Capítulo 93 :

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Na semana seguinte, eu estava no escritório arrumando minha mesa ao final do expediente me sentindo pronta para o final de semana. Havia passado quase dez dias desde que Daniela anunciou sua gravidez e agora havíamos combinado de sairmos para almoçar juntas no dia seguinte e olhar lojas com artigos de bebê.

Eu me sentia feliz em colaborar e tinha planos para jantar com Arthur. Juntei tudo sobre a mesa e organizei os relatórios em suas pastas, em seguida peguei a bolsa e subi até o andar da presidência. Olivia também recolhia suas coisas guardando em sua bolsa quando me aproximei.

Carla: Olá, Olivia! — eu a cumprimentei de maneira simpática — Arthur está no escritório?

Olívia: O Sr. Picoli saiu faz cerca de duas horas. — ela respondeu parecendo confusa, afinal, ele sempre me avisava ou mandava recados dizendo que não poderia ir para casa comigo quando aparecia algum compromisso.

Carla: Como assim ele saiu? Alguma reunião?

Olívia: Tudo que sei foi que a Srta. Andrade ligou e ele saiu em seguida apressado pedindo para desmarcar seus compromissos. — eu podia sentir o tom de desculpa em sua voz.

Carla: Ele deve ter tido uma emergência. — dei de ombros tentando não parecer irritada.

Olívia: Quer que eu ligue para solicitar o motorista? Eu pensei que o Sr. Picoli estivesse de volta logo já que não pediu para avisar que não iria para casa com você.

Carla: Está tudo bem, Olivia. Eu ligo para o Charles.

Olívia: Me sinto tão culpada. — ouvi seu suspiro — Acho que era para eu deixar avisado que ele saiu apressado e não deu previsão de retorno.

Carla: Não se lamente, não tem problema.

Saí tentando parecer tranquila, mas por dentro eu estava irritada e magoada. Como assim ele saiu com aquela mulher? Rapidamente veio à minha mente que Arthur já teve um caso com ela e que agora ele saíu apressado depois de uma ligação. Nem mesmo se deu ao trabalho de avisar a Charles para me buscar. Arthur sempre foi tão atencioso, preocupado, mas aparentemente a tal Sarah o perturbava.

Tentei pensar que poderia ser alguma reunião sobre o caso de Matheus, mas afastei a ideia já que o encontro poderia ser aqui na empresa e com a minha presença, afinal, eu era uma das partes mais interessadas. Com certeza Arthur queria aquele encontro longe das vistas de qualquer pessoa da empresa. Senti meu peito se comprimir diante da possibilidade dele estar me traindo.

Consegui ligar para Charles com as mãos trêmulas. Busquei um sofá de couro no térreo para me sentar repetindo o mantra em minha cabeça: Não posso chorar. Os minutos se passaram lentamente e eu batia meu pé de maneira impaciente até que vi o Mercedes preto com seus vidros escurecidos estacionar em frente ao prédio. Vi Charles sair do veículo e me lançar um olhar de solidariedade e desculpa, talvez por notar minha expressão triste ou por perceber o quanto Arthur pareceu descuidado dessa vez sem lhe deixar avisado como sempre fazia.

Charles: Direto para casa, Srta? — ele perguntou polidamente abrindo a porta do carro.

Carla: Por favor, Charles.

Afundei no banco macio de couro apoiando a cabeça no encosto e fechei os olhos torcendo para que o tráfego estivesse tranquilo e eu chegasse em casa em pouco tempo. Era difícil acreditar que depois de tudo Arthur tinha saído com outra. Tinha que haver uma explicação, mas se fosse assunto de negócios, por que não cuidariam daquilo no escritório? Por que ele saiu tão apressado? As perguntas martelavam em minha cabeça. Respirei fundo, eu não queria chorar, pelo menos não na frente de Charles. Será que eu estou dramatizando? Talvez ele apenas tinha saído para resolver algo importante, talvez a ligação de Sarah tivesse sido coincidência. Mas por que eu não conseguia me convencer?

Desci do carro e agradeci rapidamente a Charles que fez seu habitual aceno de cabeça. Meus saltos batiam no piso de mármore da entrada e eu subi direto as escadas. Procurei por Malu que tirava um cochilo no berço e me encaminhei para meu quarto. Não queria ir no quarto de Arthur. Lembrei-me do momento em que ele pediu para que eu levasse todas as minhas coisas para lá. Agora o quarto de hóspedes continuava bem arrumado, mas minhas roupas já não estavam mais ali.
Incapaz de ir para a cama que eu dividia com Arthur, me enrosquei nos lençóis que por pouco tempo foram onde eu descansava após um dia longo, sem a companhia de um Arthur até então indiferente. O que viria agora? Ele voltaria a ser esse homem?

Não sei quanto tempo se passou, mas já estava escuro quando ouvi o barulho da porta abrir sem nenhum tipo de suavidade. Pisquei com força me obrigando a abrir os olhos e me deparei com a figura alta de Arthur. Meu estômago se contraiu diante da imagem dele, sempre impecavelmente arrumado mesmo depois de um dia inteiro.

Arthur: O que faz aqui? — ele perguntou arqueando uma sobrancelha — Seu quarto agora é junto comigo, Carla.

Carla: Eu não me esqueci disso. — sentei na cama devagar.

Arthur: Temos que conversar. — devagar ele se sentou na beirada da cama e eu me preparei para suas próximas palavras — É um assunto sério.

Carla: Você estava com a Sarah, eu sei. — o interrompi.

Arthur: Olivia te contou? — foi mais uma afirmação que uma pergunta — Eu deveria ter dado ordens imediatamente para Charles te buscar na empresa e deixado você avisada para que não fosse me procurar em vão.

Carla: Você queria ficar em paz com sua consciência enquanto estava na cama com outra? — eu o acusei tentando me levantar da cama.

Arthur: O que está dizendo? — seu olhar parecia chocado.

Carla: Não foi isso que você veio falar para mim? Que cansou de bancar o homem apaixonado e quer voltar para sua vida de mulheres sem compromisso? — perguntei sufocando o nó em minha garganta.

Arthur: De onde tirou essas coisas, Carla?

Carla: Você saiu com a Sarah. — suspirei ainda sentindo a pressão dos dedos em volta do meu braço — Vocês já tiveram um caso, ela é uma mulher bonita. — fechei os olhos — Além do mais, se o encontro tivesse algo a ver com o caso de Matheus, eu teria que estar presente.

Arthur: Carla, não é nada disso que você está pensando.

Carla: Não quero ouvir desculpas ou explicações. — senti uma lágrima sufocada finalmente escorrer pela minha bochecha.

Arthur: Olhe para mim. — senti seu tom autoritário e hesitei antes de finalmente virar a cabeça — Eu me encontrei com a Sarah, mas foi algo estritamente profissional. — ele tocou meu queixo e em seguida secou minha bochecha com o polegar — Era sobre Matheus, sinto muito em não lhe chamar, mas foi um acerto inesperado que Sarah estava tentando há alguns dias. Eu queria que fosse uma surpresa.

Carla: Como assim um acerto? — inclinei minha cabeça um pouco para o lado.

Arthur: Venha comigo, quero lhe mostrar.

Devagar, eu me levantei e deixei que ele me guiasse pela mão para fora do quarto. Várias coisas passavam pela minha cabeça no momento, mas nada podia ser considerada uma possibilidade. Que tipo de acerto ele estava falando?

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