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- Nova York, 13 de novembro de 2017

Calço o salto mais apertado possível, dou um nó forte na pulseira que estou usando, tento tirar todas as imperfeições existentes em mim. Então, ao fim de tudo, estou sentada no banco da limusine que Gerald contratou para a noite. Respiro fundo, aperto os olhos, engulo em seco, tento não chorar.

Sete anos atrás eu estava num banco de um carro durante a madrugada. A roupa ensopada, minha mala de pano servindo de algum consolo. Me recordo daquele dia toda vez que faço algo errado, e em seguida tento corrigir. Não, não tento. Eu corrijo. Preciso corrigir. Cravo minhas unhas no banco onde estou sentada. Gostaria de estar sentindo essa dor em minha perna, mas a fenda do vestido não permite.

Chegamos no prédio onde Julian mora, e também onde dá festas. Acho que não é o local indicado, mas é onde ele faz. É onde ele acha que é perfeito. O motorista abre a porta, eu agradeço. Gerald me espera lá na frente, parece satisfeito só me ver aqui quarenta minutos antes.

- Magnífica. - Diz ele, juntando as mãos.

- Onde Johnny está? - Pergunto, interessada em falar mais sobre ele e o noivo, do que sobre minha maquiagem talvez exagerada demais.

- Precisou fazer uma viagem - Responde Gerald, percebo que parece ofendido. - Mas está tudo bem. Não estou aqui para me divertir.

Está aqui por mim.

Preciso conseguir.

Ele estende o braço, faço um gesto de surpresa mas então aceito. Gerald tem mania de agir impulsivamente as vezes. Caminhamos até estar no elevador, onde outras duas pessoas estão. Nos cumprimentamos mesmo sem fazermos ideia de quem somos. É o básico de educação.

Quando eu tento, sempre tenho tudo que quero. Determino que quero fechar o contrato com a sunset, então vou conseguir. Sei disfarçar meu nervosismo desde o primeiro filme que fiz, então não deixo os outros notarem meu enjôo repentino, que é normal quando se está nervosa. O elevador abre, o que deveria ser a sala já está bastante cheio.

Uma grande mesa está à esquerda, ali contém petiscos caros. Dou uma olhada nos canapés, mas então lembro pelo motivo que estou aqui. Foco no que quero.

- Fique de olho - Gerald diz enquanto se desvencilha. - Feche o contrato. Me encontre bem ali. - Ele aponta para o andar superior da cobertura, onde há sofás e uma vista perfeita de todos.

- Está bem. - Confirmo sobre tudo. Vou fechar o contrato. Vou encontrá-lo no andar superior.

Ando pelo salão com a postura mais confiante que consigo. Não estou mais com a jaqueta, mas observo pessoas que estão usando. Olho para um deles, que passa por mim semelhante a um raio. Reviro os olhos, balanço a cabeça. Espero que alguém tenha captado minha expressão. Que me veja como uma arrogante.

Enquanto passava perto de uns corredores, acabo ouvindo sem querer uma conversa sobre Julian. Que ele estava em um dos quartos do andar superior. Vou até lá, ficarei esperando até que ele saia.

Não esbarro em ninguém enquanto ando apressada. Foi algo que aprendi a fazer com a vida. Não me ensinaram no estúdio de cinema ou tive uma mãe para isso. Subo as escadas, não olho para trás. A concentração de pessoas com jaqueta está bem aqui, eu faço uma careta, e me pergunto o que leva tantas pessoas a se vestirem como motoqueiros.

Acabo chegando lá em um momento talvez muito pessoal, quando ele está acompanhando uma moça para fora do quarto. Me vejo obrigada a parar ao lado de um dos "motoqueiros" , mas não tiro os olhos de Julian, que ainda conversa com a moça que está guiando.

As pessoas conversam lá em baixo, vejo crianças em uma festa sem graça, tento imaginar onde seus pais estão enquanto eles enchem suas calças com bolinhos de frutos do mar. Sorrio por um instante, penso na inocência infantil, o quanto elas se divertem e não precisam ficar olhando de soslaio o tempo inteiro para alguém que possivelmente vai fechar um contrato com você.

A sustentação do meu vestido aperta quando eu respiro. É suficiente para me despertar por completo. Olho para o lado, Julian sozinho, com uma taça na mão.

Vou caminhando de forma suave, pego uma taça e sorrio para o garçom. Julian, que se vira, me cumprimenta de forma educada.

- Vejo que é mais fácil chegar pontualmente em festas. - Ele brinca. Eu me ofendo, mas não há porque demonstrar.

- Peço perdão por mais cedo... - Digo calmamente, sorrindo. - Acho que as baladas de Nova York são uma loucura.

- Então gosta de festas. - Ele sorri.

- Sim. E imagino que saiba o motivo para que eu te procure.

- Se espera que eu feche um contrato com você sem a presença de meus companheiros de trabalho, e fora de uma reunião... - Julian caminha na minha frente. - Vai precisar me convencer. Vai precisar de verdade.

Respiro fundo. Afasto o pensamento de pular da sacada quando chegamos lá.

Olho para ele, estou determinada.

Gang • Madison and ZiggyOnde histórias criam vida. Descubra agora