Cap 8

2.1K 229 57
                                    

Os preparativos para a viagem me ajudaram a tirar o foco do meu desentendimento com a Paula. Claro que depois de um tempo, eu me dei conta de que surtei atoa, eu coloquei expectativas em uma relação que nunca existiu, pelo menos não da forma que eu queria que fosse. Ela nunca me prometeu a fidelidade existente de uma relação monogâmica, e mesmo assim aceitei, porém, não imaginei que duraria tão pouco quanto a minha paciência.

Julia estava na cozinha preparando o nosso café da manhã, enquanto me falava com empolgação que tinha entregado o apartamento em que morava de aluguel, indo morar com o Léo. Eu obviamente achava cedo demais, mas argumentar sobre isso era inviável, já que ela apenas fez, agindo com total impulsividade, o que era perfeitamente comum.

Cheguei do salão após fazer as unhas, e renovando o meu corte de cabelo, escovando-o. O meu voo era em algumas horas, eu estava finalizando minhas malas, separando as roupas que usaria em todos os compromissos, apesar de já estarem organizados por evento, o que facilitava absurdamente o processo.

Encarei minha agenda de capa de couro preta enquanto ouvia uma música calma vindo da sala, repassei os compromissos dos próximos dias, e suspirei nervosa. Talvez eu deva confessar que viajar de avião está longe de ser algo tranquilo para mim. Tudo bem, eu sei que viagens aéreas são mais seguras do que comparadas às de ônibus, ou carro por exemplo, mas nem com todas as estatísticas possíveis, eu sou capaz de me acalmar.

Vesti uma calça escura, com uma camisa de botões azul claro, coloquei um blazer preto e me olhei no espelho, eu realmente gostava do que via. Ouvi a buzina e peguei minhas coisas, conferindo pela vigésima vez que não esqueci de nada.

— Obrigada pela carona, você sempre salvando o meu dia. — Disse encarando Júlia que prontamente se ofereceu para me levar até o aeroporto para que eu não precisasse de um táxi, ou tivesse que pagar um absurdo para deixar o meu carro estacionado durante toda a viagem.

— Você está sexy, tem certeza que é uma viagem a trabalho? — Me perguntou e eu sorri sem respondê-la. Encarei a avenida com o trânsito fluido e calmo, o horário também estava colaborando para isso, o que me deixava aliviada, eu jamais poderia me atrasar, ainda mais em uma viagem com a minha chefe.

— Estou nervosa, não sei como me portar ao lado da Sarah. Tenho medo de deixar transparecer minha inexperiência com viagens executivas, ou acabar cometendo alguma gafe diante de algum cliente importante. — Júlia ainda com os olhos atentos ao trânsito, sorriu de canto e passou a mão nos cabelos como se estivesse analisando a minha fala.

— Você está sofrendo atoa, deixe as coisas acontecerem. Observe mais, e tente agir menos. Não tem erro. — Ela piscou para mim e desceu ao meu lado.

Fiz o procedimento padrão e despachei as malas, encarei o telão conferindo o número do voo e o destino, voo confirmado. Por algum motivo, não íamos no jatinho da Miller company, o que parecia uma boa ideia viajar com ela em um voo convencional. Meus olhos atentos procuravam pela autoritária e elegante senhora Miller, que obviamente não estava ali, a sua presença jamais passaria despercebida.

— Vou beber alguma coisa. — Júlia me observou e me acompanhou até um conhecido restaurante que tinha uma ótima carta de vinhos. Encarei o relógio pendurado na parede de tijolos vermelhos, e vi que poderia me sentar com calma, estou suficientemente adiantada. — Uma taça desse chileno. — Apontei para o cardápio e o garçom rapidamente se foi.

— E vocês? Não se falaram mais? — Neguei sem encara-la, eu ainda estava magoada e não queria pensar muito bem nisso, me sinto uma idiota todas as vezes que me lembro que eu aceitei, e depois dei um show quando percebi o que realmente significava ter um relacionamento aberto. — Ela não tentou te ligar?

Entre nós Onde histórias criam vida. Descubra agora