Álix desperta-se ao amanhecer, quando alguns raios solares começam a adentrar a janela de seu quarto, indo assim, diretamente aos seus olhos, que se incomodam com a claridade repentina.
Assim que abre os olhos, o moreno tampa os mesmos utilizando as próprias mãos, mas logo as tira do rosto, ao se lembrar que deve se vestir para conhecer o rei e a rainha de Mahina.
O menino então, levanta-se da cama e vai diretamente ao banheiro, onde lava o rosto com água morna e, sem demora, adentra o chuveiro para banhar-se.
Deixa que um pouco de água caia sobre seu corpo e prontamente sai de dentro do box. Enxuga-se e abre o armário de seu novo quarto, onde, surpreendentemente, encontra roupas novas e em ótimo estado, apenas esperando para serem utilizadas.
Álix, portanto, coloca uma calça azul marinha e uma camisa social branca, deixando apenas um dos botões da mesma aberto. Calça sapatos pretos, que também encontrara guardados no closet e logo direciona-se à porta, abrindo a mesma e saindo do cômodo.
O garoto encontra seu caminho até o salão de jantar e abre a porta com insegurança, por estar receoso de interromper a refeição da família real de Mahina, e agradece quando avista apenas Diana sentada sobre a mesa.
- Olá - diz ele.
- Álix! - responde ela animada, após engolir um pedaço de pão - sente-se - aponta para um lugar da mesa e o garoto assim o faz, sentando-se em frente à ela - dormiu bem?
- Melhor impossível. A cama estava divina.
- Que bom - estica uma das mãos, agarrando uma faca - pode se servir. Sinta-se à vontade.
- Obrigado - abre um pequeno sorriso, estendendo uma das mãos para pegar a jarra cheia de leite e derramando um pouco do líquido dentro de seu copo - sua família já tomou o café da manhã?
- Ainda não. Costumo acordar mais cedo que eles e, pelo visto, você também. Mas, não se preocupe, tenho certeza de que já estão vindo - a princesa mal acaba de falar e seu irmão adentra o cômodo.
- Bom dia - diz Kristopher, sentando-se ao lado da menor.
- Bom dia - responde a menina - este é o Álix, o menino de quem papai havia nos contado.
O príncipe assente e, com um sorriso estampado em seu rosto, volta a falar - prazer, me chamo Kristopher - estende uma de suas mãos em direção ao menino, que a aperta, cumprimentando-o - se precisar de qualquer coisa, sinta-se à vontade para falar comigo.
O moreno assente com a cabeça e volta a prestar atenção no banquete a sua frente.
O rei de Mahina adentra o local com uma das mãos sobre a barriga e com o semblante aparentemente alegre, mas a energia que transmite logo se apaga ao avistar Álix sentado em seu lugar. Acaba deixando isso se transparecer demais, pois todos que estão ali presentes percebem a mudança de humor, inclusive o garoto novo, que mal conhece o rei.
- Está sentado no meu lugar - diz o mais velho, ao aproximar-se de Álix, o qual levanta-se da cadeira ligeiramente.
- Sinto muito, não era minha intenção.
- Não, meu filho - diz o rei, abrindo um largo sorriso divertido - estava apenas brincando com você para que achasse que sou bravo - bate levemente uma das mãos nas costas do menino - quem é rancorosa assim é minha esposa, não eu.
Um sorriso se abre no rosto do novato, que mira Diana e Kristopher com os cantos dos olhos - missão concluída.
- Mas agora estou falando sério - os dentes do mais novo já não estão mais aparentes ao notar que o rei arrasta a cadeira ao lado do garoto - este lugar é meu e a partir de amanhã quero voltar a sentar nele.
- Amanhã ele estará à sua disposição.
Thomas se senta ao lado de Álix e todos põem-se a conversar, até que a rainha de Mahina adentra a sala, deixando o clima tenso.
Dá largos passos até Kristopher, ficando por trás de seu filho e coloca ambas as mãos sobre os cabelos dele, ajeitando-os, e logo diz - como vai, meu bebê?
- Bom dia, mãe.
