Entrei pelo estacionamento vendo que o SubMóvel continuava no mesmo local que eu deixei no dia anterior. Entrei no elevador e tentei controlar a minha respiração, encará-la não vai ser uma tarefa fácil. Quando o elevador parou no nosso andar, eu caminhei a passos lentos até sua sala. Sabrina e Angela trabalhavam dispersas, e eu pude ter a certeza de que Sarah já tinha se decidido.
— Bom dia, Sarah. — Disse entrando e sendo monitorada por seu olhar curioso. Ela deixou os papéis que segurava sobre sua mesa e levantou sem tirar os olhos de mim.
— Por que não me atendeu? Eu tentei falar com você a noite toda, fui até o seu apartamento...
— Vi que já se decidiu. — Respondi friamente retirando o blazer, vendo-a encarar meus seios. Caminhei até o sofá confortável me sentando. — É essa a sua escolha?
— Mari, vamos sair para jantar hoje, nós podemos chegar a um acordo. — Eu deixei um sorriso irônico escapar.
— Acordo? Por favor, Sarah! Não tem acordo algum. Ou você demite ela agora, ou você pode assinar a minha demissão. — Ela levou a mão na nuca encarando o chão como se fosse difícil demais tomar uma decisão.
— As coisas não funcionam assim, não pense que você tem o direito de me chantagear... — Eu sorri nervosa e me acomodei no sofá sem tirar os olhos dos seus. — Você está passando dos limites, já passou da hora de você controlar a brat que existe dentro de você.
— Chantagear? Quem você pensa que eu sou? Você me fez abrir mão do meu carro, me fez mergulhar num mundo novo para saciar o seu sadismo, para no final das contas me provar que eu sou apenas mais uma do seu harém? — Ela parecia ofendida, e continuei. — Fui tola, não nego, mas se tem alguma coisa boa que eu posso tirar dessa experiência, é ter conhecido o BDSM através das nossas sessões, devo muito a você por ter me apresentado esse mundo, que com ou sem você, agora fazem parte de quem eu sou.
— Nós temos um contrato... — Tentou argumentar acendendo um cigarro visivelmente nervosa.
— Não temos mais, Sarah. Essa conversa que estamos tendo aqui, diz respeito à cláusula de encerramento de contrato. Você queria uma reunião, não é? Aqui está! — Eu abri os braços irônica me levantando do sofá. — Todos os nossos contratos vigentes acabam aqui.
— Você está fazendo tempestade num copo d'água. — Ela apagou o cigarro que mal tinha tragado vindo em minha direção. — Eu não vou assinar a sua demissão. — Ela parou na minha frente e senti minhas pernas fraquejarem, ela me deixava nervosa, e nem toda mágoa que eu sentia mudava isso.
— Não preciso que assine nada, Sarah. — Dei um passo em sua direção encostando os lábios na sua orelha sentindo seu cheiro maravilhoso pela última vez. — Você não deveria se preocupar com tempestades quando um verdadeiro tornado está prestes a destruir tudo.
Eu peguei minha bolsa e saí engolindo o choro e a vergonha, passando por cima do meu próprio orgulho e fingindo que eu estava bem, quando por dentro eu estava um verdadeiro caos. Vesti o blazer no elevador, e assim que saí encarei o carro no estacionamento sentindo o meu sangue ferver nas veias. Parei em uma loja de construção e pedi duas latas de spray e um martelo. Na volta, vi um homem de aproximadamente cinquenta anos que mexia uma mistura de cimento com uma enxada na calçada do que eu julgava ser sua própria casa.
— O senhor poderia me vender um pouquinho dessa massa? — Ele me encarou confuso. O que uma mulher bem vestida, usando saltos e uma bolsa de grife queria com um pouco de cimento? — Poderia ser aquele baldinho ali. — Apontei para um pequeno balde de no máximo três litros que estava com água, e sem me perguntar nada, ele encheu o baldinho para mim.
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Entre nós
RomanceMarília é uma mulher que vive em um relacionamento aberto com a vocalista de uma banda de rock que só consegue olhar para a fama. Sarah, uma importante CEO da empresa em que Marília já trabalhava há algum tempo, uma mulher difícil porém encantadora...