Demorou três horas para que Diana terminasse de arrumar todas as mesas sozinha. Após passar dois dias avaliando suas opções para no fim ser obrigada a escolher talheres, taças, copos, pratos e guardanapos específicos, teve de colocar os que foram escolhidos por Jade, que pouco se importou com as opiniões de sua filha.
Já está escuro, a lua está alta e é rodeada pelo dobro de estrelas do que o normal, pois Diana prendera luzinhas ao redor tão parecidas com as postas próximas à sua balança, que se destacam e iluminam todo o espaço aberto. Diana escolhera realizar a festança em ambiente aberto, em um dos campos pertencentes à Aruna, ao lado do palácio.
As famílias reais de Mahina, Aruna e Aisha se sentam às mesas. Todos menos a princesa de Mahina, que tem de receber todos os convidados e lhes dar direções até as mesas.
Após um longo período de tempo mantendo um sorriso intacto no rosto, Diana volta para o local da festa para inspecionar o lugar e ver se precisam de algo. Ao chegar lá, é puxada por sua mãe, que aperta seu braço como tantas vezes antes. Pelo menos dessa vez não pode agredi-la por estarem em público, pensa Diana.
- O que há de errado com você? - pergunta a rainha, irritada.
- O que aconteceu? - puxa o braço para si.
- O que aconteceu, Diana, é que não há comida! Não nos serviram sequer entradas.
- Resolverei isso agora.
Diana acelera até a cozinha e fica em choque ao receber a notícia de que os lotes encomendados por ela três dias atrás atolaram a caminho do reino e que não há nada para fazer para os convidados. Absolutamente nada.
A princesa, portanto, abre todos os armários e compartimentos procurando por literalmente qualquer coisa. Se dispõe a cozinhar o que tiver. Acha farinha e ovos e planeja fazer o que seja com isso. Bate com uma colher de pau e joga a massa na mesa, mexendo com as mãos numa tentativa de fazer como tantas vezes vira empregados o fazerem. Coloca a massa numa forma untada e acende o fogo. Tudo o que resta é esperar, ainda que não saiba a quantidade de tempo necessária.
Apoia o quadril na bancada e toma um breve suspiro, mas seu momento de paz logo se acaba quando escuta berros de sua mãe chamando seu nome. Quando a rainha adentra a cozinha, grita:
- Você é uma imprestável! Os convidados estão passando fome e agora frio também!
- Frio? - lava as mãos na pia e as seca com um pano de prato.
- Está chovendo! Todos saíram das mesas e estão indo embora.
- Vou arrumar alguma coisa para continuarem aqui.
- Vá pegar os talheres, arranje tendas para tampar as mesas! Faça algo útil. Os convidados estão passando fome há horas, agora, com frio, é mais que óbvio que iriam embora.
Diana dispara da cozinha para fora, correndo até as mesas ao sentir a chuva se intensificar. Ao chegar no retângulo reluzente sublinhado por mesas e luzes, nota que realmente não há mais ninguém presente e vê um fluxo de pessoas se direcionando aos portões.
Pega os instrumentos um a um e os leva para dentro do palácio. Se conseguisse, os levaria em maior quantidade, mas não aguenta o peso deles. Quando leva o último violoncelo e o deixa próximo às portas junto das baterias, dos violinos, violões, trompetes e outros como ele, a princesa está molhada dos pés à cabeça. O vestido tomara que caia bege amarelado com flores vermelhas e pretas que usa fica em um tom mais escurecido e seus cabelos caem em mechas ao redor de sua cabeça, mas pouco se importa.
Suas mãos voam ligeiramente ao próprio rosto quando ela suspira e se lembra da comida que deixara sobre o fogo. Ao correr até a cozinha, sente cheiro de queimado e sua visão é tampada por uma fumaça cinza escura, quase preta, que invade todo o cômodo e se dirige às escadas. Apaga o fogo e abana com as mãos, tossindo algumas vezes.
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The Kingdoms
RomanceO Sol e a Lua. Mesmo que um apareça apenas na ausência do outro, eles continuam tendo uma conexão inabalável e inexplicável. Esta história é sobre um outro Sol e uma outra Lua. Astros os quais, ainda que tenham uma imensa conexão, acabam sendo separ...