Capítulo 31 - Parte Dois

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— Acha que Penny está bem? — Murmuro, sem encontrar outra coisa a dizer.

Meus olhos vão para a linha da floresta, uma vertigem leve rodando minha cabeça. Um baque grave soa em meus ouvidos, numa sequência de sons de tambores batendo numa melodia pesada e contínua que me chama e me atrai para descobertas e mundos místicos.

— Ela está bem. — Afirma Chia, sem notar que estamos indo em direção às árvores. — Nori?

— Está ouvindo isso?

Os sons se intensificam, aumentando o ritmo, acelerando a canção sem palavras que ressoa em meus ouvidos.

— Ouvindo o quê? — Chia está perguntando. — Nori?

Estou caindo e Chia está me chamando. As notas param.

— Nori, o que houve?

Ela me fita com apreensão de minha posição na grama, meio deitada, a meros seis metros do muro verde. Minha visão está focada no corpo humano vultuoso que me encara com deboche. Em sua boca vermelho escorre, como se ele estivesse morrendo e não soubesse. Uma palavra se forma.

"Venha, venha".

— Nori, por favor, você está me assustando.

Olho para Chia, que me mira com os olhos arregalados tanto quanto os meus e volto-me para a floresta, mas não há mais nada para ver.

Estou ficando louca. Estou ficando louca.

Ergo-me do chão e vou puxando Chia, as mãos trêmulas e o corpo frio, cada micropartícula e célula minha convertida num bloco de gelo sólido.

— Nori, o que foi? — Exige minha amiga.

— Nada — pronuncio afinal, satisfeita por minha voz não tremer. — Achei que tinha visto algo lá dentro, mas não era nada.

— E por que essa reação?

Nego com a cabeça e solto um riso nervoso.

— Só estou conferindo os arredores, nada demais — é minha resposta.

Ela bufa, mas não continua o questionamento, aceitando quando a chamo para seguirmos nosso caminho. Lanço um último olhar para longe, mas não há nada em meio às árvores que não o profundo vazio.

— Meninas.

Viro-me para frente, vendo quando Sam surge, num dos corredores abaixo da escadaria que nos leva ao andar dos quartos, com expressão chocada e mãos inquietas.

— Venham comigo.

Os passos de Sam são ligeiros, mas os minutos que temos seguindo-a são o suficiente para eu controlar minhas emoções e vestir uma máscara daquilo que é minha normalidade. Suspiro com alívio.

Chegar à biblioteca não é surpresa. Seguir à sala interna onde encontrei Samuel e os outros adultos, também não. Minha perturbação é proveniente dos dois papéis que estão em cima da mesa de reuniões. Um é o papel-pergaminho que entreguei há alguns dias para Sam, que bem conheço e, pela coceira em minhas palmas, é reconhecido por meu corpo de igual modo. O outro é...

Arregalo os olhos.

— O que é isso? — Questiono, mesmo que não haja razão. Eu sei o que é.

Recolho o papel amarelado onde as palavras em um claro inglês parecem acenar para mim. Estão todas lá. Cinzas, juntar, vidas, vão estar, e outras que as acompanham.

Ela conseguiu. Sam conseguiu.

— Isto — contesta ela, com assombro deslumbrado — é a tradução do enigma.


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