No momento, luzes neon rosas, roxas, verdes, azuis, laranjas e de toda e qualquer coloração que se possa imaginar saem de dentro da floresta, assim como em todas as noites igual a esta – costumam sair durante o dia também, mas, por conta da iluminação solar, ficam mais aparentes ao anoitecer.
A Lua, que se destaca em meio à escuridão, está tão iluminada quanto a luz de uma lanterna no breu, guiando pessoas perdidas ao seu novo – ou velho – rumo e clareando as noites daqueles que estão em um período escuro de suas vidas.
Em um dos galhos grossos e firmes da maior árvore da Floresta Evanora, Anne está sentada observando os castelos de Mahina e Aruna de longe – é claro –, por não poder se aproximar de nenhum dos dois, quem dirá de suas cidades.
O vento intenso vai em direção aos fios de cabelo dourados lisos da menina, que só não se sente desconfortável naquele lugar tão gelado por conta do moletom de crochê bege que vestira mais cedo.
Esta é uma noite como qualquer outra: assim que o sol se põe, os pássaros já não estão mais a piar e o silêncio passa a dominar o lar da garota, a possibilitando de escutar e apreciar o leve ruído causado pela água corrente cristalina do Lago Luzido, o qual tem uma de suas nascentes atrás de onde ela mora, Anne sobe até o topo da árvore que atravessa seu quarto, na parte onde não há telhado, e se acomoda na mesma, admirando a vista enquanto pensa sobre como sua vida seria se seus pais biológicos tivessem tomado uma única decisão diferente da que tomaram – se é que tomaram tal decisão.
Na escuridão de hoje, ela pensa no que deve ter feito de errado para que seus pais não a quisessem quando era pequena, principalmente levando em consideração que era um bebê quando tudo ocorreu. Não tinha nem mesmo um ano de vida. Não tinha como tomar decisões ou saber o que é certo ou errado.
Ela está ciente de que não deve pensar sobre isso, que não deve pensar sobre seus pais biológicos e que deve parar de imaginar como sua vida seria se ainda estivesse com seus pais de sangue. Se eles nunca tivessem a abandonado.
Entretanto, tais pensamentos a assombram há dezoito anos. Dezoito anos pensando sobre uma outra vida. Pouco mais, pouco menos que seis mil quinhentas e setenta noites fantasiando sobre como sua mãe é, se tem algum traço parecido aos de seu pai, se tem irmãos ou irmãs. Mas também está ciente de que nunca o saberá. Não saberá os motivos pelos quais fora deixada de lado. Não saberá se tem os olhos de seu pai ou os cabelos de sua mãe.
Nunca saberá nada sobre sua outra vida. A vida que nunca lhe pertenceu.
- Anne! - escuta a voz de sua mãe de consideração a chamar - Anne, venha cá! Seu pai e eu estamos apenas te esperando para testar este encantamento novo.
A garota desce da árvore, escorregando por entre seus galhos, e dá ligeiros passos até a sala de estar, onde encontra sua mãe com seus longos cabelos escuros presos em um coque que pode ser facilmente notado que fora feito naquela mesma hora para ajudar seu marido, e seu pai usando óculos com lentes que ampliam seus olhos castanhos demasiadamente.
Apoia uma de suas mãos e sua cabeça na porta, observando a cena de seu pai medindo certa quantidade de gotas para jogar em sua mais nova magia e sua mãe o mirando atentamente, tão empolgada quanto o homem para verem se o resultado será o que procuram ou se terão que continuar tentando com outro ingredientes para enfim chegar na tão esperada perfeição.
Vendo esta cena, Anne percebe que, independentemente de como sua vida seria se seus pais não a tivessem abandonado, ela não trocaria estes acontecimentos por nada, porque, caso contrário, não teria conhecido Pearl e Arthur, e não poderia os chamar de mãe e pai.
Adentra o salão e se sente mais aquecida, pela lareira atrás de seus pais estar acesa e – pelo visto – com bastante brasa. As chamas fazem com que as paredes bege com decorações de plantas ao redor se encontrem alaranjadas, por conta de seus reflexos.
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The Kingdoms
RomanceO Sol e a Lua. Mesmo que um apareça apenas na ausência do outro, eles continuam tendo uma conexão inabalável e inexplicável. Esta história é sobre um outro Sol e uma outra Lua. Astros os quais, ainda que tenham uma imensa conexão, acabam sendo separ...