Capítulo 69 :

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Carla: Hoje em dia existe a fertilização em laboratório. Você pode ter um filho biológico, não pode?

Arthur: Eu tenho azoospermia, Carla. — seu tom de voz saiu gélido e seu olhar demonstrando que a confissão era algo ainda mais difícil do que falar sobre a esterilidade — Não produzo espermatozóides. Meu sêmen é apenas um líquido vazio.

A confissão ainda mais profunda me deixou em choque. Não que aquilo mudasse minha maneira de vê-lo, mas me fez entender muito mais os motivos que ele tinha para esconder seu problema com a esterilidade e porque se sentia tão inferior aos outros homens. Meu peito se encheu de compaixão vendo-o completamente arrasado em ter que me contar aquilo. Sem pensar em mais nada me joguei sobre seu corpo agarrando-o sem conseguir receber uma reação de imediato, mas segundos depois percebi que seu corpo tenso relaxava e os braços fortes me envolviam prendendo-me ao seu corpo.

Arthur: Uma hora eu ia precisar te contar isso. — a angústia era palpável e eu quase podia ver o nó em sua garganta — Não posso ter filhos biológicos. De nenhuma maneira. Talvez você queira repensar sobre nossa relação. — a última frase foi apenas um sussurro.

Eu não levantei minha cabeça, apenas fiquei deitada com o rosto na curva do seu pescoço consciente de que estava totalmente apaixonada por ele e era capaz de dividir toda sua angústia. Senti seu corpo tencionar novamente rapidamente diante do meu silêncio e levantei minha cabeça para olhá-lo nos olhos. O par de íris cor de amêndoas me olhava de maneira apreensiva e eu toquei seu rosto de maneira terna.

Carla: Não tenho nada para repensar. Minha decisão de ficar com você não mudou e realmente não me importo de não termos um filho biológico. Estou tocada pelo fato de você ter me contado algo tão pessoal e ter confiado em mim, mesmo que tenha deixado de mencionar isso quando conversamos pela primeira vez aqui no quarto. Para mim, você é especial, um homem admirável, com uma série de qualidades e com sua masculinidade intacta.

Arthur: Carla... — ele fez menção de me interromper, mas eu coloquei o dedo indicador sobre seus lábios para silenciá-lo.

Carla: Ser homem não é apenas poder engravidar uma mulher. Ser homem vai além disso. Um homem de verdade valoriza uma mulher, demonstra que se importa, lhe dá carinho e atenção, cuida de suas responsabilidades de maneira honesta e procura sempre ser alguém melhor. Meu ex-namorado me engravidou, mas em momento nenhum para mim ele foi um homem no sentido real da palavra. Um homem não abandona o próprio filho. Um homem de verdade cuida de uma criança mesmo que ela não tenha seu sangue.

Arthur: Eu amo você.

Paralisei achando que tinha ouvido algo errado. A voz dele ecoou na minha mente me fazendo acreditar que Arthur realmente tinha dito que me amava. Meu coração iniciou suas batidas aceleradas e eu fechei os olhos rapidamente absorvendo aquela verdade. Ele me amava. Uma onda de emoção me invadiu e eu senti que nada no mundo poderia estragar esse momento. Quando abri os olhos, eles estavam inundados de lágrimas e Arthur me olhava pálido, como se tivesse temendo uma rejeição ou em pânico por ter falado mais do que devia. Eu precisava dele, com todas as minhas forças e agora estava mais do que certa que meu sentimento era correspondido.

Carla: Oh, Thur... — voltei a me jogar sobre ele deixando que as lágrimas escorressem dos meus olhos sem permissão — Eu te amo tanto!

Comecei alguns soluços deixando as emoções daquele dia fluírem pelas minhas veias, deixando que meus olhos expelissem tudo em forma de lágrimas. Arthur despertava em mim um sentimento que eu achei que jamais fosse ser capaz de suportar tamanho sofrimento no passado. Uma de suas mãos pousou em minha cabeça e eu senti seu leve carinho com a ponta dos dedos enquanto eu molhava seu ombro com o rosto enterrado nele. Tudo estava melhorando, agora mais do que nunca eu precisava de Arthur comigo enquanto eu o apoiava para que conseguisse superar todo aquele trauma que havia guardado dentro de si.

Arthur: Não chore, por favor.

Ouvir a voz rouca dele me fez agarrá-lo com ainda mais força e mantive meu corpo grudado ao seu enquanto tentava me acalmar. Levantei o rosto enxugando as lágrimas com as costas dos dedos vendo sua expressão que era um misto de alívio e preocupação.

Carla: Estou chorando, mas de felicidade.

Arthur: Sei que o que eu disse foi de repente, mas não pense que foi apenas impulso. — Arthur se sentou e segurou meu rosto entre as mãos — Amo você e estava planejando dizer isso desde o nosso jantar quando te dei aquele anel.

Carla: Agora tenho certeza que sou a mulher mais feliz do mundo!

O beijo que veio em seguida foi calmo, como uma prova do que cada um sentia. Arthur se tornou a minha base, o homem que tomou conta do meu coração e que eu faria de tudo para que nada viesse a nos separar. Dormimos abraçados, agora com a certeza de que demos o primeiro passo para sermos felizes.

~~~~~~

A semana foi incrível. Minha relação com Arthur estava cada vez melhor e durante duas noites ele esteve no quarto de Malu conversando comigo enquanto eu a amamentava. Aos poucos ele ia criando um pouco mais de afeto por minha filha e tentando superar o problema de se sentir menos homem por conta de sua esterilidade.

Minha tia veio me visitar durante três dias aos quais a levei para conhecer os pontos turísticos do Rio de Janeiro. Como ela não gostava de sair durante a noite, quando Arthur chegava em casa ficávamos juntos enquanto ele me contava sobre o que aconteceu na empresa, sobre o trabalho que me esperava, ou fazíamos amor antes de adormecer em sua cama. Depois de nós dois termos confessado o amor que sentíamos um pelo outro, as demonstrações de carinho de Arthur eram ainda mais evidentes, mas sem perder sua personalidade de quem gostava de estar no comando.

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