- Bom dia, meu amor - responde ela ao garoto e põe-se a caminhar novamente.
Jade passa por Diana sem ao menos mirá-la e senta-se no lugar vazio que está na ponta da mesa – seu lugar.
- Você deve ser o Álix, certo? - sugere a mais velha o mais meigamente o possível.
- Eu mesmo.
- É um prazer lhe conhecer. Sinta-se em casa conosco, está bem?
- Com todo o prazer.
- Não têm ideia do quanto ouvi falar sobre você. Estava muito ansiosa para sua chegada, se não melhor dizendo - apoia uma das mãos sobre a mão de seu marido - estávamos muito ansiosos para sua chegada e ficamos muito felizes quando recebemos a notícia de que você tinha aceitado o convite de passar um tempo conosco no palácio para ser o primeiro a contribuir com o nosso projeto de caridade, o qual andamos planejando há meses.
Os irmãos Astrid se encaram, apenas deixando que as mentiras de sua mãe fujam como a água.
- Diana havia dito que não esperavam pela minha chegada - murmura confuso, inclinando a cabeça para o lado.
A mais velha direciona o olhar furioso à menor e volta a fitar o moreno com o olhar amoroso - que bobinha ela, não? Me desculpe, ela estava apenas brincando. Não sabe quando é o momento certo para brincar e quando é necessário que leve as coisas a sério.
Todos direcionaram o olhar à mulher, surpresos com as palavras da mesma, até mesmo Álix.
- Diana não consegue distinguir quando algum assunto é sério e muitas vezes não consegue nem mesmo manter-se no lugar onde deve estar - é quando a princesa percebe que sua mãe não está a falar sobre o menino novo, e sim sobre a dança que tivera com Lucas no dia da coroação de seu irmão - parece que ela tem essa necessidade de aparecer a todo momento. E, por isso, peço desculpas em nome de todos nós por Diana. É um pouco complicado conviver com uma pessoa assim, eu sei. E, ao longo do tempo em que estiver vivendo conosco, você também verá, mas não precisa se preocupar, pois tudo o que precisamos fazer é colocá-la em seu devido lugar. Ela tem... - está prestes a continuar, porém, algo lhe chama a atenção.
Diana arrasta a cadeira em que está sentada para trás fortemente, fazendo assim, um barulho um tanto alto, que faz com que todos direcionem seus olhares à ela.
A menina se levanta do assento, encarando a rainha e deixando-o desarrumado, e fala - estou satisfeita - sai do local em ligeiros passos.
Todos ficam em silêncio, esperando por alguma reação da rainha, que apenas pega um pedaço de pão, cortando-o com as mãos, e diz, dando de ombros - eu falei. Essa menina sente necessidade em aparecer.
——☽——
Diana senta-se sobre seu balanço com algumas lágrimas ameaçando cair de seus olhos. Limpa-as, tentando fazer com que o choro não chegue a ficar aparente, mas não tem o resultado imediato que esperava.
Quando foi ignorada por sua própria mãe, se sentiu como uma decepção para a mais velha. Mas, fingiu que não percebeu essa atitude imatura da rainha, por saber que é comum coisas deste nível tão baixo vindo de Jade, por ela fazer estes truques psicológicos desde que Diana e Kristopher eram pequenos. Entretanto, a garota não conseguiu se segurar quando a rainha começou a humilhá-la em frente ao convidado de maneira que a menina parecesse ser egoísta e egocêntrica.
- Pequena? O que aconteceu? - pergunta Amanda, ao ver a garota de longe.
- O que faz aqui? - pergunta ela, ao ver a empregada se sentando ao seu lado no balanço.
- Eu acabei de voltar da lavanderia. Fui para a cidade buscar estas roupas que deixei lá ontem - mostra-lhe um cesto branco lotado de roupas que carrega consigo.
- Entendi - responde, limpando os olhos.
- O que aconteceu desta vez? É sobre o acordo de novo?
- Minha mãe resolveu me humilhar em frente ao Álix e está me ignorando por conta de quando dancei com Lucas na coroação do Kristopher.
