Capítulo 29 - Parte Três

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Puxo a trouxa que me obrigam a arrastar, meus dedos cravarem-se com força no tecido grosseiro, atravessando-o para riscar marcas em minhas palmas recém-recuperadas da maior parte das cicatrizes feitas com o corte do vaso lançado em Samuel. Esse aperto é o que me impede de gritar com cada ser existente nesse planeta quando eu o lanço com toda a força para meu posto na ponta contrária. O baque seco se segue de um ruído inexplicável e exclamações. Meus passos ao dar a volta no muro me guiam para a cena que me aguarda.

Estou me apoiando em Chia, que parou ao meu lado, fitando um saco de areia rasgado por seis marcas retilíneas que posso definir como tendo sido feitas por minhas unhas.

Ruby me encara sem expressão, diferente do restante dos demais espectadores, que me miram com expressões distintas. Por fim, um sorriso de canto, muito pequeno, embora perceptível, nasce na face de nossa treinadora, que me dá um aceno leve depois de mandar todos os meus parceiros voltarem a fazer o exercício chato. Eu vou até ela.

— Não imaginava que fosse forte assim — ela diz, andando. Eu sigo ao seu lado, olhando para meus pés.

— Estou um pouco estressada — é minha resposta.

Mantenho minhas mãos fora de vista, atrás de minhas costas. Estou controlando minha respiração porque não quero perder o controle e começar a falar.

— São muitas informações em pouco tempo e isso desestabiliza seu controle — Ruby conta. — Você controla seus gestos e ações para não demonstrar, mas é mais forte do que...

— Não — corto-a. Paramos lado a lado. Estamos no espaço entre os dois grupos. — A adrenalina pode fazer qualquer um perder o controle e revelar uma força que não possui normalmente. Não é diferente comigo. É um mecanismo de defesa, nada mais que isso.

Ela me mede por uma pausa curta. Mais um sorriso nasce em seus lábios.

— Conseguiu se enganar com essa fala ensaiada por quanto tempo? — Abro a boca para responder. Não há nada que dizer. — Sem explicações, Nori. Vá para seu grupo.

Franzo os lábios, e passo a língua nos dentes, convencida de que não voltarei para este lugar tão cedo. Sou parada em meu segundo passo em direção ao grupo um, pelo toque de Ruby.

— Não, não — nega ela, apontando com uma das unhas curtas pintadas em vermelho para a praia e os corredores nela. — Eu disse para ir para o seu grupo.

Pisco com confusão, mas assinto e sigo suas ordens. Estou correndo naquela direção antes que ela veja o sorriso que brinca em meus lábios.

Acho que não vou ter tantos problemas em ficar aqui, afinal.


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