- 44

153 21 3
                                    

- Zandhi 7 de outubro de 2011


Na noite em que fugi de Zandhi, aqueles dez dólares estavam sendo amassados por conta da força que eu colocava na mão fechada. Eu não conseguia relaxar. Tudo que sentia era raiva, ou talvez ódio. Não de Ziggy, mas sim da sua escolha. Eu a amava, me culpava por ter deixado a minha Ziggy para trás. Mas apenas Ziggy, e não aquela garota que estava num lugar esquisito com uma arma na cintura. Talvez aquela fosse a Ziggy de verdade, mas eu nunca soube ao certo.

Tive medo quando passei pela rua escura durante a madrugada. Não tinha bicicleta, skate ou patins. Eram apenas passos apressados enquanto os cachorros latiam. Tive vontade de desistir, mas então lembrei do que me fez chegar até ali. Foram anos vivendo de acordo com o que meus pais queriam, ouvindo sobre como eu deveria ser uma boa filha sem saber o que era ter bons pais. Viver carregando o peso de que eu não deveria ter nascido. Agora seria diferente se eu quisesse mudar. E eu queria, por isso fuji. Tive uma crise de choro enquanto caminhava até a rodoviária, eu me lembrava de cada palavra de Ziggy, as vezes em que ela se sentia triste quando tínhamos brigas idiotas, eu queria desesperadamente voltar para o meu quarto, ver Ziggy lá e escutar sua voz uma última vez. Só eu a Ziggy que conheci. Tive vontade de gritar quando lembrei da Ziggy com uma arma, aquela Ziggy tão diferente do que eu conhecia, aquela garota estranha com o rosto da minha namorada. Tive ainda mais medo quando um bêbado se aproximou de mim e começou a caminhar do meu lado, exalando um cheiro de cigarro e álcool, parecido com o da minha mãe. Eu gostaria que ele tivesse ido embora, mas ao invés disso ele continuou em silêncio andando de uma forma desajeitada, me acompanhando até a rodoviária.

Quando entreguei minha passagem, olhei para trás e vi um caminho sem volta. Foi uma das coisas que mais temi na vida, mas então entrei no ônibus. Não havia nuvens ou sinal de chuva, mas na minha mente tudo era nublado, as memórias eram como o papel na chuva, se dissolvendo enquanto eu tentava salvar.

Então o ônibus partiu. Eu me recostei na poltrona e olhei pela janela. Vi meu reflexo, uma perdedora que não conseguiu continuar sem fugir.

Gang • Madison and ZiggyOnde histórias criam vida. Descubra agora