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-Nova York, 13 de novembro de 2017.

Tateio o espaço ao meu redor, procurando pelo maldito alarme que toca sem parar. Dormi apenas duas horas, não me sinto forte o suficiente para levantar, mas faço isso.

Meus músculos estão doloridos, minha cabeça latejando e sinto uma ânsia de vômito por conta da bebedeira da madrugada. Caminho cambaleando até o banheiro, onde finalmente consigo ter um vislumbre da minha aparência.

Há restos de maquiagem em meu rosto, algo que claramente passou despercebido quando cheguei em casa pela madrugada, com uma tontura e torcendo para chegar logo até minha cama. Meu cabelo está bagunçado, embaraçado a ponto de que não consigo sequer pentear com os meus dedos para disfarçar. Os olhos inchados, sempre acabo chorando demais quando bebo.

Bocejo e coço meus olhos antes de voltar para o quarto, onde abro as cortinas e percebo que há uma nova mensagem de Gerald. Ele não estava conosco ontem, insistiu para que eu ficasse em casa, mas quem resiste a uma balada de domingo? As mensagens são curtas, mas são várias delas. A maioria dizendo que devo estar na sunset às nove.

São oito e quarenta.

Balanço a cabeça, me xingando por ter sido tão descuidada. Gerald está louco para fechar esse contrato, talvez seja um dos mais importantes da minha carreira, se não O contrato. Jogo o celular na cama, corro para achar uma roupa, mas levanto meus braços e percebo que é impossível sair sem ao menos tomar um banho.

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Chego às nove e quinze. Tentei não me atrasar, mas o carro estava quebrado, então precisei vir de moto, e mesmo ignorando os semáforos, cheguei atrasada. A reunião estava em andamento, ninguém mais podia entrar. Nem eu. Acho que esse é um fato interessante, porquê, quando se tem dinheiro, nos sentimos imparáveis, como se tudo estivesse ao nosso redor. Ser jovem também é assim, então acho que por esse motivo eu realmente acreditei que esses minutos seriam ignorados e eu poderia entrar na sala. Mas isso não acontece, o que faz Gerald cobrir o rosto quando me vê e balançar a cabeça, desapontado.

Me encosto na parede, respiro fundo e aperto a xícara que está em minhas mãos.

- Ao menos tente não se atrasar na festa hoje à noite. - Gerald diz com rispidez ao se aproximar. - Parece que você é boa em ir para festas.

- Perdão, Gerald. Juro que essa é a última vez que algo assim acontece. - Digo, tomando um gole do capuccino. - Eu juro.

- Disse isso nas últimas três vezes.

Ele começa a caminhar, eu o acompanho.

- Linn ofereceu um contrato tão generoso que quase quis te matar quando percebi que você não chegaria a tempo na reunião. - Ele explica, os punhos cerrados, gesticulando impaciente. - Ter a oportunidade de ser uma cantora não cai do céu.

- Estou pensando sobre isso. - Coloco o pires e a xícara sobre um balcão de mármore perto da copa. - Sabe... Sobre ser cantora.

Hesito ao falar sobre esse assunto. Gerald está sendo como um pai cujo seu maior objetivo é me fazer alcançar o que já desejou um dia. Não falo sempre o que acho, já que ser modelo e atriz são suficientes para mim.

- Do que você está falando? - Pela forma que abriu a porta, percebo que sua raiva parece ter aumentado.

- Quase não consigo lidar com os meus trabalhos de modelo - Tento explicar de uma forma que ele não revire os olhos ou ache que estou dando desculpas. - São quatro agências, as vezes as sessões de fotos caem no mesmo dia, e quando isso não acontece, fico por horas no estúdio - Ao falar isso, me recordo de uma vez que quase desmaiei nos braços do ator que eu estava contracenando. Paramos por dez minutos, eles estavam com medo que eu não tivesse condições de continuar. - E pense só: não posso lançar qualquer música. Sabe que até no meu penteado eu preciso ter um significado, então não quero fazer algo apenas por fazer.

- Me parece uma desculpa bem elaborada. Se inspirou em algum texto? Ou está ensaiando há meses, por isso sempre se atrasada quando estamos prestes a fechar contrato com alguma gravadora?

É uma infeliz coincidência. Nunca parei para pensar no quanto parecia proposital.

Estamos ao lado do seu carro, onde ele entra e abre a janela para dizer algo antes de sair dali.

- Mais uma chance. Esta noite. Não se atrase.

As palavras saem de forma autoritária, eu me afasto para abrir caminho e me encosto em outro carro estacionado ali.

Mais uma chance. Esta noite. Não se atrase.

Gang • Madison and ZiggyOnde histórias criam vida. Descubra agora