- Por que ela te humilhou?
- Porque ela, assim como eu e meu irmão, descobriu sobre o projeto de caridade que meu pai havia planejado sozinho apenas ontem. Eu contei tudo isso ao Álix e ela começou a dizer que já estava planejando este projeto há meses e que eu inventei tudo aquilo apenas para aparecer e um milhão de coisas mais.
- Isso não se pode fazer com a minha piquetucha - resmunga a ruiva manhosa, puxando a princesa para um abraço de lado - posso te jurar que se Jade não fosse minha chefe, eu lhe diria poucas e boas. O jeito que aquela mulher estraga seu humor me incomoda muito.
- Está tudo bem, Amanda - a menina sorri com a fala da mais velha - não precisa se preocupar comigo. Acho que vou apenas ao meu quarto para descansar um pouco. Estou muito cansada do jantar de ontem à noite.
- Vai lá, pequena. Descanse bastante para voltar carregada com sua energia contagiante que você sabe que eu amo - Diana se levanta do balanço e dá alguns passos à frente.
Ao chegar no cômodo, joga-se sobre sua cama e pega alguns cobertores que estão sobre a ponta do colchão, colocando-as sobre si, cobrindo seu corpo desde os pés até a cabeça.
Fica assim durante um tempo, até que ouve alguns toques em sua porta e logo a mesma ser aberta e fechada.
A pessoa que entrou no quarto senta-se ao lado da menina, fazendo um pouco de pressão na cama, e puxa a coberta de cima da garota, que a segura fortemente, impedindo que seu rosto seja revelado.
- Independentemente de quem seja, não estou afim de conversar nem ver ninguém. Obrigada.
- Nem se for eu? - pergunta Kristopher e a menina abaixa o cobertor até sua cintura, direcionando seu olhar aos olhos esverdeados do menino.
- Para você eu posso pensar.
- E qual foi o resultado? Comigo você quer falar ou prefere que eu saia?
- Pode falar - o menino portanto, pega a mão de sua irmã e a puxa para cima, fazendo com que ela fique sentada - não posso me deitar enquanto você fala?
- O assunto é importante.
- Diga-me, o que você quer?
- Só vim para avisar que vamos almoçar fora.
- Eu sei, eu sei... precisamos ir?
- Presumo que a resposta seja "sim".
- Está falando sério? - resmunga ela - não quero dar uma volta de carruagem com eles.
- Não está feliz de encontrar nossos amigos? - um sorriso surge no rosto de Kristopher.
- "Amigos" - bufa - se eu pudesse, prensava Lucas contra a parede, pegava uma das adagas que papai tem em sua coleção e o rasgava por completo.
- Vejo que tem muito ódio acumulado dentro de si, por que isso?
- Você ainda pergunta? Aquela praga me puxou para dançar no baile da sua coroação e agora mamãe arranjou mais um, de seus milhares de motivos, para ficar sem falar comigo e me destratando, como ela sempre o faz.
- Você sabe que isso não é verdade - murmura o mais velho, direcionando o olhar aos olhos de sua irmã - é melhor trocar de roupa, ou prefere enfrentar mamãe?
- Se eu o fizesse, já poderia ser considerada morta a este ponto.
- Eu também - fala ele, acompanhado de um pequeno sorriso.
- Você sabe que isso não é verdade - murmura ela, direcionando o olhar aos olhos de seu irmão.
- E por que não seria? Esse é um assunto de muita importância tanto para mamãe quanto para o reino inteiro, mesmo que os cidadãos não saibam disso.
- Porque as coisas aqui são injustas - reclama a princesa.
- Está voltando ao tema da coroação, não está? - pergunta ele, demonstrando estar cansado do assunto.
- Não entendo por que está assim. Na verdade, até entendo. Está assim porque sabe que o que estou falando é verdade.
- Por favor, não comece com este tema de novo - diz ele, revirando os olhos.
- Não é não comece com este tema de novo. Isso é injusto.
- Não entendo o que o modo como nossos pais nos tratam, que diz você ser injusto, tem a ver com eu ter renunciado a coroa.
