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- Zandhi, 31 de julho de 2011 (capítulo 26)

(Ziggy Berman)

Quando desci, a sala estava escura, exceto pela luz que vinha da televisão. O homem que eu chamava de pai estava de frente para ela, sentado no sofá com uma garrafa de cerveja na mão e coberto com um lençol por causa da chuva repetina.

Eu não o via muitas vezes em casa, e já tinha me acostumado com isso. Mas, naquele dia, Cindy não estava ali. Ninguém estava ali. Me sentei na poltrona e fiquei olhando para a televisão, sem falar nada. Pelo menos eu sentia presença dele.

- Cindy fez a mesma coisa - Disse ele de repente, a voz meio confusa por estar bêbado. - Não tenho dinheiro. Não vou dar porra nenhuma a vocês.

Eu o encarei, mas ele desligou a televisão e levantou. Seu caminho foi feito até a geladeira, para pegar mais cerveja, é claro. Eu respirei fundo, levantei e fui até a escada para tentar deixar isso de lado.

Cindy descia no mesmo instante, viu que nosso pai não estava no sofá, e provavelmente achou que ele havia saído. Eu teria pensado o mesmo.

- Onde ele está? - Perguntou ela, sem me encarar.

- Na geladeira, como sempre. Pegando mais cerveja - Olhei para sua blusa nova. - Aliás, o que você pediu a ele? Por que essa sua merda não me rendeu nem cinco minutos ao lado dele.

- Não te interessa.

- Me conta. O que é tão importante?

Escutamos a porta se abrindo, Cindy se abaixou um pouco e viu que ele havia saído.

- Ele saiu - Diz ela cerrando os punhos e com raiva. - É culpa sua, não me deixou falar com ele.

- Foi mal, eu só...

Antes que eu pudesse terminar, ela me jogou da escada. Não era tão alto, mas foi dolorida.

- Sua maluca do caralho. - Grito.

- Ele foi embora. Isso é uma merda. É uma merda, Ziggy Berman, você só faz merda. Sua pirralha idiota do caralho.

Fiquei olhando para ela, a respiração acelerada. Tive vontade de chorar, mas não sei se foi da dor da queda ou pelas palavras de Cindy. Acho que os dois.

Me levanto em direção a saída, encaro a chuva mas não ligo para isso.

- Você vai embora? É igual ao nosso pai, Ziggy.

Depois dessa frase, saio de uma vez. A chuva idiota me deixa encharcada e eu sigo rumo a casa de Madison.

Não sou igual ao meu pai. Não fico embriagado para fugir das minhas responsabilidades. Não bato na minha esposa depois dela não conseguir fazer o que quero. Não ignoro minha família pelo simples fato de estar entendiado dela.

Chorei por conta das palavras de Cindy. É exatamente isso que ela acha de mim, só que não faz questão de esconder. Eu faço questão de esconder as lágrimas, então respiro fundo antes de chegar no gramado dos Russel. Encaro a janela do quarto de Madison, há uma luz fraca. Começo a jogar pequenas pedrinhas.

- Hey! - Gritei.

- Você enlouqueceu? - Perguntou.

Ela some por alguns segundos, e depois já está abrindo a porta da frente. Madison me puxa para dentro, subimos as escadas que tanto conheço e depois já estamos no seu quarto.

Me sentei num canto e tiro meu casaco, me encolho imediatamente, sinto frio e vontade de chorar. Ela coloca uma toalha em meus ombros e eu fico olhando para seu rosto. Percebi o quanto se importava comigo. Acho que a amo mais do que a mim mesma.

- Por que está aqui? - Perguntou - Hum? O que aconteceu?

- Não é nada - Respondi, apoiando a cabeça nos joelhos. - Acho que eu só queria te ver.

Não era mentira. Eu queria vê-la mais uma vez.

- É só por isso? - Ela apoia sua cabeça em meus joelhos, eu me concentro nos seus olhos castanhos, seus lábios, eu me concentro nela.

Assenti, mesmo um pouco desnorteada.

- Está bem - Sorriu, colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. - Se você diz, eu acredito.

Achei que ela iria me beijar naquele momento. Achei que finalmente beijaria minha melhor amiga. Mas talvez ela me ache idiota.

- Você me acha idiota? - Pergunto.

- Não. É claro que não te acho idiota. Quem te disse isso?

- Ninguém importante. - Levo minha mão até sua bochecha, há uma preocupação genuína vindo dela, mas não poso dizer que foi Cindy.

- Não te acho idiota. Eu te amo, entendeu?

Balancei a cabeça, concordando. Ouvir um "eu te amo" de Madison não é exatamente novidade, mas eu sinto o mesmo, o que deixa meus sentimentos mais intensos.

- Entendeu, Berman?

A seriedade das palavras não me assusta. Na verdade, parece confirmar o que ela sente.

- É estranho que você me chame assim. - Eu disse, provavelmente sorrindo feito idiota.

Madison se inclinou um pouco mais para frente, eu não desvio o olhar, meu coração acelerado.

Então ela me beija. É um beijo perfeito.

Sua mão de dirigiu até perto da minha nuca, ela fecha os olhos, mas eu continuo olhando para ela. Minha melhor amiga. Madison.

Encostei meu polegar em sua bochecha, finalmente fecho os olhos e me inclino devagar para trás. O beijo contínua, eu provei seus lábios macios. Suspiro, extasiada. Madison se afasta e fica me encarando, mas eu a beijo novamente. Estamos perto, mas ao mesmo tempo longe, então puxo ela até conseguir sentir seu corpo perto de mim, me aquecendo.

Acariciei suas costas, ela encosta sua cabeça em meu peito, eu sorrio comigo mesma.

- Achei que nunca faria isso. - sussurrei, ela sorri.

Gang • Madison and ZiggyOnde histórias criam vida. Descubra agora