo o metal, se representando veias ou apenas uma expressão artística, não sabia dizer.
Um baque abafado chamou a atencāo do guarda do lado de fora da porta quando a pequena mesa foi parar a pouco mais de um metro de distância com o movimento violento de Jack, que dispensou o homem com rispidez ao vê-lo parado à porta, prestes a perguntar se estava tudo bem. O guarda saiu envergonhado e Jack bateu a porta, já não se importando com o fato de mais alguém vendo suas lágrimas, e recolheu a carta agora amassada no chão, saindo depois de prender seu arco e sua aljava às costas.
Um grito silencioso parecia rasgar seu peito constantemente quando saiu para o ar gelado do pátio do castelo de Yonara, e olhou mais uma vez para trás, quase que inconsciente. Sua mão trêmula esmagara a carta e o selo vermelho nela sob a força desesperada que precisava soltar, sabendo que não precisava lê-la para saber o que dizia; por um momento sentiu o toque tímido de Syla em sua mente, e sabendo que a dragonesa o esperava do outro lado daquelas paredes sólidas e enormes janelas decoradas com estandartes azuis, obrigou sua mente a sair daquele transe depressivo e febril, para dizer:
Eu voltarei pra te buscar, Syla.. Espere por mim.
E se virou outra vez, na direção dos grandes portões do castelo, e percebendo que os guardas não o deixariam passar sem uma permissão de um Cavaleiro, armou seu arco, já vendo com indiferença as expressões confusas mas hostis dos soldados com seu movimento. Porém, hesitou por um segundo, e antes de apontar a flecha, sussurrou mais uma vez:
Eu prometo.
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Jenny galopou por algum tempo, as instruções de Mielnë ecoando em sua mente, cada palavra da elfa passando em sua voz na cabeça da garota sobre por onde deveria galopar e onde deveria trotar e quando deixar seu cavalo descansar assim como ela mesma. O mapa que lhe dera estava agora dobrado no bolso de seu colete, enquanto acelerava pela enorme reta que tinha à sua frente e lembrava ainda da despedida da Fronteira.
Os representantes da cidade na montanha haviam se juntado no portão principal tanto para se despedir com formalidade da garota quanto para conhecê-la naquele último momento, e se emocionou com a sincera confiança e respeito que cada um dos representantes lhe mostrou. Recebera um forte cavalo de batalha de Mielnë, que lhe disse ser um de seus melhores cavalos e que a carregaria para o inferno e de volta se assim desejasse. Jenny agradeceu com todo seu coração, e após trocar uma palavra com cada uma das pessoas ali, estava prestes a montar o cavalo quando o representante dos anões a impediu.
O homem segurou sua mão com firmeza, e olhando-a nos olhos abriu a palma da garota e colocou nela o cabo da poderosa lança de duas lâminas que até então estivera presa na sela de seu bode de batalha. Jenny o encarou chocada, ao que ele disse:
-Você tem a força de um dragão, minha filha, e o coração de uma fada. Eu a vi lutando na arena por um curto instante, e nada me tira a convicção de que tem o talento para empunhar esta arma. Leve-a, seu nome é Lin, e jamais use-a a não ser que tenha certeza de que não há outra saída. Que o vento sopre às suas costas e a lua ilumine seu caminho, seja na estrada para Yonara ou de volta para a Fronteira.
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Cavaleiros de Dragões II - A Joia Perdida
AventuraLIVRO 2 Após a batalha bem-sucedida contra o inimigo de anos da Terra da Geada - Saguhr - Luana assume o trono do reino gelado como rainha herdeira de Kassandra. Porém a felicidade da vitória na guerra não dura muito, visto que novos perigos ameaçam...