Entre nós

Cap 20

Paula estava sentada à minha espera no restaurante escolhido por ela. Ela vestia uma calça de couro com sua habitual camisa de banda, seus cabelos loiros estavam presos no alto da cabeça, com alguns fios modelando seu rosto fino e delicado. Trocamos olhares silenciosos antes de me sentar, e notei uma garrafa de vinho já aberta na nossa mesa.

— Desculpe o atraso, fiquei presa em uma reunião. — Ela assentiu tranquila e tocou minha mão.

— Eu estou feliz que esteja aqui. — Iniciou me surpreendendo. — Eu fui muito babaca com você, tomada por um ciúme infantil, eu disse coisas absurdas na intenção de te ferir da mesma forma que eu estava machucada, me perdoa meu amor, isso não vai mais se repetir.

— Não gostei da sua atitude, não gostei da forma que falou comigo, ou da cena que fez diante da Sarah. Eu jamais faria isso com você, mesmo não concordando com quem você sai. — Ela estava calma, e parecia arrependida. — Não vou mais admitir que isso aconteça.

— Você tem toda razão, eu fui imatura ao extremo, mas amo você, me perdoe por isso. Eu me sinto envergonhada pelo que fiz. — Eu concordei e ela beijou minha mão com carinho. — E sobre a Sarah, será um assunto encerrado entre nós, isso só tem desgastado nossa relação, e nos afastado, não quero isso, eu quero você, eu quero ficar bem com você.

— Fico feliz que tenha repensado sobre isso, a situação estava insustentável.

O jantar foi especial, ela fez os pedidos, e me tratou de forma atenciosa e carinhosa durante toda a noite. Além de me pedir desculpas novamente por várias vezes seguidas. Ao sairmos do restaurante, decidimos passar em um barzinho antes de encerrar a noite.

— Eu tenho uma coisa para você. — Disse assim que parou o carro. — Esperei até o final do jantar porque tive medo que não me perdoasse, mas você é infinitamente melhor do que eu. — Ela me estendeu uma caixinha de camurça na cor preta, abrindo-a, e me mostrando um anel solitário dourado, de uma delicadeza impressionante. — Esse é o meu pedido de desculpas, espero que aceite, escolhi com muito cuidado, sei que vai ficar perfeito em você. — Ela colocou o anel no meu dedo e beijou minha mão em seguida, nos beijamos e descemos, entrando no bar.

Ficamos em uma mesa afastada, tomando bons drinks e petiscando. Paula me falava sobre a turnê que faria nos próximos meses, depois que um investidor de identidade confidencial resolveu aplicar seu dinheiro na banda. E não era pouco dinheiro não, aparentemente ele estava investindo não apenas nas viagens pelo país, mas também em todo o marketing e identidade visual da banda na intenção de alavancá-la nacionalmente.

— E como vocês encontraram esse investidor? — Questionei com curiosidade.

— Na verdade ele nos encontrou. Não sabemos quem é ainda, o contato dele foi apenas com Evandro. Na verdade, foi o advogado dele que entrou em contato com o Evandro. — Disse acariciando minha nuca.

— Mas como funciona isso? Ele investe na banda e o que ganha em troca? — Ela sorriu como se minha pergunta fosse óbvia.

— Porcentagem dos lucros das bilheterias das turnês. — Eu assenti e ela continuou. — Eu não entendo tanto assim, mas Evandro e o nosso advogado garantiu que é seguro e rentável para ambas as partes. E sendo assim, toda a banda esteve de acordo.

Antes da 1h da manhã, voltamos para casa. Tomamos banho juntas e transamos selando finalmente a paz na nossa conturbada relação, ou pelo menos era o que parecia. Minha mente vagava sobre a conversa com a Sarah, e sobre seus planos para nós no sábado, sem me deixar relaxar completamente.

Ouvi a campainha tocar no início da tarde de sábado, me levantei do sofá e fui atender. Eu estou ansiosa para saber aonde Sarah vai me levar. Peguei as caixas redondas de marfim já sabendo bem de onde vem, do ateliê da Shirley. Minha amiga saiu do quarto com uma toalha envolta dos cabelos e olhando com curiosidade para a caixa que eu sequer tive coragem de abrir.