— Acha que Penny está bem? — Murmuro, sem encontrar outra coisa a dizer.
Meus olhos vão para a linha da floresta, uma vertigem leve rodando minha cabeça. Um baque grave soa em meus ouvidos, numa sequência de sons de tambores batendo numa melodia pesada e contínua que me chama e me atrai para descobertas e mundos místicos.
— Ela está bem. — Afirma Chia, sem notar que estamos indo em direção às árvores. — Nori?
— Está ouvindo isso?
Os sons se intensificam, aumentando o ritmo, acelerando a canção sem palavras que ressoa em meus ouvidos.
— Ouvindo o quê? — Chia está perguntando. — Nori?
Estou caindo e Chia está me chamando. As notas param.
— Nori, o que houve?
Ela me fita com apreensão de minha posição na grama, meio deitada, a meros seis metros do muro verde. Minha visão está focada no corpo humano vultuoso que me encara com deboche. Em sua boca vermelho escorre, como se ele estivesse morrendo e não soubesse. Uma palavra se forma.
"Venha, venha".
— Nori, por favor, você está me assustando.
Olho para Chia, que me mira com os olhos arregalados tanto quanto os meus e volto-me para a floresta, mas não há mais nada para ver.
Estou ficando louca. Estou ficando louca.
Ergo-me do chão e vou puxando Chia, as mãos trêmulas e o corpo frio, cada micropartícula e célula minha convertida num bloco de gelo sólido.
— Nori, o que foi? — Exige minha amiga.
— Nada — pronuncio afinal, satisfeita por minha voz não tremer. — Achei que tinha visto algo lá dentro, mas não era nada.
— E por que essa reação?
Nego com a cabeça e solto um riso nervoso.
— Só estou conferindo os arredores, nada demais — é minha resposta.
Ela bufa, mas não continua o questionamento, aceitando quando a chamo para seguirmos nosso caminho. Lanço um último olhar para longe, mas não há nada em meio às árvores que não o profundo vazio.
— Meninas.
Viro-me para frente, vendo quando Sam surge, num dos corredores abaixo da escadaria que nos leva ao andar dos quartos, com expressão chocada e mãos inquietas.
— Venham comigo.
Os passos de Sam são ligeiros, mas os minutos que temos seguindo-a são o suficiente para eu controlar minhas emoções e vestir uma máscara daquilo que é minha normalidade. Suspiro com alívio.
Chegar à biblioteca não é surpresa. Seguir à sala interna onde encontrei Samuel e os outros adultos, também não. Minha perturbação é proveniente dos dois papéis que estão em cima da mesa de reuniões. Um é o papel-pergaminho que entreguei há alguns dias para Sam, que bem conheço e, pela coceira em minhas palmas, é reconhecido por meu corpo de igual modo. O outro é...
Arregalo os olhos.
— O que é isso? — Questiono, mesmo que não haja razão. Eu sei o que é.
Recolho o papel amarelado onde as palavras em um claro inglês parecem acenar para mim. Estão todas lá. Cinzas, juntar, vidas, vão estar, e outras que as acompanham.
Ela conseguiu. Sam conseguiu.
— Isto — contesta ela, com assombro deslumbrado — é a tradução do enigma.
****************************************
Não se esqueça de clicar na estrelinha!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Artefatos de Sangue
Paranormal"Eu nunca quis ser parte disso. Nunca quis fazer parte dessa guerra. Nunca quis ter que escolher um lado. Mas, por eles, e por mim, eu finalmente queria tentar". Embarque nessa aventura, afogue-se nessa história enigmática e envolva-se num mundo de...