69- Quanto É Logo?

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Anne passara os últimos dias buscando mais informações a respeito de si mesma. A imagem apresentada a ela através da pulseira de sua certidão de nascimento despertou muitas dúvidas nela, justamente por não haver motivos coerentes para Diana ter acesso a um documento desse.

Todas as madrugas, quando Arthur e Pearl se retiram para seus quartos e Tiago adormece ao seu lado, a fada escapa de fininho e vai até o escritório dos pais, procurando papéis e documentos que tenham relações consigo mesma ou seu nome. Não fizera progresso por ora.

Se direciona às imensas prateleiras e mexe nas imensas estantes que ainda não tivera tempo de vasculhar e lê palavras chaves de cada uma das folhas em mãos, deduzindo os assuntos e passando para as próximas.

Após duas horas nesse mesmo processo, Anne suspira e se dá por vencida pelo cansaço. Decide que voltará na madrugada seguinte para seguir com sua busca.

Apoia as costas nas estantes e deixa o corpo escorregar por elas, caindo sentada no chão coberto de papéis e erguendo os joelhos próximos ao corpo. Deita a cabeça para trás e toma um susto ao ouvir o barulho de um frasco se estilhaçando. Sente uma gota cair em sua cabeça e observa outras verde neon pingando ao seu lado. Subitamente, alguns dos papéis no chão passam a ter novas formas e cores, novas escritas.

Os documentos estavam com o feitiço de transfiguração, nota ela. E a poção que acidentalmente despejara é a utilizada para que possa ver a verdadeira imagem deles.

Se levanta em um pulo e volta a ver os papéis que olhava antes, todos agora com uma nova aparência e informações diferentes.

Volta a analisá-los como antes, mal conseguindo conter sua ansiedade.

Quando joga outras folhas para os lados, depara-se com papéis nos quais seu nome parece ser o tópico principal. Os aproxima de seu rosto e os vê atentamente, em choque por conta das informações que adquire.

A porta do escritório é aberta e os semblantes relaxados de Pearl e Arthur ficam tensos ao se deparar com sua filha com aqueles documentos na mão.

A fada mal desvia o olhar das escrituras para saber quem lhe faz companhia.

- Sabiam sobre isso? - lágrimas invadem seus olhos, mas recusam-se a cair. O tópico de sua família biológica sempre fora complicado e delicado de se discutir com a princesa - sempre souberam quem são meus pais biológicos? - sua voz sai fraca, desvia o olhar entre o rei e a rainha, sentindo-se traída.

Arthur tem o olhar fixo nela, desesperado, as írises castanhas quase saltando das órbitas. Pearl, ao contrário, a olha com pena, deixando que a vergonha transpareça.

Não precisa de nada mais para ter uma resposta concreta.

- Anne, querida - o rei começa, mas para de súbito. Não há o que dizer.

- Fique calma, meu amor - Pearl fala, cautelosa - vamos conversar - vai até a fada e coloca as mãos sobre seus braços, começando a acariciá-la, mas ela se afasta.

- Marie e Andrew - a loira diz e dá alguns passos para trás, lançando um olhar acusador aqueles que lhe criaram - reis de Cila. Eles são meus pais.

- Nós somos seus pais, meu amor - Pearl fala, cautelosa. Ela e Arthur sabem muito bem o motivo de Anne não estar com aqueles que lhe trouxeram ao mundo.

- Meus pais verdadeiros - lágrimas e fúria transbordam de seus olhos - são eles?

Nunca pensara que o silêncio lhe daria tantas respostas.

A fada passa por eles em passos rápidos e vai até um dos quartos, pegando uma bolsa e colocando um cardigan dentro dela. Os reis se aproximam poucos segundos depois.

- O que está fazendo, meu amor? - indaga Arthur, observando-a andar de um lado para o outro pegando coisas espalhadas e as colocando na bolsa.

- Arrumando uma bolsa. Vou embora - mal olha para eles. Tenta disfarçar o choro.

O que a incomoda não é o fato de Marie e Andrew serem seus pais biológicos, mal os conhece. O que a perturba é o fato de Arthur e Pearl saberem sobre isso há tempos e nunca ao menos fazerem menção de contar-lhe a verdade, quando sempre souberam a importância desse assunto para ela.

- Para onde? - pergunta Pearl.

- Para minha família. Vou atrás dos meus pais.

- Vamos conversar, explicaremos tudo a você - Arthur diz.

- Não quero conversar - coloca mais coisas na bolsa.

- Nos escute - fala Pearl, começando a se desesperar.

- Não! - grita e olha para o rei e a rainha - eu tenho pais! Um pai e uma mãe! E eles estão vivos! - suspira e vocifera novamente - eu tenho uma irmã gêmea! Vocês sabiam sobre tudo isso, sabiam e o ocultaram de mim!

- Achávamos que era o melhor para você - fala Arthur.

- Tem uma imensa história por trás, meu amor - Pearl diz.

- Não me importo com nada disso. Estou indo embora - fala séria e coloca a alça da bolsa sobre o ombro, passando por eles.

- Não deixaremos que vá embora antes de darmos uma explicação - fala Arthur.

- Não estou pedindo permissão - a fada fala e sai do quarto, indo até o próprio e escrevendo um recadinho para Tiago. Apoia o papel sobre o seu lado da cama e acaricia os cabelos do rapaz, depositando um beijo em sua testa.

Com o toque, os olhos cansados do sátiro se abrem.

- Anne? - murmura.

- Volte a dormir. Está tudo bem - cochicha e beija seus lábios - voltarei logo, está bem? 

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