The Kingdoms

15- O Azul Não é Tão Gelado

- Krystal! - a pequena bruxa escuta Nerissa gritar seu nome e tem a impressão de que a cada passo dado pela mais velha, a casa sofre o mesmo dano que sofreria caso um terremoto estivesse acontecendo.

A bruxa dos cabelos pretos abre os olhos lentamente e percebe que está sentada no chão da sala de estar com a cabeça apoiada sobre as mãos no sofá. Ergue a cabeça em direção ao balcão da cozinha e então avista sua irmã mais velha vindo rapidamente em sua direção.

- Que bagunça é essa? - a voz estridente de Nerissa soa por todo o local - já não bastava ter estragado meu grande dia, você não conseguiu ao menos dormir direito aqui? Tinha que quebrar todos esses galhos ao redor da cozinha e trazer folhas lá de fora?

- Não sei do que está falando - murmura a menor, tentando raciocinar as palavras de sua irmã. De repente, a cena que presenciou no dia anterior volta a sua mente e ela se lembra do acontecido. Mas não havia sido apenas um sonho lúcido?

- Não se faça de desentendida! Tudo o que quer é que mamãe e papai voltem de sua viagem e acreditem que eu não tenho capacidade de tomar conta de você sozinha!

- Não, Nerissa. Por que eu iria querer isso? - pergunta ainda sonolenta.

- Não me interessa o motivo. Mas você limpará tudo sozinha até meio dia!

- Por que até meio dia?

- Porque o rei e a rainha vão anunciar algo importante nesse horário e todos os cidadãos do reino devem estar presentes.

- Está bem. Sabe sobre o que se trata?

- Não me interessa - vira-se e vai ao quarto - agora - prossegue, antes de adentrar o cômodo - ajeite essas coisas.

Krystal bufa e aceita limpar os restos de árvore do chão.

Por incrível que pareça, Krystal se lembra exatamente do que ocorreu na noite anterior, as memórias passam a ficar tão frescas quanto um mergulho numa piscina em uma noite verão. Todavia, ainda que tente, não consegue explicar como aconteceu.

Será que aqueles raios saíram mesmo de si? Aqueles não eram poderes avançados que só bruxas mais velhas e que já passaram pelo ritual podem ter? – esses eram alguns dos pensamentos que rodeavam sua cabeça. O que mais irrita a menina é que, ainda que tenha lido milhares de livros sobre poderes e mágicas das bruxas, não sabe a resposta de simples perguntas quando mais precisa. Se é assim, de que adianta ler livros? Eles não deveriam trazer algum tipo de aprendizado?

——ꕥ——

- Beba um pouco deste suco de framboesa com amora que fiz hoje cedo, meu amor - diz Pearl, empurrando um grande copo cheio de um líquido roxo avermelhado em direção a Anne.

- Sabe que esse é meu sabor favorito - responde a loira, com um sorriso.

- Exatamente por esse motivo que o fiz. Colhi as frutas utilizadas para fazê-lo hoje mesmo, então está completamente fresco.

A meia fada dá um gole no suco e questiona - onde papai está?

- Arthur está se arrumando por conta da pequena palestra que terá que apresentar aos cidadãos.

- Sabe do que se trata? Ele anunciou que tinha que falar com os moradores há duas semanas, mas nunca mencionou a ninguém sobre o que se tratava. Todos estão tensos.

Antes de responder, Pearl solta um breve suspiro e agarra uma bandeja que se encontra sobre a mesa, levando-a até a pia - acredito que seja melhor esperarmos até a hora do discurso, não?

- Mas você sabe do que se trata? Porque eu não tenho a menor ideia.

- Eu sei, meu amor. Mas seu pai pediu que eu não contasse a ninguém, inclusive você. É um assunto delicado a se tratar e ele está planejando utilizar as palavras certas para que ninguém interprete de outras maneiras.