Entre nós

Cap 9

Entramos no restaurante minutos antes das 20h. Sarah caminhava à minha frente, e antes de nos sentarmos, ela puxou a cadeira para mim ao seu lado. Às 20:15h, os representantes da Simon & Martin chegaram. Thomas Simon parecia um tradicional homem de negócios, vestido elegantemente de terno e gravata, ele cumprimentou Sarah com um abraço, e beijou minha mão como um verdadeiro cavalheiro.

— Um prazer conhecê-la, Marília. — Seu sotaque francês era charmoso, e sua voz era calma e suave. Sarah observava atentamente a nossa interação.

Adam Simon já parecia um pouco mais desligado, sua gravata estava torta, e minha vontade era arrumá-la para ele, porém preciso conter o meu perfeccionismo. Ele se aproximou de mim, e beijou o meu rosto, e fez o mesmo com a Sarah antes de se sentar.

— E Louise? — Sarah perguntou olhando diretamente para Thomas. Ele pareceu incomodado com a questão e respirou fundo.

— Ela não tem o menor compromisso com horários, Sarah, com sorte, ela talvez apareça antes das sobremesas. — Disse ele chamando o garçom e fazendo os pedidos.

Eu pedi ao universo mentalmente para que o jantar fosse agradável, já que segundo Ângela, em um jantar como esse, eu preciso provar qualquer coisa que vier à mesa, mesmo não gostando. Para deixar claro, eu não sou uma pessoa cheia de limitações, não é isso, eu como de tudo, porém não exatamente tudo.

As taças foram servidas com água, e um vinho branco. Sarah calmamente iniciava a reunião de forma leve, e eu procurava observá-la para saber como me comportar diante de tantas taças e talheres. Algumas bandejas prateadas foram servidas, e meus olhos foram imediatamente para o alimento posto ali, se é que posso chamar o famoso Escargot, de alimento. Sarah me olhou de relance e sorriu, os homens estavam tão submersos nos detalhes contratuais, que nem sequer olharam em minha direção, e agradeci por isso.

— Apenas prove, ok? — Sarah sussurrou com o nariz bem próximo ao meu pescoço me fazendo arrepiar inteira.

Tentei fingir costume, querendo sair correndo da mesa diretamente para algum fast-food. Ao meu lado, a senhora Miller tinha um sorriso lindo nos lábios, ela definitivamente deveria sorrir mais, mesmo que provavelmente seu sorriso seja consequência do meu desespero.

Minha chefe, assim como os demais, colocaram as conchas nos pratos com alicates, e eu não muito diferente, fiz o mesmo. Sarah pegou o alicate com a mão esquerda e prendeu o casulo ali, com o garfo de duas pontas na mão direita, ela retirou algo escuro colocando a carne na boca e comendo. O molho que ficou no casulo, foi colocado em uma colher e ela levou à boca com um pequeno pedaço de pão. Tudo bem, talvez eu possa fazer isso.

Tomei mais um gole da minha bebida e repeti o processo que prestei atenção minutos atrás, segurei firme o casulo com cuidado, e um pouco de paciência, retirei a carne de dentro, eu não podia pensar, se eu pensar por mais de um minuto eu tenho certeza que vou desistir, então rapidamente levei a boca. A textura era firme, lembrava carne, assim como o sabor que tinha um toque defumado e terroso. O caldo era bom, o sabor era de manteiga com ervas e limão, é, não é tão horrível assim. Sarah piscou para mim e voltou atenção à reunião, acredito fielmente que o pior já passou, ou pelo menos espero por isso.

Eu não tenho o que reclamar, apesar de ter sido obrigada a comer Escargot, confesso que o restante do jantar foi delicioso, e a sobremesa também. A reunião foi favorável para a empresa, sem contar que preciso ressaltar a habilidade da Sarah em negociação, em um momento em que parecia que não chegariam a lugar algum, ela deu a cartada final e renovou o contrato com sucesso, de uma forma em que todos os presentes saíram satisfeitos.

Após o jantar, nos sentamos do lado oposto em que estávamos, em uma mesinha mais reservada que ficava em um jardim florido. Os garçons serviram um delicioso licor, enquanto Thomas Simon conversava com Sarah sobre alguns detalhes finais do contrato, e nesse momento Adam se aproximou de mim.