56- Uma Vez Evanora

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Gritaria, desespero, choro.

Os olhos de Anne se abrem confusos, farejando a confusão, procurando pela resposta das perguntas que sua mente cria sem que ela se dê conta do que acontece.

Aperta os olhos, cerra-os e os franze.

Há algo errado.

Névoa cinza nos arredores. Seus pais devem ter queimado algo na cozinha?

O cheiro de fumaça está incrivelmente forte.

Corre até o cômodo para se certificar de que está tudo bem e fica apenas mais confusa ao ver a cozinha vazia, o forno e o fogão desligados.

Há algo realmente errado.

- Mãe? - grita pelos corredores - pai?

Olha para as janelas, o sol está prestes a nascer.

Abre as entradas do palácio e coloca os pés descalços na grama do lado de fora, olhando ao redor.

Os brilhos de Evanora não estão tão aparentes quanto costumam estar. Quanto deveriam estar.

As luzes parecem queimar, assim como o ar, que está aparente, cinza.

Faíscas pulam de arbustos e plantas.

Anne continua andando procurando por algo, por alguém que a informe sobre o que está acontecendo.

As plantas sob seus pés a pinicam e queimam. Estão peculiarmente quentes.

Ao adentrar uma área mais densa da floresta, mais perto da população de seres mágicos, seus olhos se demoram em árvores queimadas, em cinzas.

Pisa numa poça e os olhos azuis caem ao chão.

Sangue.

Pisa numa poça de sangue.

Retira o pé ligeiramente e sente uma vontade absurda de vomitar, mas a engole, mantendo em mente que tem coisas importantes a fazer e que em primeiro lugar de sua lista de prioridades está descobrir o que houve, o que está havendo.

Seus pelos se arrepiam ao deparar-se com corpos de seres mitológicos, de seus conhecidos, caídos no chão lambuzados de sangue.

Está zonza.

Respira fumaça em excesso e as cenas ao redor fazem com que a fada se sinta num sonho, num pesadelo. Não pode ser real.

Dispara voo e para num ponto alto do céu, abaixando a cabeça para olhar para Evanora.

Há soldados, cavaleiros e homens armados com facas, adagas e maças afastando-se da Floresta Evanora.

Pelo visto, o dano fora feito.

Fogo percorre mais da metade de toda a área do reino, o devora por completo.

Há milhares de corpos mágicos espalhados pela grama, pelas plantações, pelas flores, árvores e próximos aos rios e lagos. Alguns estão boiando.

Há um nó na garganta de Anne, e ele apenas se intensifica quando a fada vai até o Lago Luzido e percebe que suas águas cristalinas foram tomadas por corante vinho. Sangue.

Os pés de Anne vacilam, levando-a alguns passos para trás. Apoia um dos braços numa árvore e se solta ligeiramente quando vê que sua mão agora está manchada de sangue.

Vomita.

Ao erguer a cabeça novamente, as cinzas se intensificam ao seu redor.

Sabe que deveria fazer algo, mas não consegue desvendar o que é esse algo que deve fazer.

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