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- Nova York 23 de novembro de 2017

Eu sabia o que fazer, só esperava que tudo acontecesse conforme o planejado.

Me vesti como se fosse uma adolescente fazendo piquenique no parque, mas isso não me incomodou. Eu estava à vontade, sentia que conseguia respirar.

Gerald organizou uma festa para o lançamento, e essa é uma das coisas que eu o admiro pra caramba. As vezes, acho que ele nasceu pra isso, já que organizar uma festa em uma semana é quase impossível, principalmente uma desse nível, um nível alto.

Subo no pequeno palco, e gosto quando percebo que ele quase se alinha ao público, então não é como se eu fosse a superior aqui. Sou recebida por aplausos e gritos de pessoas que já me conheciam por outros trabalhos. Sento no banco alto que pedi, coloco o microfone na minha altura e pego a guitarra ao meu lado.

Fecho os olhos, respiro fundo e então começo a melodia. Minhas mãos ficam trêmulas, meu coração acelera antes que eu comece a cantar. Sinto como se fosse vomitar, mas então lembro o que está em jogo aqui: Tudo.

Começo a cantar. A música parece fluir conforme cada palavra. Lembro de quando a ouvi pela primeira vez, e depois pedi para ela ficar repetindo várias vezes, assim eu poderia transcrever.

Por um momento esqueço onde estou, então volto para quando eu tinha quinze anos e estava no quarto da minha melhor amiga. É meio louco pensar que agora somos praticamente inimigas.

E mais louco ainda saber que a culpa é minha.

Ao chegar no refrão, me levanto e caminho em passos curtos e lentos pelo palco. A música acelera, parece que eu faço isso há décadas. Sorrio conforme a letra se desenrola, uma calma toma conta de mim.

Se eu e Ziggy não estivéssemos tentando nos matar, eu faria questão de perguntar para ela o significado dessa música.

Canto o último verso como um sussurro, agradeço à plateia e em seguida saio do palco. Gerald estava atrás, ele não parece insatisfeito, o que é alguma coisa.

- Você foi muito bem. - Ele diz.

- Foi apenas um improviso.

- E quando você vai lançar outra música, Madison? - Julian se posiciona ao lado de Gerald, cruza os braços e me encara. - O público sempre quer mais.

- Darei isso a eles.

Quando passo pelos dois rumo ao banheiro, posso perceber que há olhares dos dois sobre mim. Julian me trata com indiferença, da mesma forma que Gerald. Apenas uma vez eu gostaria que eles dois não fossem tão reservados nos elogios. Empurro a porta, encaro meu reflexo no espelho e agora parece que toda aquele minha energia e confiança se foram.

Agarro a borda da pia, sinto minhas unhas arranhando o mármore molhado, já não consigo mais me ver. Abaixo a cabeça, quase me debruço nos espaços entre as cubas.

Não sei se me sinto assim pela expectativa em ser elogiada, ou pelo fato de que eu estava apaixonada por Ziggy na época, e agora eu cantei para um público. Deixou de ser algo só nosso.

A porta se abre antes que eu possa evitar, tento me recompor, mas ao ouvir palmas altas e lentas, não faço questão de me virar. Ziggy fecha a porta, vejo pelo espelho que ela está se aproximando.

- Meus parabéns, Madison. - Ela diz com um tom de sarcasmo, mas ao mesmo tempo expressa ódio.

- O que você quer? - Pergunto, as unhas se chocam ainda mais contra o mármore.

- Estou te parabenizando - Ziggy chega bem perto de mim, ela estava com uma faca escondida na manga da blusa, mas a retira num instante e coloca no meu pescoço. Eu tento recuar, mas ela está atrás de mim. - É só isso.

- Eu vou te pagar, Ziggy. - A ponta da faca é pressionada ainda mais contra minha pele, eu engulo em seco.

- Ah, é... - Diz, sorrindo. - E por que ainda não fez isso?

- Porque queria ter certeza de que teria o dinheiro todo. - Olho para ela pelo espelho, a força que é colocada na faca pode acabar comigo num segundo. Não há como me defender, estou parecendo um animal indefeso.

- Você já tem. E sabe disso. Então, eu acho que a única explicação é que você ainda queria que eu te procurasse.

Odeio que ela esteja certa. Eu não consegui esquecer a Ziggy de uma hora para a outra, então minha única saída era torcer para que a dívida não fosse perdoada.

Vejo que agora o cabo da faca não está mais sendo segurado tão forte, então seguro seu braço e o giro. Corro para o lado oposto, e quando Ziggy vem atrás de mim, a lanço contra a pia.

- Sua filha da puta. - Ela diz, tirando o cabelo do rosto.

Odeio não ter percebido antes que Ziggy pegou a chave quando trancou o banheiro. Consigo ver o chaveiro balançando no bolso do seu terno, o que é tempo suficiente para que ela avance em mim.

- Você vai me matar, Ziggy? - Pergunto, e em seguida cuspo em seu rosto.

Tento colocar minha mão em seu bolso, mas ela pressiona minha cabeça contra a porta, eu me sinto cansada.

Ela segura meu cabelo tão forte que as vezes me pergunto se no hospital eu realmente poderia ter morrido caso o aperto continuasse. Dou um chute em suas costelas, ela recua um pouco e finalmente parece tão cansada quanto eu.

- Me dá a chave - Digo enquanto tento recuperar o ar. - Eu saio daqui e resolvo essa merda.

- Vai se foder. - Ziggy tira o terno, a blusa branca que estava por baixo está com sangue, e quanto ela tira algumas faixas, vejo que ali já havia um ferimento. Ela se levanta com dificuldade e vai até a pia, tentando lavar o local. Ela faz uma careta cada vez que sente mais dor.

Fico parada perto da porta, tento processar tudo que aconteceu, e então começo a sentir algo escorrendo pelo meu pescoço. Passo minha mão, é sangue, consequência da faca pressionada contra meu pescoço.

- Me dá a chave. - Digo mais uma vez.

Ela se vira, ainda não arrumou a faixa. Estou ajoelhada no chão, observo ela vir até aqui na esperança que me dê a chave, mas sou acertada com um soco,eu caio ali e me sinto tonta.

Essa sensação continua até que eu apague.

Gang • Madison and ZiggyOnde histórias criam vida. Descubra agora