Cap 48

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Eu estava me recuperando bem, embora estivesse adiando e inventando desculpas até criar coragem para visitar a Paula. Eu sentia necessidade de vê-la novamente, sei que posso estar sendo idiota depois de tudo o que ela fez, mas eu não consigo sentir ódio, apenas me sinto triste vendo que ela precisou chegar a um ponto crítico para perceber o quanto tudo isso era inaceitável. 

As coisas na Mazza estavam ótimas, e eu tão feliz com os resultados, que parecia mentira que essa empresa estivesse a ponto de decretar falência meses atrás. Eu liguei para Adam eufórica para falar sobre os negócios, e ficamos planejando os próximos passos daqui em diante. Ele estava convencido de que eu deveria abrir uma filial em Paris, porém ainda é algo a se pensar e um investimento que ainda não tenho.

Entrei no carro e ainda dentro do estacionamento encarei o volante. Eu já estive nesse mesmo lugar, e nesse mesmo ponto diversas vezes, e sem coragem de ir até o fim. Respirei fundo e liguei para a Sarah avisando a ela que estava indo ver a Paula de uma vez.

Depois de quase dez dias que tudo aconteceu naquela noite, eu ainda me lembrava como se estivesse revivendo novamente. Eu ainda podia sentir o cheiro de terra molhada pela chuva, podia ver os olhos brilhantes da Lorena e o seu sorriso vitorioso enquanto apontava uma arma em minha direção, convicta de que ia me matar a qualquer segundo. Lembro da minha boca seca e do coração batendo de forma ensurdecedora dentro do peito, me deixando tão nervosa a ponto de não sentir, ou não saber em qual momento ela conseguiu me atingir.

Abri a porta do carro e desci, me encostei na recepção e disse o nome completo da Paula, recebendo a notícia que ela já tinha conseguido alta pela manhã. Eu dirigi de volta até o meu apartamento, e entrei em casa. A luz do quarto da Júlia estava acesa, e ignorei entrando para o meu, e jogando a bolsa em cima da cama. Atendi uma breve ligação da Sarah que estava em Boston com a Angela, e quando estava desligando, vi a Júlia entrar branca feito um papel.

— Júlia? Está tudo bem? — Ela olhou para mim e esticou um teste de farmácia. — Duas linhas é positivo? Eu nunca fiz um teste de gravidez. — Tentei justificar.

— Sim. É positivo. — Disse se sentando ao meu lado na cama.

— Caralho, então... você está grávida? Eu vou ser tia? Eu sou tia! Meu Deus, eu sou tia, que emoção! — Eu me joguei nos braços dela, dando um abraço apertado, muito empolgada com a notícia. Eu a soltei e vi seus olhos marejados e contive minha empolgação respirando fundo. — Me desculpa, fiquei feliz e não pensei em como você estaria se sentindo. Você está bem?

Ela começou a chorar e eu levei as mãos até a boca me achando uma grande idiota por ter tido um surto de felicidade sabendo da gravidez. Era óbvio que ela não estava empolgada com a ideia, ela estava um pouco assustada, e com razão. Eu me aproximei e a abracei enquanto fazia um carinho em seus cabelos.

— Eu não sei qual vai ser a reação dele. — Disse em meio um suspiro, e pude ver seu medo sendo finalmente exposto. — Além do que a gente vive nessa ponte aérea, como vai ser isso?

— Eu acho que você precisa de um tempo para assimilar tudo. Não pense no Adam agora, faça um teste no laboratório pra ter certeza, e espere o seu tempo para comunicar a ele. — Disse, e ela sorriu nervosa.

— Ele chega em dois dias, como vou ter tempo suficiente para digerir? — Ela me olhava como se quisesse respostas, das quais eu realmente não tinha.

— Descansa amiga, amanhã é outro dia, e tudo vai dar certo. — Tentei acalma-la.

Depois de alguns dias de pesquisas, descobri que a Paula estava fazendo fisioterapia próximo da Mazza sempre no mesmo horário, e que depois ela seguia até uma cafeteria do bairro, e ali passava no mínimo uma hora inteira sozinha. Eu contornei os meus lábios com um batom aveludado e conferi os meus cabelos antes de descer, eu estava nervosa, mas certa de que já era hora.

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