- Kristopher, tudo o que eu quero é justiça, porque sei que se fosse eu que tivesse feito o que você fez, eu seria praticamente condenada, enquanto você se livra das consequências sem ter que fazer o mínimo de esforço possível.
- Bom - o garoto levanta da cama, sem a mínima vontade de discutir - arrume-se para sairmos. Mamãe disse que em alguns minutos já temos que estar na carruagem.
- Não quero - reclama, manhosa.
- Mamãe ficará mais zangada com você do que ela já está - se aproxima da porta do cômodo.
- Não entendo isso, está vendo? - se refere à fala de seu irmão - você fez bem pior que eu e ela está mais brava comigo do que com você - resmunga emburrada, mexendo a cabeça negativamente.
- Do que está falando? - indaga o menino, largando a maçaneta e dando alguns passos em direção à menor.
- Não me leve a mal, não quero que ela fique brava com você. O que acontece é que dançar com o príncipe de Aruna não é tão grave quanto renunciar à coroa em frente a todos de Mahina e parte dos cidadãos de Aruna - fala confusa, procurando o sentido em estar furiosa com ela e não com seu irmão.
- Não entendo o porquê de estar falando sobre isso. Mamãe está brava com você porque você disse ao Álix que não sabíamos que ele viria ao palácio e que não fazíamos ideia de que iríamos fazer um projeto de caridade.
- Isso é o que você acha. Eu achava isso também, até que ela começou a falar de mim hoje na mesa. Ela está acumulando diversas coisas que faço e me tratando cada vez pior de acordo com o tempo.
- Pare de falar besteiras.
- Nada disso é besteira.
- Isso é tudo invenção da sua cabeça. Tente se distrair e perceberá que mamãe está tratando nós dois normalmente.
- Ela está, porque ela te tratar bem já é normal.
Kristopher deixa a porta entreaberta, deixando que apenas sua cabeça e parte de seu corpo fique à mostra, e diz - tenho saudades da época em que eu podia falar com você sem que nossas conversas acabassem em discussões - fecha a porta do cômodo antes que a mais nova possa se pronunciar.
Diana deita-se novamente sobre sua cama, jogando todo o peso de seu corpo sobre o colchão, pega a primeira almofada que consegue segurar e a leva até seu peitoral, abraçando a mesma e colocando sua cabeça sobre ela.
Ali, naquela posição, a princesa gostaria de permanecer até o amanhecer do dia seguinte, para que não precisasse encontrar com seu irmão por acidente, mas sabe que não pode o fazer, pois os Akira perceberão que ela não está no passeio que farão e notarão que há algo estranho acontecendo.
A menina, então, que fica realmente machucada pelas palavras de seu irmão, principalmente pela última frase dita por ele antes de deixá-la sozinha, resolve tentar melhorar seu comportamento e não se estressar tão facilmente, além de decidir não conversar mais com o mais velho sobre os comportamentos que sua mãe tem que a incomodam.
A princesa, portanto, levanta-se da cama e vai diretamente ao seu closet em busca de melhorar sua situação. Pega um vestido de coloração roxa clara que tem mangas curtas e veste-o. A vestimenta marca bem sua cintura e logo se abre na parte de baixo. O vestido é um tanto estufado na parte das pernas, pois há diversas camadas de seda no mesmo.
Diana agarra uma das tiaras de flores de seu guarda roupa e coloca-a sobre a cabeça. Esta é decorada com flores roxas, brancas e pequenas plantinhas verdes, dando detalhes às vestimentas usadas por ela.
A menina sai do quarto em rápidos passos para não atrasar a carruagem e, ao chegar no primeiro andar, encontra-se com Kristopher, que conversa com Álix enquanto esperam pelo resto da família real.
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The Kingdoms
RomansaO Sol e a Lua. Mesmo que um apareça apenas na ausência do outro, eles continuam tendo uma conexão inabalável e inexplicável. Esta história é sobre um outro Sol e uma outra Lua. Astros os quais, ainda que tenham uma imensa conexão, acabam sendo separ...