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- Zandhi 5 de outubro de 2011

- Quando você vai contar pra ela? - Josh perguntou enquanto mexia o seu suco usando o canudo.

Me recostei na cadeira, e soltei o meu hambúrguer.

- Acho que no dia que eu for embora. Ela vai me ver saindo de Zandhi.

Josh olhou para mim, e depois para o meu hambúrguer mordido até a metade.

- Pega, Valentine. - Falei revirando os olhos.

A ideia de deixar Zandhi não parecia ruim. Mas deixar Ziggy? Isso sim parecia. No fim de semana, houve uma briga infernal na minha casa por causa do meu namoro com ela. Meus pais disseram que Nathan era um bom rapaz, que poderia me dar uma família respeitável, mas eu tinha repetido o erro de Hill City. Não liguei muito para isso, mas aí eles começaram a ofender Ziggy, a conversa foi virando uma briga e isso acabou me deixando desconfortável ali.

Uma passagem para Nova York não custava tão caro. O problema seria onde eu passaria tanto tempo assim. E, sozinha, seria bem mais fácil me arranjar.

- Você paga a conta? - Perguntei para Josh quando o vi limpando a boca.

- Hum, na verdade...

- Valeu. Obrigada. - Eu disse, e em seguida sai praticamente correndo da lanchonete.

Ziggy poderia vir comigo. É claro que poderia, desde que ela conseguisse pagar por suas coisas e me ajudasse a conhecer a cidade agitada.

Eu estava caminhando pela calçada estreita e cheia de lixo quando vi Ziggy encostada numa moto. Ela segurava várias notas de dinheiro, e tinha uma arma na cintura. Outras duas mulheres estavam ali, junto dela. As duas sorriam como aquelas amigas que se conhecem há anos, e Ziggy não estava diferente.

Pela primeira vez, vi uma tatuagem que ela tinha no ombro, e pelo vermelho que estava no local, deveria ser nova. Uma das mulheres coloca o cigarro entre os lábios, e Ziggy o acende com um isqueiro.

Fiquei imóvel, observando a cena tempo suficiente para tentar entender se era Ziggy, e isso deu tempo para que ela me visse. Seu olhar se dirigiu para mim, seu corpo assumiu uma postura menos despreocupada, e ela foi até mim, me puxando para o local apertado entre os dois prédios, que estava cheirando a cigarro.

- Que porra é essa, Ziggy? - Perguntei, não sabendo se olhava para ela, o dinheiro, a moto, ou as mulheres.

- Acho que preciso te contar uma coisa. - Ela abaixou a cabeça, fazendo um gesto para que as duas saíssem.

Quando estávamos sozinhas, ela voltou a me encarar, eu ainda esperava uma resposta.

- Então...? O que é isso? Desde quando você tem uma arma e tanto dinheiro?

- É difícil explicar, porque... Eu nem sei por onde começar essa merda.

- Pelo início. Sou toda ouvidos, Berman.

Cruzei os braços na altura no peito, me encostei na parede e fiquei esperando ela falar.

- Me prometa que não vai surtar, Madison.

- Eu não vou. Só quero respostas. Quem são essas pessoas? E por quê essa arma?

- Eu sou da gangue de Zandhi, ok? Mas, não surte, e nem conte para qualquer pessoa.

- Você o quê? Nem fudendo, Ziggy, você só tem dezessete anos, isso é piada.

- Não é piada, porra. Eu estou falando sério.

- Gangue, Ziggy? O que... Quem é você?

Um grupo de pessoas passou pela calçada, Ziggy e eu nos calamos, e só voltamos a falar depois que foram embora.

- Isso não muda quem eu sou.

- É claro que muda. Essa porra muda tudo. Eu... Eu acho que vou desmaiar, que merda tá acontecendo?

- Ei, não surta - Ela disse, me segurando pela cintura. - Eu te garanto que sou a mesma Ziggy que você conhece.

Não olhei para seu rosto, tudo que enxerguei foi o chão e as dúvidas cercando minha mente.

Talvez ela não fosse. Talvez, desde aquela época, eu deveria ter entendido que Ziggy mudaria depois de um tempo, ainda mais pelo fato de que já era de uma gangue.

- Eu preciso te contar algo - Disse, me soltando. Ziggy continuou me olhando, queria que eu continuasse. - Vou embora.

- Embora? O que? Como assim?

- É difícil explicar, mas eu comprei uma passagem. E vou sair daqui. Mas não quero te deixar.

- Que merda você está falando? - Ela aumentou o tom de voz. - Sair de Zandhi? Por quê?

- Eu não quero mais essa vida. Preciso que tudo seja diferente. Ou quase tudo - Olhei para ela. - Não quero que as coisas mudem entre nós.

- Não me diz que você realmente vai fazer isso.

Me virei para sair dali, ir embora. Mas falei algo antes de finalmente deixar o local.

- Eu vou. E quero de verdade que você vá comigo.

- Tenho uma vida aqui. Não posso deixar tudo para trás. Mas, se quiser, pode ficar.

- Eu não quero. - Eu disse, os punhos cerrados.

- Está bem, então vá - Ela disse isso de uma forma fria, não é igual a Ziggy que conheci. Aquela Ziggy que não suportava uma briga entre nós. - Se precisar de alguma coisa, pode falar comigo. Mas não me peça para ir junto.

- Se é isso que você realmente quer... - Eu comecei, mas fui interrompida.

- Eu quero.

- Então adeus, Ziggy. - Falei, e naquele momento, eu não tive mais coragem de olhar para ela.

Gang • Madison and ZiggyOnde histórias criam vida. Descubra agora