55_ Presos?

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Faziam horas que eu estava tentando dormir, mas não conseguia. Já deviam ser quase quatro da manhã e eu não conseguia parar de encarar o teto do quarto. Mason estava dormindo feito pedra ao meu lado, mas desde suas últimas palavras, não consigo pensar em outra coisa. Não me lembro de já ter ouvido aquelas palavras alguma vez, por isso mexeu tanto comigo. Ouvir que ele me amava me fez sentir tão única no mundo... Pela primeira vez.

Eu sempre fui só mais uma garota, só mais uma estudante, só mais uma orfã, só mais uma pessoa entre bilhões de pessoas nesse mundo, mas, naquela noite, me senti única para alguém.

Eu continuei tentando dormir, mas não consegui, então voltei a sala e decidi ligar a televisão. Para o meu azar, a televisão estava no máximo, o que fez um estrondo soar pela casa inteira até que eu conseguisse diminuir o volume.

Quando finalmente consegui, olhei para o corredor. Respirei aliviada quando não ouvi um ruído sequer vindo dos quartos. Odiaria ter acordado Mason ou seu pai em plena manhã de Natal, bem, madrugada ainda.

Segui passando os canais, procurando algo que eu pudesse assistir, mas meus olhos se alarmaram quando vi aqueles rostos. Era um noticiário de Nyc que contava sobre a prisão de dois homens e seu chefe. O repórter explicava tudo o que eles estavam envolvidos, mas eu não consegui prestar atenção em nada. Me coloquei de pé sem nem perceber enquanto encarava aqueles rostos: os rostos dos homens que tentaram me pegar na terça-feira.

ㅡ Ari? ㅡ Me assustei quando Mason apareceu na sala com os olhos inchados de sono. Quando eu o encarei, ainda estava com os olhos arregalados, o que fez Mason me olhar assustado. ㅡ O que foi?

Ao se aproximar de mim, involuntariamente, ele olhou na direção da televisão. Mason também pareceu reconhecer os homens quando seu rosto se transformou numa pedra de ódio.

ㅡ Eu estava passando os canais quando... ㅡ Parei de falar.

ㅡ Quando eles foram presos?

ㅡ Ontem a noite, foram pegos perto do meu teatro. ㅡ Disse o que me lembrei do repórter ter explicado. Nós dois ficamos em silêncio e ouvimos a reportagem. Dizia que eles estavam sendo presos por tentativa de sequestro, que várias pessoas haviam testemunhado na arena onde Mason luta. Houve muitas descrições e isso ajudou a polícia a identificados. Quando os pegaram, deduraram quem era o seu chefe, o terceiro homem que estava com eles, esse já era acusado de muitas outras coisas, uma delas por lavar dinheiro através de um cassino em Las Vegas. Homem denominado Ernesto Mejanos.

Então... Aquele era o homem que queria me sequestrar? Que me queria como pagamento das dívidas do meu pai?

Senti um nó se formar na minha garganta e um nojo horrível ao observar aquele homem que devia ter o triplo da minha idade.

ㅡ Então... Acabou? ㅡ Olhei para Mason. Eu estava tentando não chorar, mas não conseguia evitar. Tudo aquilo tinha acabado?

ㅡ Eu não sei, eu não... ㅡ Mason passou a mão na cabeça, puxando os fios de seu cabelo escuro para trás. ㅡ Eu acho que preciso tentar contatar o seu pai.

ㅡ Mas, eles foram presos, certo? Acabou?

ㅡ Eu espero que sim, minha linda. Eu realmente... Espero que sim. ㅡ Mason me observou por uns segundos, mas logo depois me deixou a sós na sala.

Eu continuei olhando o jornal em silêncio, mas por dentro queria pular de alegria. Parte de mim dizia que eu não devia tomar nenhuma decisão precipitada, mas a parte otimista acreditava que tudo havia acabado. Eles estavam presos e agora, talvez, nós pudéssemos voltar ao normal. Odiava o fato de ter tirado Mason de sua vida, nem sei se ele perdeu alguma luta ou coisa do tipo.

Ruff... Hoje é o dia da minha peça. Hoje a noite. Seria esse um milagre de Natal?

Mason voltou a sala com o celular na altura da orelha. O mesmo parou ao meu lado no meio da sala e pareceu aguardar.

ㅡ Ah, meu Deus! Alô? Sr. McBride? ㅡ Meu coração acelerou novamente. Eu nem sabia se ele estava bem. ㅡ Sou eu, o Mason Ogden. O senhor... O senhor está bem? ㅡ Mason ficou em silêncio enquanto eu o olhava com curiosidade. ㅡ Eu sinto muito mesmo.

