1 - Zerar e recomeçar

72 6 0
                                    

         Parecia que nunca ia passar, a dor dilacerante no meu peito. Me tranquei na sala de karaokê, por ser a prova de sons. Chorei de soluçar. Abraçada aos joelhos.

        Eu tentei parecer forte, fria e indiferente. Mas não conseguia mais fingir que não me machuquei. No começo, quando ele tinha treze anos e queria apenas provar o meu sangue, era um menino inocente e curioso. Impulsivo e decidido. Mas sabia respeitar! No entanto, desde que me viu dançar e sua libido despertou, se tornou um devasso. Que entregava facilmente o corpo, mas nunca o seu coração. Nossas brincadeiras sobre ele ser um pervertido, piada interna do clã, se tornaram reais da pior forma. Ele dizia me querer. Mas sempre olhava para outras garotas. Tendo com elas, a intimidade que eu lhe negava. Buscava êxtase e prazer. Mas sempre se recusou a me dar amor. Eu pensei que o motivo era por não sermos destinados a ficar juntos. E por isso relevei. Abafei meus sentimentos por ele e me controlei para não ceder às suas investidas. Mesmo que tenha permitido que ele me desse um selinho. Por mais que isso me deixasse culpada. Por ele não ser o meu par ideal. Me magoei todas as vezes em que ele esteve com outras. E o fato de usar minha imagem para isso, só me causava humilhação, ofensa e dor. Descobrir que éramos laço vermelho um do outro, me destruiu! Como meu par ideal não conseguiu me amar e ainda se entregou para outras? Isso era imperdoável! A linha do tempo foi modificada. Mas o vô usou a ligação de Diego com o passado e o futuro, junto com sua manipulação mental, para transferir as lembranças para seu eu passado. Ele sabia! Sempre sabia. E me mostrou. Imagens que eu não gostei de ver. E não conseguia entender.

       Ele se dizia obcecado por mim. Que sentia desejo e não paixão. Queria meu corpo e não meu coração. Não se imaginava junto comigo pelos séculos vindouros. E não podia garantir que não ia querer outras. O que era óbvio. Ele teve outras. Mesmo pensando em mim. E isso não era comportamento de um laço vermelho. Eu não podia aceitar! Mesmo escondendo e me controlando, eu tive sentimentos por ele. E me senti culpada pensando em meu laço vermelho. Teria sido um alívio e uma ótima notícia, saber que ele era o meu ideal, se ele ainda fosse aquele garoto inocente e curioso. Mas que realmente não olhava para outras. Talvez não seja racional para algumas garotas. Que só se importam com o que acontece após se comprometerem um com o outro. E por isso, teriam relevado o que ele fez. Mas para mim, sendo uma mulher cristã, o que ele faz antes, também importa! Pois mostra bem o seu caráter e como pretende se comportar após o casamento. Homens não são brinquedos quebrados que as mulheres podem consertar. Eles só mudam se quiserem mudar. E se nem a mãe dele foi capaz de ser mais influente do que o pai, não era uma namorada que conseguiria.

         Ouvi batidas na porta e tentei enxugar o rosto o máximo que dava. Minha pele ficava vermelha com facilidade. Desvantagem de ser ruiva.

         Abri a porta e me deparei com o olhar preocupado de Diego. Meu irmão mais novo. Ele entrou na sala e eu voltei a trancar a porta.

          Sem dizer nada ele me abraçou e afagou o meu cabelo. Agora já era um rapaz. Mais alto que eu.

           _ Não aguento te ver desse jeito! _ ele disse.

           _ Não queria que ninguém me visse agora. _ confessei.

          _ Você sempre se preocupou tanto em proteger nosso clã. Mas guerras e inimigos não são as únicas coisas que podem nos machucar. Sendo tão romântica e sensível, seu coração é mais frágil. Sua mente é mais forte. E mesmo sabendo que você consegue superar e que seria melhor estar sozinha do que com ele, eu não consigo ficar parado. Se eu posso te proteger, eu vou! _ ele garantiu.

           _ Eu só preciso de um tempo. _ tentei amenizar. _ Ser freira não é ruim!

           _ Combina com você! Mas não é o seu destino! Não pode se enclausurar para fugir da dor. Os dons que nos foram concedidos devem ser usados quando necessário! Temos que ser gratos por eles.

Is It Love? CristinaOnde histórias criam vida. Descubra agora