04_ Vamos sentir saudades!

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Depois que Molly desapareceu, encarei aquele cenário novamente e, por um momento, me permiti sorrir. Era difícil acreditar que aquilo realmente estava acontecendo, na verdade, eu ainda acreditava que a qualquer hora eu iria acordar ou o efeito da maconha que a April colocou no meu pão passaria, mas... Torcia para que não.

Eu estava tendo a oportunidade de viver o que eu sempre lia nos livros! Isso era o meu sonho de consumo... Com certeza não quero acordar e me deparar com uma pia de louças sujas.

ㅡ O que vai fazer no verão, Ari? ㅡ Uma das meninas chamou minha atenção, me fazendo voltar a terra. Ela tinha cabelos cacheados curtos de cor preta, sua pele era negra e ela usava muitas pulseiras. Seu olhar era tão forte que me senti intimidada. Ela era muito bonita.

ㅡ Eu... Eu não sei. ㅡ Acredito ter sido a primeira vez que alguém me chamava por algum apelido que não fosse ofensivo.

ㅡ Por que não vai para Nova Iorque? Tira esse tempo para você. ㅡ A outra garota disse com um sorriso carinhoso. Essa tinha cabelos castanhos claros, quase loiros. Sua pele era branca e seu rosto e olhos bem redondos. Ela parecia uma boneca.

ㅡ Concordo. Você sempre quis ir para Nova Iorque. ㅡ A de cabelo cacheado voltou a falar e, como num estalo, o nome dela me veio a mente, como se eu já soubesse: Larissa.

ㅡ Ta certo que você usa todo o dinheiro que seu pai milhonario te dá para doar à instituições de caridade, mas acho que você merece. Quando o verão terminar, você vai se enfurnar na facul e não vai ter tempo para mais nada. ㅡ A outra voltou a falar e, como Larissa, seu nome também me veio a mente: Isabela.

ㅡ Isso é verdade. ㅡ Larissa concordou. ㅡ Você sempre quis ir. Imagina só se você entra para uma companhia de teatro? Ia ser muito bom, Ari.

ㅡ Eu acho que sim. ㅡ Sorri meio sem saber o que dizer. Droga! Eu odeio o fato de ter sido isolada na época da escola, agora não consigo nem dialogar com as pessoas. ㅡ Mas... Eu não sei. ㅡ Tentei continuar a falar, já que elas continuaram me encarando, parecendo esperar que eu dissesse mais alguma coisa. ㅡ Acho que é muito em cima para uma viagem assim, não?

ㅡ Ah, quando se tem dinheiro, nada disso é problema. ㅡ Larissa disse e as duas riram.

ㅡ Ai, eu vou sentir tanto a falta de vocês. ㅡ Isabela fez um bico.

ㅡ Você mora na minha rua. ㅡ Larissa a encarou e Isabela lhe deu um leve empurrão no ombro. ㅡ E a Isa mora aqui perto. Vamos nos formar, não morrer.

ㅡ Você é tão insensível. ㅡ Isabela cruzou os braços.

ㅡ Sem briga, é nosso último dia. ㅡ Falei, seguindo o conselho de Molly de tentar ser eu mesma.

ㅡ Pessoal? ㅡ Uma garota, de cabelos loiros de cachos perfeitos, se colocou a frente da turma com um sorriso. ㅡ Como é nosso último dia, podíamos fazer uma dinâmica. ㅡ Ela balançou uns post-its cor de rosa. ㅡ Inspirado no nosso carteiro anônimo, e eu não acredito que vamos nos formar sem saber quem é, vamos todos escrever recadinhos uns para os outros, para lembrarmos uns dos outros. Foram cinco anos juntos, poxa.

ㅡ É verdade, né? A gente vai se formar e não vamos descobrir quem é a pessoa que mandava cartas. ㅡ Um rapaz disse enquanto balançava a cabeça. Encolhi-me na cadeira.

ㅡ Se eu descobrir, vou perguntar o que ele tem contra mim. Por que nunca recebi? ㅡ Uma garota cruzou os braços.

ㅡ O carteiro só dá cartas para quem está triste. Quem manda você estar sempre com esse sorriso de coringa? ㅡ Um garoto, que estava perto dela a zoou, o que fez a garota lhe dar um tapa nas costas que fez um estalo enorme.

Sobrevivendo ao meu Clichê IOnde histórias criam vida. Descubra agora