Entre nós

Cap 18

Júlia achou um absurdo eu abrir mão do que quer que eu tenha iniciado com Sarah pelo problema que tive com a Lorena. Mal sabe ela, que a questão é muito mais profunda, e que na verdade o que me impede de continuar com a Sarah, é ter consciência de que não posso ser a submissa que ela espera que eu seja. Obviamente que são detalhes que ela não precisa saber.

O relacionamento com a Paula estava de volta à normalidade. Na noite anterior, ela pediu e implorou por uma nova chance, deixando claro que não voltaria a agir daquela forma com a Sarah. Eu de verdade não sei por qual motivo ela implica tanto com minha proximidade com minha chefe. Ela já me viu com outras pessoas, e não agiu da mesma forma, não consigo entender o que se passa na cabeça dela, e talvez nem queira entender.

Minha amiga estava jogada no sofá enquanto me falava sobre o Léo, ela tinha feito pipoca pra gente, depois de acabar com o pote de sorvete motivada pelo luto após o final do relacionamento. E embora eu também estivesse sofrendo, eu tentava esconder de mim mesma, e fingir que nada estava acontecendo dentro de mim, como uma sujeira varrida para debaixo do tapete, com a intenção de esconder o máximo possível o que eu realmente sentia por ela.

Eu estava em uma reunião há algumas horas. Sarah e Ângela resolviam os trâmites jurídicos a serem levados a próxima viagem que aconteceria em poucos dias, e pendências urgentes que deveriam ser resolvidas ainda no primeiro dia de viagem para Bélgica e Luxemburgo. E eu corria com a agenda de confirmações de reuniões, roteiro, reservas e afins.

— Qual de nós duas vai te acompanhar a Bélgica? — Olhei para Ângela e encarei Sarah que pareceu não se importar com o questionamento dela.

— A Marília. — Trocamos olhares em uma provocação silenciosa, apertei a caneta entre os dedos, sendo monitorada pelo olhar curioso da minha chefe. — Preciso que esteja aqui, e participe da reunião de apresentação das novas peças de grife representando nossa empresa. — Ângela assentiu e continuamos a reunião.

Era impossível fugir da viagem, já que Ângela esteve presente nas duas últimas, e eu sei que ela provavelmente voltaria a trazer o assunto à tona. Júlia se divertia com o meu nervosismo enquanto tentava me ajudar, e eu já tinha desfeito a mala umas dez vezes enquanto decidia o que levar, além das roupas escolhidas por Shirley.

— Pra quem está decidida, você está nervosa demais. — Eu arremessei uma almofada em sua direção e a encarei. — Qual seu medo? Admitir que está apaixonadinha por sua chefe?

— Não estou apaixonada por ninguém. — Fechei a mala pela última vez e segui para o banho. — Me deixe em paz, garota!

Os dias passaram voando, chegando finalmente o momento em que tanto evitei pensar. Sarah estava elegantemente vestida, ela me cumprimentou formalmente, e seguimos para o interior de seu jatinho. Nos sentamos distantes, embora eu percebesse seu olhar a todo instante sobre mim como um doce desafio que eu tentava evitar, mas não podia esconder que adorava. Desembarcamos no entardecer, e fazia um frio absurdo, por sorte escolhi as roupas certas. Me afastei dela, indo na frente, e fazendo check-in. Sarah se aproximou de mim, pegou o cartão de acesso de seu quarto, e entrou ao meu lado no elevador. Eu percebia que ela queria conversar, embora era visível que estivesse esperando o momento certo para isso.

— Nosso primeiro compromisso? — Questionou-me olhando na direção oposta.

— Jantar com os representantes da Coimbra, às 20h. — Respondi e ela concordou em silêncio.

— Até mais tarde. — Disse saindo do elevador.

Eu arrumei minhas coisas, pedi um lanche rápido e abri o notebook para trabalhar. Paula me ligou e ficamos conversando por um tempo. Em todas as viagens ela demonstra seu desconforto com a situação, e essa viagem em específico não era diferente, embora eu ignorasse seus surtos desproporcionais. Tomei um banho quente, coloquei a calça, e o casaco grosso que a Shirley separou para a ocasião. Terminei de me arrumar, e rapidamente saí até o hall para esperar Sarah que não demorou a aparecer.