ㅡ O que foi??? ㅡ Não aguentei não perguntar.

ㅡ Eu vou passar o telefone para a Arizona, mas antes me diga uma coisa... Qual o nome do homem que estava ameaçando o senhor? ㅡ O silêncio torturante. ㅡ Ernesto Mejanos? ㅡ Mason perguntou. ㅡ O senhor viu a reportagem? Era ele? ㅡ Novamente o silêncio. ㅡ Então... Está tudo bem agora? Não temos mais que nos preocupar? ㅡ Pelo alívio no rosto de Mason, pude sentir qual foi a resposta. ㅡ Tudo bem, eu vou passar o telefone para ela.

Mason me entregou o celular e saiu da sala, como se quisesse me dar privacidade.

Peguei o aparelho, coloquei-o na altura do meu ouvido e me sentei no sofá.

ㅡ Pai?

ㅡ Arizona? ㅡ Senti que estava doente por sua voz. ㅡ Como é bom te ouvir.

ㅡ O que aconteceu? Te fizeram alguma coisa?

ㅡ Infelizmente, fui pego numa emboscada e me machucaram. Eu estou no hospital tem dois dias, mas não se preocupe que vou ficar bem. Isso... Isso é tudo culpa minha mesmo. ㅡ A dor e o arrependimento eram notórios em sua voz.

ㅡ Não fala assim...

ㅡ É a verdade. Eu quem coloquei a gente nessa situação. ㅡ Ele deu uma pausa para tossir. ㅡ Depois que sua mãe se foi, eu perdi o meu chão. Não tinha motivação para trabalhar nem nada. A empresa foi entrando num buraco. Voltei a beber e, quando vi, estava apostando o que nem tinha em cassinos. Naqueles momentos, eu queria fazer qualquer coisa que me fizesse parar de sentir a dor que a morte da sua mãe deixou em mim. Eu... ㅡ Ouvi-o chorar. ㅡ Eu fui fraco, Arizona. Eu não pensei na empresa, não pensei em mim e muito menos em você. Eu não pensei em nada, eu me deixei tomar pela dor que estava sentindo e me esqueci de ser um pai para você. Me esqueci que você também estava sofrendo com tudo isso e, ao invés de estar presente, fiquei mais ausente do que nunca. Me... Me desculpa, Arizona. ㅡ Ele desabou em choro. ㅡ Eu não espero que me perdoe, pois coloquei sua vida em risco. Eu... Nem gosto de imaginar o que teria acontecido se eles tivessem te... ㅡ A essa altura eu também já estava chorando. ㅡ Eu sinto muito por tudo isso, Arizona. Não mereço ser o seu pai.

ㅡ Eu nunca esperei que o senhor fosse perfeito. Perder Alguém é... Doloroso, ruim, torturante. Não tenho ideia de como o senhor deve ter se sentido ao perde-la. Ao perder o amor da sua vida. ㅡ Observei Mason na cozinha, imaginando como seria se eu o tivesse perdido, como meu pai perdeu minha mãe. É claro que uma coisa não justifica a outra, mas... As vezes é bom lembrar que todos erramos. ㅡ Eu sinto muito por tudo que passou, mas o que importa é que agora está tudo bem, certo? O homem não foi preso?

ㅡ Sim, eu vi a reportagem. Não tinha como não reconhecer aquele homem, com aquele olhar doentio. ㅡ Eu ainda estava triste, mas uma luz começava a brilhar dentro de mim ao saber que agora tudo ficaria bem. Acabei contando sobre as novidades ao meu pai, para distrai-lo de tudo aquilo. Falei sobre o teatro, sobre as audições que consegui passar, sobre o Mason e o nosso namoro, até rimos no meio da conversa. Foi algo bom, confortável, agradável. Quando terminamos a chamada, Mason voltou a sala com duas canecas com chocolate quente. Ele as colocou na mesa de centro e se sentou ao meu lado.

ㅡ E então? Você vai querer? ㅡ Ele me observou.

ㅡ Querer o que?

ㅡ Voltar para Nova Iorque. Acho que chegamos em tempo de você fazer a sua peça hoje a noite. ㅡ Um sorriso se abriu nos meus lábios no mesmo instante.

ㅡ Isso é sério??? ㅡ Quando Mason assentiu, tudo que eu fiz foi pular nele num abraço. Não podia acreditar que tudo estava voltando ao normal.

•••
Continua...

Está acabando em...

Sobrevivendo ao meu Clichê IOnde histórias criam vida. Descubra agora