Capítulo 51 :

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A semana passou de maneira tranquila. Arthur me ofereceu uma sala um andar abaixo do seu e vinculou meu ramal de telefone diretamente ao da sua sala, o que para mim foi um gesto bastante pessoal e lisonjeiro. Ele sempre foi completamente rígido com quem falar e não permitia que nenhum dos outros telefones, além do da sua secretária, tivesse ligação direta com o dele.

Meu novo escritório era arejado e nem mesmo parecia ter ficado vazio durante alguns meses. Suspeitei de que Arthur havia passado todo o tempo em que fui sua secretária, dando ordens e procurando pessoas para organizar aquele espaço para se tornar útil. As paredes eram claras, em um tom pastel e uma delas à direita, havia uma textura toda de madeira com um belo quadro com cerca de um metro de largura com a paisagem de uma árvore de cerejeira muito bem detalhada pelo artista.

A mesa era branca assim como a cadeira de escritório e um vaso de tulipas cor de rosa. O monitor do computador era prateado e o teclado acompanhava o mesmo tom. Foi uma semana de descobertas, com algumas visitas de Arthur à minha sala para experimentarmos o novo sofá de couro branco posicionado logo abaixo do quadro decorativo.

Chegamos à mansão no final da tarde de uma quinta-feira de mãos dadas, demonstrando nossa intimidade. Daniela estava feliz com nosso namoro e Arthur sempre fazia questão de estar ao meu lado, me fazendo ficar cada vez mais dependente dele. Beth nos abordou logo no hall com uma expressão preocupada avisando que havia uma visita na sala de estar esperando por ele.

Carla: Eu vou deixá-lo ir até lá e subir para meu quarto. — disse a ele, mas Arthur não hesitou, apenas segurou minha mão com um pouco mais de força e me levou com ele de maneira decidida.

Chegamos à sala de estar e uma mulher de cabelo preto estava sentada no sofá segurando um lenço de pano branco contrastando com suas longas unhas pintadas de vinho. Era Carol, eu nunca mais esqueceria aquele rosto, o nariz fino e a expressão altiva. Involuntariamente apertei a mão de Arthur sabendo que o motivo daquela mulher estar ali seria motivo de alguma confusão. Talvez não física, mas emocional. O que ela veio fazer aqui? Tudo estava indo tão bem sem o fantasma dessa mulher para nos incomodar.

Daniela: Arthur, que bom que chegou. — Daniela olhou para o irmão e em seguida para mim como se seus olhos escuros expressassem compaixão — A Carol precisa falar urgentemente com você.

Arthur: Acho que não temos nada para conversar. — ele foi firme ainda segurando minha mão — Não há motivos para vir até minha casa, Caroline.

Carol: Eu fiquei sabendo que sua irmã estava namorando o dono da Galeria Dutra e a encontrei lá. Expliquei para ela que tinha algo importante para te dizer e Daniela me trouxe até aqui.

Ela falou e sua voz pareceu ainda mais irritante ao vivo. Carol levantou e retorceu o lenço em sua mão. Ela havia chorado, seus grandes olhos azuis agora avermelhados assim como seu nariz fino e arrebitado. Ela usava um elegante vestido verde claro que ia até os tornozelos.

Arthur: Eu já disse que não temos mais nada para conversar. — Arthur repetiu com um leve tom impaciente — Há algum tempo não temos mais nada e nem mesmo conversamos. Já dei um ponto final em tudo, Caroline.

Carol: Por que está com essa? — ela apontou para mim olhando com desdém — Espero que não tenham planos de se casar, porque tenho uma notícia importante para dar.

Arthur: Antes que fale qualquer coisa, pense bem antes de se referir à minha mulher da próxima vez.

Minha mulher. Aquelas duas palavras atingiram meu coração espalhando por ele um sentimento ainda mais intenso. Arthur estava realmente me assumindo, até mesmo diante de uma ex-namorada, defendendo-me com aquele jeito possessivo e autoritário.

Carol: Então vamos aproveitar que ela também está presente e contar a novidade. Eu estou grávida, Arthur.

Meus olhos se arregalaram no mesmo instante e olhei de Carol para Arthur ao meu lado. Senti que ele apertava ainda mais minha mão e seu rosto adquiriu uma palidez que eu nunca tinha visto. Sem esboçar nenhuma reação, ele continuou parado olhando fixamente quando comecei a sentir que sua respiração ficava descompassada. Aos poucos, parecia que a raiva ia ganhando o corpo dele e senti meu coração se comprimir. Grávida? Como assim essa mulher estava grávida?

Carol: Dois meses. Demorei a descobrir porque meu ciclo sempre foi um pouco irregular. — Ela explicou e se virou para a mesa de centro onde estava um envelope branco, mas antes que alcançasse este, Arthur a deteve.

Arthur: Saia da minha casa. — ele soltou minha mão e falou tentando manter seu autocontrole.

Carol: Arthur, não pode me expulsar. Sou mãe do seu filho.

Arthur: SAIA DESSA CASA AGORA, SUA VAGABUNDA!

A voz grave dele vibrou por toda a sala eu recuei dando um passo para trás tamanho o susto. Sua pele começou a adquirir um tom avermelhado e uma de suas veias começava a sobressair em sua garganta. Arthur definitivamente perdeu todo o controle e eu não conseguia entender o motivo. Estava expulsando a suposta mãe do seu filho. Mas por quê?

Carol: Não fale comigo desse jeito. — Carol se defendeu e pegou o envelope — Aqui está o exame que fiz, mas se quiser posso fazer outro na clínica que você escolher, mas não terá como fugir da responsabilidade.

Arthur: ESCUTE COM ATENÇÃO, CAROLINE: OU VOCÊ SAI DESSA CASA POR VONTADE PRÓPRIA, OU EU TE ARRASTO ATÉ O PORTÃO!

Carol: PARE DE NEGAR A REALIDADE E SEJA HOMEM SUFICIENTE PARA ARCAR COM AS RESPONSABILIDADES.

Arthur: EU NÃO TENHO NENHUMA MALDITA RESPONSABILIDADE! — ele gritava descontrolado, com a veia de seu pescoço pulsando, com a linguagem corporal de quem estava prestes a agredi-la.

Carol: VOCÊ É O PAI DESSA CRIANÇA, ARTHUR!

Arthur: EU NÃO SOU O PAI DE NINGUÉM! SAIA DA MINHA CASA, CAROLINE!

Carol: PARE DE SER HIPÓCRITA!

Arthur: VOCÊ É UMA VAGABUNDA MENTIROSA! ESSE FILHO NÃO PODE SER MEU!

Carol: ELE É! — ela avançou e tentou esmurrar o peito dele com as mãos fechadas — SEU CRETINO!

Arthur: SAI DE PERTO DE MIM, PORRA! — Arthur a segurou pelos braços e a afastou com um leve empurrão, me deixando completamente assustada.

Carol: VOCÊ É O PAI DO MEU FILHO!

Arthur: EU NÃO POSSO SER PAI! — sua voz explodiu alcançando o último volume – EU SOU ESTÉRIL, SUA VAGABUNDA!

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