Cap 22

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Deitada há horas na minha cama, eu tentava absorver toda a confusão a qual me submeti. Tudo parecia uma gigantesca bola de neve correndo a todo vapor em minha direção, como se o meu pé estivesse enterrado no gelo, me incapacitando de me mover. É isso, exatamente isso, eu estou completamente paralisada!

A Paula me ligou algumas vezes desde que cheguei em casa, e eu não pude atender nenhuma das vezes por não saber o que dizer, ou não ser capaz de encara-lá agora. Na verdade, tudo o que eu preciso, é de um tempo para mim, um tempo isolada de tudo e de todos.

Júlia me encarou com as mãos na cintura e a sobrancelha arqueada. Eu não podia explicar muito também, na verdade eu nem sabia como explicar o que eu estava sentindo ou pensando nesse momento.

— O que ela te fez? Você não ia chegar do nada e resolver viajar! — Ela queria explicações, e só nesse momento me lembrei do quanto eu valorizo morar sozinha.

— Eu estou confusa, preciso de um tempo longe de tudo, só isso. — Tentei resumir e ela pareceu acreditar previamente.

— Hum, tudo bem. Quando você volta? — Questionou, me ajudando a arrumar a pequena mala que eu fazia com coisas básicas para poucos dias.

— Vou ligar para a Sarah, afinal, ela é minha chefe e não posso abandonar o trabalho do nada. — Minha amiga assentiu e me seguiu até a porta de casa. — Te aviso.

Peguei um táxi e fui até o aeroporto, comprei uma passagem para o próximo voo disponível sem nem ao certo saber para onde eu estava indo. Sarah me ligou e estranhei a chamada do nada, exatamente no mesmo instante em que pensei em ligar para ela, uma grande coincidência.

— Mari, onde você está? — Perguntou como se soubesse que eu não estava em casa, o que não tem a menor possibilidade, isso pode ser só uma neurose minha.

— Estou indo viajar, preciso de um tempo. — Fiz uma pausa encarando a fila de outro voo se formar. — Eu ia te ligar para conversar sobre isso, queria uns dias para colocar a cabeça no lugar, eu posso ficar além do meu horário quando eu voltar, ou posso trabalhar de forma remota já que estou trazendo meu notebook, eu só preciso de um tempo. — Fechei os olhos procurando um pouco de calma, o que parecia impossível.

— Tudo bem. Você me mantém informada? — Pediu algo que eu não poderia negar.

— Sim, não se preocupe. — Respondi desligando em seguida.

Assim que desliguei, eu avisei a Paula sobre minha viagem de última hora, não entrei muito em detalhes, até porque ela foi totalmente compreensiva a esse respeito.

Eu fiz check in em um hotel que o taxista me indicou. Abri as janelas do quarto e respirei o ar puro daquela cidade praiana no final do dia. Liguei a televisão e deixei em um canal de músicas, qualquer coisa que desviasse minha atenção dos problemas me parecia bom.

Pedi uma garrafa de vinho para acompanhar um prato de espaguete atrativo do cardápio que pedi para o jantar. Liguei meu computador verificando como estava o e-mail corporativo. Tudo bem que era improvável ter algo urgente em pleno domingo à noite, mas vindo da senhora Miller nada é realmente impossível.

Tomei um banho e coloquei uma regata longa enquanto esperava meu pedido, me aproximei do enorme espelho e me analisei. Minhas coxas estavam marcadas, e por curiosidade subi um pouco a blusa. Meu corpo tinha marcas leves, como se eu tivesse caído e arranhado de alguma forma superficial em algumas áreas. Toquei tentando encontrar algum vestígio de dor, mas nada era tão relevante como eu imaginava.

O jantar foi entregue e me sentei para comer, enquanto tentava repassar mentalmente o que aconteceu no quarto negro de torturas. Eu engoli um pouco do meu macarrão olhando distraída para a TV, eu realmente não queria ter essa conversa agora com o meu consciente e subconsciente. Tomei um pouco de vinho e terminei o meu jantar rapidamente.

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