Cap 23

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A viagem foi extremamente proveitosa para mim, e embora eu precisasse trabalhar a distância, ainda assim foi suficiente para relaxar e descansar. E enquanto usei os meus dias para pôr a cabeça no lugar, minha querida amiga Júlia resolveu faxinar a casa toda, e agora não encontro mais nem um palito de fósforo. Eu a amo, só para deixar registrado, mesmo que nesse exato momento eu tenha xingado suas próximas dez gerações, após ter adoçado o meu café com sal.

Paula veio me ver assim que cheguei de viagem, ela estava mais carinhosa e atenciosa, não que ela não fosse antes, porém agora era de uma forma diferente. Entramos no restaurante de mãos dadas, fizemos os pedidos enquanto ela pedia para que eu falasse um pouco sobre como foram os meus dias fora da cidade.

Percebi ela um pouco mais próxima, já que em todas as vezes em que saímos juntas, qualquer pessoa diria que éramos apenas boas amigas aproveitando a companhia uma da outra. Mas hoje não, nesse exato momento ela está acariciando minha mão, sem se importar que as pessoas ao nosso redor estejam nos observando, sem contar que ela roubou um beijo enquanto esperávamos nossos pratos, me surpreendendo mais uma vez.

Meu corpo já não estava mais marcado, de outra forma eu não saberia como dizer para Paula o que houve quando ela visse minhas marcas ao me tocar, e pra ser sincera, eu não sei como vou administrar essa situação. Se por um lado sei que ao aceitar não tenho como fugir disso, por outro não sei bem como farei para que Paula entenda o meu envolvimento nada convencional com a Sarah.

Eu me sentia perdida em meus devaneios, e extremamente ansiosa para a reunião. Ângela percebeu minha tensão, me questionando várias vezes naquela manhã se estava tudo bem, é claro que eu não poderia dizer, mas a minha apreensão estava estampada na minha cara como um letreiro luminoso, como se eu fosse incapaz de esconder.

Sarah estava elegantemente vestida com seu habitual terno escuro, e scarpin de saltos finos. Nos falamos pouquíssimas vezes durante o dia, e todas elas de maneira completamente profissional, e a cada instante que passava, um frio na espinha me fazia arrepiar completamente, e o coração parecia saltar pela garganta a qualquer momento.

O telefone da minha mesa tocou e quase pulei de susto levando a mão ao peito.  Ângela sorriu e meneou a cabeça me vendo encarar o aparelho como se pudesse me dar choque. Olhei para o relógio, e pude confirmar que já estava quase no horário da nossa reunião, e sei que era exatamente para isso que Sarah ligava.

— Me espere na sala de reuniões, chego em um instante. — Disse encerrando a ligação em seguida, sem que eu tivesse tempo para raciocinar ou responder qualquer coisa.

Desliguei meu computador, me despedi da Ângela, peguei minhas coisas e fui para a sala de reuniões. Minha garganta estava seca e minhas mãos trêmulas. Eu já não tinha mais tanta certeza se eu realmente deveria ter essa conversa com ela, talvez eu estivesse sendo extremamente impulsiva, sem conseguir raciocinar calmamente, apenas envolvida pelo charme e sensualidade dessa sádica dos infernos.

Ela entrou, fechou a porta e sorriu de canto. Seus saltos faziam eco em contato com o piso laminado e brilhante daquele lugar, ela trazia uma pasta em mãos, e parecia estar bastante tranquila, diferentemente de mim que mal preguei os olhos lendo e estudando sobre o assunto antes da reunião.

— Espero que esteja pronta. — Iniciou, se sentando na ponta da mesa como de costume, me entregando um documento extenso com no mínimo cinco páginas frente e verso em formato de contrato, e uma caneta dourada, enquanto ela permanecia com uma cópia e uma caneta também. — Podemos começar ou você tem algo a dizer antes?

— Podemos sim. — Disse encarando-a se levantar trazendo uma garrafa de uísque para a mesa, servindo seu copo com a bebida, pedindo em seguida para que eu lesse o documento e a questionasse quando surgisse dúvidas.

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