Cap 36

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Foi mais uma noite de insônia para a conta. Encarei a janela e vi o dia amanhecer lentamente diante dos meus olhos, o meu corpo estava mais cansado do que estaria se eu tivesse passado a noite toda em uma balada. O relógio marcava exatas seis da manhã, e a lembrança da minha rotina pesava um pouco mais no meu péssimo humor. Me levantei e tomei um banho, vestindo uma calça de moletom com uma regata leve. Fiz ovos mexidos, uma salada de frutas e tirei o pão e alguns biscoitos do armário. Júlia apareceu quando eu estava adoçando o café, ela olhou para mim como se estivesse estranhando que eu já estivesse em pé tão cedo.

— Bom dia, dormiu bem essa noite? — Perguntou se sentando.

— Não. — Eu me sentei de frente para ela e coloquei café para mim. — Continuo com insônia.

— Você vai com a Lara para a empresa? — Eu neguei sem encará-la.

— Voltar aquele lugar, ver a Sabrina ali como se nada tivesse acontecido, encarar a Sarah de novo... — Soltei um suspiro cansado. — Por mais que seja tentador aparecer ao lado da Lara pra irritar a Sarah, psicologicamente isso não vai me fazer bem. Eu só quero que tudo isso acabe de uma vez.

— É, e acredito que sua presença pode dificultar a negociação. — Concluiu.

— Sim, pensei o mesmo. — Respondi pensativa. — E agora eu preciso encontrar um trabalho. Nem sei por onde começar a procurar, não faço ideia de como estão as entrevistas e exigências atualmente.

— O seu currículo por si só já é uma carta na manga, acho difícil você ter dificuldade para encontrar um novo trabalho. — Eu só queria ser otimista como a minha amiga, que acredita mais em mim do que eu mesma.

Eu estava arrumando as minhas roupas, tentando ocupar a mente e não ficar olhando o relógio a cada segundo que passava. Eu tinha certeza que a reunião já estava acontecendo, se é que já não acabou, e não sei se consigo esperar até o jantar para saber o que aconteceu, e como a Sarah reagiu a isso. Peguei meu notebook e liguei, minha caixa de e-mails da empresa continuava chegando mensagens normalmente, fiz uma limpeza minuciosa, e retirei todo e qualquer documento da Miller que ainda estivesse lá.

Depois de almoçar, eu organizei meu currículo enviando para algumas empresas que eu já conhecia, e para outras vagas que vi em alguns sites e afins. Eu sei que posso ter um pouco de dificuldade em arrumar algo próximo ao que eu tinha na Miller por dois motivos principais, o primeiro, é porque cargos como o que eu ocupava, eram cargos de confiança que dificilmente ficam vagos, e quando ficam, geralmente são ocupados por funcionários que já são daquele mesmo ambiente organizacional, e em segundo, as vagas mais prováveis são com salários bem abaixo, e na melhor das hipóteses, metade do que eu recebia na Miller.

— Chegou uma coisa pra você. — Júlia entrou no meu quarto me observando enquanto eu ainda estava concentrada no meu computador.

Me levantei e caminhei até a cozinha vendo o balcão com três buquês gigantes com flores de cores diferentes. Meu coração disparou só de pensar na possibilidade da Sarah ter reconsiderado e assumido seu erro. Eu peguei o cartão que estava no meio das flores, vendo que mais uma vez eu estava completamente enganada.

— Quem te mandou? — Júlia perguntou e se aproximou de mim.

— Paula. — Virei de costas para ela e voltei para o quarto. — É muita audácia, e ela ainda está me convidando para jantar.

— Pensei que ela já tivesse desistido de você. — Ela se sentou na beirada da minha cama me olhando. — Mas talvez só estivesse dando um tempo para você esquecer o que ela fez.

— Eu posso até perdoar um dia, mas não voltaria mais para ela, eu não consigo mais confiar, sabe? — Ela acenou afirmativamente.

— E a Sarah? Não te procurou mais? — Eu neguei afastando o notebook com um sorriso entristecido. 

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